Quanto vale um final impactante?
Divulgação: HBO
Em contraste com os saltos temporais dos episódios passados, "Driftmark" dá sequência imediata aos eventos de The Princess and the Queen, utilizando a morte de Laena Velaryion (Nanna Blondell) como um catalisador para reunir os personagens principais. Se We Light the Way demonstrou os perigos de um casamento em Westeros, aqui vemos os perigos de um funeral; e tal qual naquele episódio, temos uma construção hábil da tensão entre os diferentes núcleos, tensão essa agora agravada em face dos 10 anos que se passaram.
Todo o primeiro ato é uma aula de direção por parte de Miguel Sapochnik, que usa o espaço pós-funeral para criar um ambiente claustrofóbico onde as rivalidades e tensões podem explodir a qualquer momento, tudo isso com o mínimo de diálogo possível. Driftmark se beneficia da sua estrutura de “bottle episode” (por sua ambientação restrita ao castelo dos Velaryon e arredores) para se mostrar um episódio onde a narrativa é claramente mais focada do que nos episódios anteriores, nos quais os saltos temporais e a constante leva de informações e personagens às vezes poderia mais prejudicar do que ajudar o espectador. Isso permite uma relação de causa-consequência muito mais orgânica, como atesta a sequência principal do episódio, envolvendo Aemond (Leo Ashton) domando Vhagar e sua briga com os sobrinhos, que resulta na perda do seu olho após ser esfaqueado por Lucerys (Harvey Sadler).
A costura do roteiro permite que esse incidente tenha a dimensão devida, servindo talvez como a gota d’água definitiva para a separação entre as facções de Rhaenyra (Emma D’Arcy) e Alicent (Olivia Cooke). Se a cena em que Alicent tenta esfaquear a antiga amiga pode soar de início exagerada, ao menos é eficaz em mostrar o quanto Viserys (Paddy Considine) é um rei fraco ao não dar as punições devidas aos netos, filhos ou à esposa. Embora eu acho que o roteiro pese a mão em simbolizar a fraqueza do personagem através da sua deterioração física, ela é muito mais nítida aqui do que através da violência de Sor Criston (Fabien Frankel) no episódio 5, já que podemos ver a (falta de) consequências às ações de Alicent e das crianças e como a inércia de Viserys apenas piora a situação, ao mesmo tempo em que o fato de estar vivo é o único obstáculo para que a guerra de fato aconteça.
Da mesma forma, esse foco narrativo, aliado à excelência das atuações, é o que nos permite comprar o relacionamento de Rhaenyra com Daemon (Matt Smith). Tanto D’Arcy quanto Smith conseguem transmitir perfeitamente todo o desejo e cumplicidade dos personagens, que não foi alterado depois de uma década. E o final apenas solidifica esse (deliciosamente) problemático laço, dando inclusive novas dimensões a Rhaenyra, que aqui começa a abraçar de vez um lado mais sombrio de si que será mais e mais visto conforme a série avançar.
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Contudo, esse final também é onde o episódio escorrega. Ritmo tem sido um problema constante à House of the Dragon até aqui, especialmente por conta da sua escolha em avançar anos e anos na narrativa, mas parece haver um desejo constante por finais impactantes e marcados por plot twists ou uma certa grandeza, que vem ao custo de uma completa discrepância em relação ao que foi apresentado nos 50 minutos anteriores. Essa sensação foi particularmente evidente no episódio passado, mas era mais reflexo do salto temporal e do espaço negado a personagens como Laena e Harwin (Ryan Corr) na narrativa. Aqui tudo parece muito corrido, desde o plano articulado por Rhaenyra com Daemon e a revelação envolvendo Laenor (John McMillan) – que ganha um destino diferente dos livros, o que não é um problema em si, mas que também soa “solto” diante do mostrado nos personagens anteriores. É uma falha nítida demais num episódio que até então vinha mostrando um controle sobre seu ritmo que faltou a alguns dos anteriores.
Apesar disso, porém, Driftmark representa um ponto de virada definitivo para a trama de House of the Dragon, definindo os jogadores principais de cada lado: Rhaenyra e Daemon contra Alicent, Otto, Larys e Criston. Mesmo carregando alguns dos problemas maiores que vêm acometendo a temporada, também se sobressai ao evitar outros erros, mostrando que, em meio às rivalidades, falhas de caráter e traições, o conflito desenhado para a Casa Targaryen promete ser épico e trágico.
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