Sobre a esperança e heróis e heroínas anônimos
Divulgação: Disney+
“Rebeliões são formadas pela esperança”. Pronunciada em Rogue One, essa frase se tornou um mote para a Aliança Rebelde, mas ganha outros contornos depois desse último episódio de Andor. Com toda a tensão acumulada dos episódios anteriores, era inevitável vermos aqui a fuga da prisão de Narkina-5 que vinha sendo delineada desde o momento em que Cassian foi posto nela. Mas mesmo com essa expectativa, é justo dizer que One Way Out as transcende, entregando algumas das sequências mais memoráveis de Star Wars até agora.
Embora o episódio dê espaço aos outros núcleos (e falarei deles abaixo), o foco reside em toda a articulação para o escape da prisão, que não vem sem a tensão e as mortes esperadas. Ainda vemos um pouco de hesitação em Kino Loy (Andy Serkis), mas ela logo é dissipada e o roteiro sabiamente lhe confere a liderança da fuga, embora vejamos como Cassian o motiva e assume a frente onde preciso. A sinergia de Diego Luna e Serkis foi um dos melhores presentes que poderíamos receber nessa segunda metade da temporada, e o ator britânico rouba a cena a cada instante, especialmente no seu emocionante discurso que inflama todos os presos, bem como na sua dolorosa cena final. Mesmo que esta seja a última oportunidade de vermos Serkis na série, sua performance foi tão memorável que é fácil esquecer o quanto ele foi criminosamente desperdiçado como Snoke na recente trilogia de filmes.
Há uma sensação tão pungente de esperança e subversão em toda essa sequência que não é difícil ver neste momento um outro grande divisor de águas que nos levará ao visto em Rogue One e na trilogia clássica. E, embora esse episódio cumpra as funções de Reckoning e The Eye de trazer ação e momentos épicos, ele também reforça o valor dos episódios anteriores que conduziram a narrativa a este ponto, demonstrando o cuidado e a paciência de Tony Gilroy e sua equipe de roteiristas em relação à forma como escolheram contar essa história.
Enquanto isso, temos vislumbres dos outros núcleos, e, embora não haja a sensação de fechamento como houve com os eventos de Narkina-5, é possível perceber que os personagens estão cada vez mais expostos a situações que os mudarão irreversivelmente. Seja Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) tendo em mãos uma decisão dolorosa que não afeta apenas a ela em nome da causa da Rebelião – a forma como a câmera enquadra como se ela estivesse tão presa quanto Cassian é um toque de gênio –, os vislumbres de Dedra Meelo (Denise Gough) ou dos eventos em Ferrix, culminando na revelação de que o agente do BSI Lonni Jung (Robert Emms) trabalha para Luthen (Stellan Skarsgard) – o qual entrega um dos monólogos mais memoráveis não só da série, mas da saga como um todo –, vemos estes homens e mulheres submetidos a pressões quase insuportáveis, que testam a moralidade deles (e a nossa).
Afinal, a Rebelião é formada por esperança, mas também por heróis e heroínas anônimos. Conhecemos um dia Luke Skywalker como um grande prometido, mas muitos(as) morreram e se sacrificaram para que ele pudesse um dia ser capaz de derrotar o Império. Kino Loy, Luthen e tantos outros – não fazemos ideia do que acontecerá a eles e os prognósticos não são favoráveis, mas ao constantemente investir nesses personagens mesmo em meio à ação, Andor os torna vivos e memoráveis para o público, conferindo-lhes uma alma que os distingue, e por extensão distingue a série como o produto audiovisual brilhante que é.
Excelente