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Crítica | Aos Pedaços

Foto do escritor: Caio AugustoCaio Augusto

Obra instigante que se enclausura em suas escolhas estéticas.

Divulgação


Assistir a filmes de cineastas nonagenários sempre me desperta o interesse, é como se estivéssemos presenciando uma obra de alguém que tem muito a dizer. O cineasta Ruy Guerra, já consagrado por obras como Os Fuzis (1964) e Os Cafajestes (1962) retorna em mais um longa-metragem em preto-e-branco com Aos Pedaços (2020). Cito o preto-e-branco em especial pois é uma estética adotada justamente pelo uso de luz e sombra que é adotado pelo cineasta.


Em Aos Pedaços, Ruy Guerra faz um exercício do estilo para desenvolver a premissa de um homem bígamo que acredita que vai ser assassinado por suas amantes, vivendo tudo quase como um sonho febril. Sonho esse que é retratado com bastante impacto visual, mas que por outro lado tende pro lado teatral mais verborrágico da coisa. A paranoia vivida pelo personagem principal Eurico Cruz (Emílio de Melo) é potencializada pelo texto do filme, que vem muitas vezes através de monólogos do personagem. Há um sentimento de angústia e paranoia que cerca toda a obra, mas que me parece repetitivo quando representado pelo personagem principal. Por outro lado, as personagens Simone Spoladore e Christiana Ubach, que dão vida a Ana e Anna, enriquecem a obra com uma dinâmica quase que Bergmaniana, como se evidenciasse como uma funcionasse como reflexo da outra.


O filme se sustenta bastante em criações imagéticas que acabam se tornando um tanto cansativas, e esse sentimento de fadiga acompanha a obra dentro e fora do texto, já que acompanhamos um homem projetando suas angústias. Mas ainda assim, há um certo charme na melancolia que é posta através da montagem do filme, que se repete em poucos cenários, provocando uma inquietação no espectador nessa dinâmica de espaços.

Divulgação


Por fim, a teatralidade acaba caindo num território protocolar dentro de uma verborragia filosófica que acabou não funcionando muito bem comigo. E certamente há uma potencialização imagética, mas quando tentamos realizar a equação do que é visto com o que é dito, esse fluxo verbal não funciona tanto quanto as imagens, mas quando funciona Ruy Guerra consegue entregar algo muito interessante, pena que parecem lapsos do que poderia ser um grande filme para além de um exercício estilístico.

 

Nota: 2.5/5


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