Mais um filme do Wes Anderson elevado à sua própria potência máxima
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Asteroid City, uma cidade fictícia no meio de um deserto nos Estados Unidos é palco de uma convenção de Astrônomos Júnior/Cadetes do Espaço, em 1955, evento que reúne alguns dos mais brilhantes alunos do país e seus familiares. A família de um desses jovens estudantes fica presa na cidade após seu carro quebrar, mas o que ninguém espera é que todos os presentes também fiquem presos na cidade, em quarentena, depois de um inesperado acontecimento espacial.
Quem conhece o trabalho do diretor Wes Anderson sabe muito bem o que esperar. Se você não conhece saiba que sua filmografia é marcada pelo rigor à forma e à simetria e por sempre adotar um tom soturno em seu roteiro. Mesmo mudando as abordagens, as referências e as homenagens a cada produção, a estética Wes Anderson é de longe a mais fácil de reconhecer quando se coloca os portfolios dos diretores mais conhecidos internacionalmente em comparação. À medida que ia se estabelecendo e ganhando notoriedade, Anderson foi ampliando seu escopo dentro de suas crônicas e construindo tramas gigantes ao mesmo tempo em que singelas. E assim como A Crônica Francesa (2022), em Asteroid City tem um elenco incontável se encontrando em histórias paralelas que por hora somam e dão alicerce para o filme e o em outros momentos parece muito enchimento de linguiça.
Dessa vez ele usa os EUA pós-guerra como pontapé inicial e plano de fundo para seus questionamentos existenciais e reflexões antológicas. Tem corrida espacial, tem aliens, tem sociedade de consumo, tem Guerra Fria, e mais um amontoado de palavras e termos falados rápidos demais por aqueles incontáveis personagens e que às vezes fazem barulho, mas que não necessariamente passam algum recado. Honestamente em alguns momentos chega até a ser irritante que todos os personagens tenham o mesmo tom blasé e não pareçam querer demonstrar qualquer emoção ou reação além de um determinado limite posto na elaboração do filme.
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Talvez o que mais me agrade, no fim das contas, seja a recorrente vontade de Anderson de dar importância ao cotidiano, aos pequenos eventos, as pequenas ações. Dando como exemplo o barulhento Oppenheimer que reconta a história de uma grande personalidade responsável por alguns dos maiores (e piores) acontecimentos da humanidade e o fato do megalomaníaco Christopher Nolan ter “recriado” uma explosão atômica, aqui Wes Anderson usa os testes atômicos de forma bem silenciosa, discreta e limpa – bem teatral mesmo, sem querer dar spoiler – como pontos de abertura e fechamento de seu enredo.
Mas não vou ser hipócrita, ele tem seus charmes. O diretor sabe muito bem trabalhar com crianças e aqui elas têm alguns dos momentos mais fora da curva (ou menos estáticos). O tal descompromisso do elenco citado anteriormente por vezes se veste com uma encantadora inocência, mas que não cabe bem em todos os personagens. E tiro meu chapéu também para a direção de arte detalhadamente elaborada de forma quase artesanal, outro recurso presente na assinatura de Anderson. O designer de produção Adam Stockhausen, parceiro de longa data do diretor, mais uma vez deu vida a um local que é de certa forma o personagem principal e, assim como fez O Grande Hotel Budapeste (2014), montou um ambiente cuja forma é tão importante quanto à função. Louros também à cenógrafa Kris Moran. A ambientação fecha seu ciclo com uma trilha sonora refinada que dá voz aos silêncios de ligação.
É Wes Anderson sendo Wes Anderson de todas as formas possíveis e imagináveis, e, infelizmente, de todas as formas já conhecidas e repetidas por ele incessantemente. Pra quem gosta é bom, eu já não me afeto tanto.
Nota: 3/5
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