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Foto do escritorMaryana Leão

Crítica | Batem À Porta

A fé na humanidade é questionada e colocada à prova em novo filme de M. Night Shyamalan

Divulgação: Universal Studios


Depois de ter seu nome colocado verdadeiramente no mapa em 1999 com O Sexto Sentido, a popularidade de M. Night Shyamalan alcançou níveis altíssimos e por um bom tempo o diretor foi considerado por muitos como um dos maiores cineastas da atualidade, sendo responsável por grandes obras e se mostrando um ótimo contador de histórias. Contudo, depois de muitos acertos, alguns erros gritantes fizeram com que seu momento de glória fosse questionado e sua aceitação fosse decrescendo ao longo dos anos. Em seu novo longa, Batem à Porta, vemos Shyamalan focado na humanidade das pessoas, na relação de cada um com o outro e no questionamento da fé a todo momento.


Acompanhamos Wen, uma menina de aproximadamente 8 anos, que vai passar as férias com seus pais, Eric e Andrew, em uma cabana no meio da floresta e longe da cidade. Enquanto estava brincando na floresta à procura de gafanhotos, um desconhecido aparece afirmando querer ser um novo amigo para a menina. Logo descobrimos que o nome do desconhecido é Leonard e ele não está ali sozinho, mas acompanhado de três amigos que precisarão urgentemente, e a qualquer custo, entrar na cabana para falar com os pais da garota.


Desesperados e assustados, o casal e sua filha tentam de todas as maneiras possíveis impedir a entrada dos estranhos na cabana, mas falham e acabam sendo amarrados e feitos refém pelo grupo de desconhecidos. Cada integrante presente afirma insistentemente que não queriam estar ali ou fazer mal a ninguém, mas que algo maior está em jogo e eles não podem recuar, pois foi mostrado a cada um deles que o destino da humanidade depende disso. Assim, para evitar o apocalipse a família será obrigada a escolher algo impensável: matar um dos seus ou ser responsável pelo fim da humanidade?

Divulgação: Universal Studios


Em 100 minutos de filme o que teremos é muita tensão, dúvida, incredulidade, a cabana, esses 7 personagens e o dilema vivido entre os protagonistas. O drama experienciado por Eric e Andrew, casal que se encontra como refém e preso na cabana, se pauta na dificuldade em ter que escolher salvar uma sociedade que nunca foi justa com eles e que é a todo momento diretamente responsável por vários tipos de violência, traumas, preconceito e marginalização, que os afeta diariamente, ou decidir salvar as próprias vidas. Ao mesmo tempo, somos colocados a crer na empatia e na capacidade do ser humano de se colocar, ou não, no lugar do outro.


Após alguns desastres como Vidro, Depois da Terra e Fim dos Tempos, Shyamalan tenta voltar ao que entregou em seus primeiros e mais aclamados trabalhos, e para isso utiliza bem o que tem. Brinca com o pequeno e único espaço em que o longa se passa, uma simples cabana, e faz isso através de movimentos de câmera inquietantes e enquadramentos que causam um pouco de estranhamento ao telespectador, mas que deixam a marca do diretor. Fica evidente que a força do filme está na tensão, criada muito bem pela trilha sonora e pelo modo como o diretor filma, bem como no talento do elenco, que está excelente e deixa transparecer ao telespectador a entrega de cada ator ali presente.


A todo momento o telespectador é induzido a colocar em xeque a fé contra o ceticismo. Aquilo será verdade ou somente algo da cabeça deles? Mesmo sabendo pouco sobre cada um dos desconhecidos, em diversos momentos a empatia por cada um daqueles "vilões" surge, e novamente somos questionados do real motivo de tudo aquilo estar acontecendo. Desse modo, a cada segundo que passa é gerada no espectador a urgência na ameaça, e hora você acredita em um personagem, hora você acredita em outro. Esse questionamento me deixou pensativa e rendeu horas de reflexão e debate, pois cada amigo tinha uma opinião e percepção diferente do que foi mostrado, alguns acreditavam, outros eram descrentes a todo momento. Pelo simples fato de proporcionar essa discussão o filme aumentou seu valor, o que o fez estar acima da média comparado a muitas produções por aí.

Divulgação: Universal Studios


Shyamalan é mestre em enganar pessoas e teve a infelicidade de "criar a febre" de mostrar grandiosos plot twist em seus trabalhos e isso pode ter sido responsável por toda a recepção que seus filmes têm, pois o público já vai esperando algo que irá explodir cabeças e se assistem ali qualquer coisa um pouco diferente disso já odeiam a obra do diretor. Nesse longa sinto o diretor tentando se manter na zona de conforto quanto a isso, o que resulta uma reviravolta que pode muito bem desagradar a muitos justamente por ser uma das mais fracas dentre todas de sua filmografia.


O cineasta indiano é um dos mais amados e também um dos mais criticados, e isso deve-se, principalmente, à sua inconstância na qualidade dos longas. Na medida em que lança obras amadas e adoradas pelo público e crítica, também lança filmes que são verdadeiras decepções para muitos. Batem à Porta é sem dúvidas mais um filme do diretor que terá opiniões divisivas, e agradará a uma parcela enquanto será duramente questionado por outra. Dito isso, é um bom filme, mas não chega a ser excelente como Sinais, Corpo Fechado ou O Sexto Sentido. Porém, pode ser o retorno que o diretor precisava e o pontapé inicial para voltar com a qualidade que ele mostrava em seus melhores trabalhos.


Nota: 4/5

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