Se o primeiro peca pela falta esse peca pelo excesso
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O novo capítulo da saga de crossover dos mais famosos titãs do cinema continua com uma aventura que coloca o todo-poderoso Kong e o temível Godzilla lado a lado contra uma colossal ameaça desconhecida, escondida em nosso mundo, capaz de colocar em risco a própria existência deles - e a nossa. Godzilla e Kong: O Novo Império mergulha ainda mais fundo na história das duas criaturas, em suas origens e nos mistérios da Ilha da Caveira, e desvenda a batalha mítica que ajudou a forjar esses seres extraordinários, ligando-os à humanidade e seu destino para sempre.
Lembro que fui assistir à primeira batalha dos monstros em 2021 sem saber exatamente o que o que ia ver, afinal nunca conheci a fundo as mitologias das duas criaturas e não conseguia pensar em como eles iam preencher quase 2 horas de filme, mas esperava quebradeira em escala macro e muita ação. O resultado do entanto não supriu a expectativa – tem ali um roteiro pra justificar toda a quebradeira, mas o que interessa mesmo é o destroço, são as criaturas brigando e fazendo maior alvoroço possível nos prédios de seja lá qual cidade e nisso o filme não entrega o que deveria. Os conflitos são bem curtos comparados com o restante do enchimento de linguiça do roteiro.
Já nesse segundo eles não foram nem um pouco sutis. A fantasia da Terra Oca é quando o primeiro filme ganha personalidade e – sendo bem positivo – justifica a realização do longa. E na continuação mais da metade do enredo se passa nesse universo, com mais monstros, mais cores, mais luzes (inclusive acho que merecia sim um alerta para pessoas fotossensíveis), mais barulho e muito mais destruição. Além da Terra Oca a turnês dos titãs passa pela Espanha, Itália, França, Egito e Brasil.
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Exagero é a senha pra essa ficção científica. Tudo veio carregado em relação ao anterior, mas nem tudo é essencial (na verdade nem o filme é necessário, mas sigamos). Alguns dos novos monstros estão aqui só para fazer o roteiro render e em nada somam ao texto. As escolhas estéticas também são conflitantes, hora com matizes claras, hora com neons foscos, hora efeitos bem renderizados, hora composições pra lá de cafona. Até mesmo a importância dos personagens parece desbalanceada, sendo o Godzilla um coadjuvante da história principal do Kong. A produção toda imprime um desequilíbrio causado pelo excesso. De tudo.
Assisti recentemente à questionável comédia A Bolha (2022) que conta sobre uma equipe de um filme que se reúne durante a pandemia do coronavírus e se isolam para a gravação do sétimo capítulo de uma franquia de filmes de dinossauros. Entre piadas boas e péssimas e ideias que com certeza funcionaram melhor no papel do que na execução, uma das alfinetadas mais certeiras são os personagens do longa a ser filmado e suas falas clichês, suas motivações sem fundamento e resoluções abertas. Pois bem, temos em Godzilla e Kong: O Novo Império os exatos mesmos personagens num contexto de narrativa quase igual ao filme fictício de A Bolha e infelizmente não tem a menor graça. Pelo menos dessa vez os humanos não disputam espaço em cena com os monstros e são reduzidos a pontos de apoio para as bestas gigantes.
Depois de uma produção bem filmada, bem escrita e bem amarrada como Godzilla Minus One (2023) é até irônico ver tanto dinheiro empregado numa obra que quer ganhar seu público falando alto e dizendo nada, literalmente no grito. Mesmo como diversão descompromissada falta essência para fazer peso no fundo da memória, porque como espetáculo visual ele cumpre seu papel, mas disso Hollywood já tá cheio.
Nota: 2,5/5
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