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Crítica | How to Shoot a Ghost (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • 24 de out.
  • 2 min de leitura

Um curta que busca ser poético sobre mortalidade e memória, mas cujo saldo final é (lamentavelmente) desconjuntado

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Foto: Reprodução


O cinema de Charlie Kaufman, seja enquanto roteirista ou diretor, sempre se interessou por questões existenciais, movido por uma dinâmica metalinguística e inquieta que conduzia seus personagens (alguns dos quais são extensões dele mesmo). Porém, desde Estou Pensando em Acabar com Tudo ele parece mais interessado em discutir questões a respeito da vida e da morte, que se expressam de maneira mais presente aqui em seu curta How to Shoot a Ghost, estrelado por Jessie Buckley (a qual repete a parceria com ele depois de Estou Pensando...) e Josef Akiki como fantasmas perambulando pelas ruas de Atenas. 


A escolha pela capital grega já é um forte indicativo de como a obra busca discutir e tensionar as questões da memória, não só pelo legado da cultura helênica no Ocidente até os dias de hoje, mas também pelos traumas recentes da Grécia, como a ditadura militar. Em meio a planos de natureza mais contemplativa, mesclados às imagens de arquivo, vemos os personagens vagarem pelas ruas de Atena, em contato com outros fantasmas, ou imersos na solidão, saudade e tristeza pelas suas vidas pregressas.

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Foto: Reprodução


Kaufman adota uma abordagem significativamente distinta da sua filmografia anterior, e ainda que seja louvável o esforço em se reinventar, o resultado final decepciona e muito. O primeiro grande problema de How to Shoot a Ghost reside na sua indecisão: há tantas ideias sendo lançadas aqui, num espaço de apenas 27 minutos, e o filme não sabe do que quer falar, tentando mesclar as memórias e as existências individuais dos personagens com um contexto sociopolítico que apenas parece solto. Longe de mim achar que o formato de curta-metragem é inferior ao longa por não se poder desenvolver determinadas narrativas e abordagens, mas é nítido o quão mal Kaufman trabalha com o formato.


Essa pluralidade (ou falta de coesão) nem seria um problema não fosse o fato de Kaufman usar uma narração em voz off como muleta, além dos diálogos expositivos dos personagens. Até daria para se dizer que é seu lado roteirista prevalecendo sobre o lado diretor, mas é de se esperar que ele a essa altura tivesse confiança suficiente nas imagens que nos exibe sem martelar a todo instante o que está sendo visto. As narrações e diálogos se alternam entre reflexões vagas que beiram a pseudo-intelectualidade com um didatismo irritante, que privam ao máximo possível o espectador de construir sua própria relação com o filme.


How To Shoot a Ghost é um projeto carregado do traço lido como a maior crítica que se faz às obras de Kaufman: sua autoindulgência. Particularmente não vejo como um problema nele ou em outros realizadores, mas o que se vê aqui é um projeto que, sob sua pretensa beleza e contemplações, parece muito aquém de um veterano como Kaufman. O filme parece muito mais um projeto de um cineasta iniciante e inexperiente, absorto em suas referências e ideias e incapaz de encontrar uma voz própria, enquanto constantemente tenta nos dizer o que pensar e sentir – se é que sabe o que está dizendo. 


Nota: 1.5/5


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