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Crítica | Left-Handed Girl (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • 17 de out.
  • 2 min de leitura

Shih-Ching Tsou e Sean Baker discutem mais uma vez o capitalismo tardio, agora pelas lentes do cotidiano taiwanês

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Foto: Reprodução


Muito antes do sucesso de Anora, o cinema de Sean Baker tem sido constantemente atrelado às vivências de diversas personagens dentro das realidades do capitalismo tardio. No entanto, é injusto creditar apenas a ele esse interesse: embora menos conhecida, sua parceira Shih-Ching Tsou tem dedicado o mesmo tipo de olhar, seja produzindo os filmes de Baker até Red Rocket ou codirigindo com ele o longa Take Out.


Agora, Tsou tem sua estreia como diretora solo com Left-Handed Girl, mas Baker ainda se mostra uma presença relevante, tanto produzindo o filme como corroteirizando e também editando. Assim, as marcas da dupla tanto no campo narrativo quanto estético seguem firmes e fortes, gostem-se delas ou não. Por exemplo, tem-se as imagens digitais gravadas com iPhone, que oferecem uma textura “amadora” e “verossímil” conforme acompanhamos o cotidiano de Shu-Fen (Janel Tsai) e suas filhas I-Ann (Shih-Yuan Ma) e I-Jing (Nina Ye) pelas ruas de Taipei, para onde voltam após anos distantes da família e assumem um negócio repleto de contratempos.


Uma vez que o longa assume em grande parte a perspectiva da pequena I-Jing (e é possível pensar num paralelo com um dos longas mais celebrados de Baker, Projeto Flórida), a câmera assume quase sempre planos médios situados à altura da personagem, permitindo que acompanhemos o mundo a partir de seu ponto de vista. E verdade seja dita, a melhor escolha de Left-Handed Girl é centrar-se na sua protagonista mirim, vivida com Nina Ye com uma vivacidade e carisma magnéticos. Tsou consegue extrair da atriz uma atuação tão natural e singela que podemos acreditar de fato naquela criança andando pelas ruas de Taipei, assistindo às desventuras e discussões de sua mãe e irmã ou cometendo pequenos furtos por causa da sua “mão do diabo” (o humor do seu filme é um dos seus pontos fortes).

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Foto: Reprodução


O filme nunca esconde que está trabalhando com certos arquétipos (a criança ingênua e observadora, a jovem rebelde e subversiva, a mãe sobrecarregada e ausente), inclusive deste cinema que Tsou e Baker vêm fazendo, mas consegue se sobressair a eles em boa parte do tempo. Onde ele falha justamente é quando tenta imprimir algum senso narrativo a uma obra que cresce justamente nesse olhar “desinteressado” pelo cotidiano das protagonistas, o que leva a alguns atropelos por parte da montagem de Baker (como no repentino interesse de I-Ann em visitar o pai doente). Além disso, a ambientação em Taiwan não isenta o longa de certas características “ocidentalizadas”, como a trilha sonora. E, por mais que a textura digital seja obviamente intencional, isso não quer dizer que ela funcione sempre, prejudicando cenas como uma discussão que ocorre no clímax da obra.


Left-Handed Girl é um acompanhamento interessante para uma obra consagrada como Anora, reiterando as características do cinema que Shih-Ching Tsou e Sean Baker vêm construindo há duas décadas. Não foge de uma lógica ocidental na retratação deste cotidiano taiwanês, mas talvez isso também sirva para mostrar a universalidade das mazelas do capitalismo tardio. Em todo caso, ainda que todo o resto não funcionasse (e nem chega a ser o caso), a atuação cativante de Nina Ye já vale pelo filme todo.


Nota: 3.5/5


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