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Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | O Espaço Infinito

Filme usa as estrelas como guia em meio à dissociação

Foto: Divulgação


Nina (Gabrielle Lopes) é uma astrofísica que busca provar a existência de uma estrela da mesma forma que busca se manter sã em meio a uma dissociação misturada com uma crise de identidade. Ela precisa lidar com lembranças do passado que em longo prazo afetaram na sua maneira de lidar com a realidade e com alguns vínculos no presente.


O primeiro longa-metragem do diretor Leo Bello funciona muito bem no quesito estético. O cinema é, sobretudo, uma experiência visual, e demanda que esse visual atraia (pelo menos) tanto quanto sua narrativa, e Bello soube se expressar puramente através do visual. A plasticidade dessa produção é caprichada e caprichosa. Os devaneios da protagonista perduram todo o filme enquanto conhecemos sua mente e seu passado, e mesmo assim Leo Bello conseguiu demarcar com cuidado os territórios que cada cena está mapeando. Boa iluminação, uso de elementos geométricos, sobreposição de quadros e quadros muito bem emoldurados fazem do trabalho da direção de arte e fotografia os pontos mais altos.

Foto: Divulgação


A atriz Gabrielle Lopes conduz o espectador com olhar expressivo. A história se desdobra em torno de uma mulher neurodivergente numa busca por propósito, e ela sabe como dar base às diversas camadas de sua personagem. Além disso, a direção usa de sensibilidade e de um tom lírico para abordar neurodiversidade no ambiente de um hospital psiquiátrico. Outro componente importante na construção da atmosfera do filme é a trilha sonora e o design de som que se aplicam muito bem especialmente nas cenas com elementos naturais. E a natureza é outro ponto recorrente na narrativa. A água como símbolo de fluidez e de leveza, e a terra como símbolo de organicidade e finalidade.


Mas O Espaço Infinito se perde quase que completamente ao tentar intercalar a astronomia ao esoterismo – além de, como já dito, ter os estratos de uma personagem complexa. A mescla de astros enquanto objetos de estudo científico com a astrologia e a constelação familiar fica instável e, como resolução, fica ao mesmo tempo simplória e confusa. Talvez para o roteirista (que também é o diretor) essas construções façam sentido, mas para que está do lado de cá desse misticismo quântico falta convencimento. Ainda assim, o uso do espaço sideral não foi reduzido a contemplação vazia do “nada”, ele é o recurso de ligação intrínseco nas entrelinhas, mas que ao final não sabe bem como amarrar seus vieses de raciocínio.


Nota: 3/5


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