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Foto do escritorRafael Carvalho

Crítica | O Livro dos Prazeres

Às vezes tudo que nós precisamos é de um banho de mar.

Divulgação: O Livro dos Prazeres


O existencialismo no cinema e televisão pode ser retratado de diversas formas. Seja de forma positiva como em ‘A Pior Pessoa do Mundo’ ou através do ideal do luto como em ‘The Leftovers’, a proposta da corrente filosófica existencialista busca basicamente a mesma coisa: analisar todas as camadas do ser humano. É isso que ‘O Livro dos Prazeres’ tenta fazer.


Baseado na obra ‘Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres’ de Clarice Lispector, o filme dirigido por Marcela Lordy retrata a vida de Lóri (Simone Spoladore), uma professora do ensino fundamental, livre e melancólica, que acredita que se ela se afastar das pessoas suas dores internas também sumirão. Num acaso, ela conhece Ulisses, um professor de filosofia egocêntrico e provocador, que desperta uma profunda mudança em Lóri.


Inicialmente, vale-se engrandecer a direção de Lordy. Sucinta, delicada e melancólica, a diretora consegue retratar através de seus movimentos tudo que o ambiente colabora para que Lóri se sinta como se sente. O apartamento em frente à praia do Rio de Janeiro, o sentimento de inferioridade diante de cômodos enormes, porém, vazios, e uma sala de aula que serve como uma sessão de terapia indireta, todos eles são feitos para caracterizar e entendermos o que nossa protagonista sofre inteiramente durante boa parte do filme.


Contudo, o uso direto de citações do livro de forma abrupta atrapalha um pouco a experiência. Adaptar algo já é difícil por si só, então fazer isso com uma obra conhecida por suas frases marcantes e reflexivas é ainda mais. Não é como se isso deixasse o filme ruim, mas o destaque dado em determinadas cenas faz com que essas cotações se tornem maiores que o próprio longa, dando a elas uma carga dramática emocional que nós não encontramos quando o analisamos como um todo, atrapalhando até a atuação em várias partes.


Em relação a isso, com exceção de Simone Spoladore, que ocupa a tela brilhantemente, os atores Javier Drolas e Felipe Rocha são os únicos que seus personagens ainda ganham uma história paralela, podendo ainda serem melhor exploradas. Ulisses e Davi servem para Lóri apenas como lembretes do mundo externo que problemas sempre vão existir, mas a forma que você lida com eles que dita sua presença em meio a isso.


De forma geral, ‘O Livro dos Prazeres’ nos entrega cenas belíssimas em meio a um roteiro fraco, mas eficaz e atuações interessantes. Além disso, vai te deixar com mil pensamentos sobre como levamos a vida diante do caos que é viver no Brasil de 2022 e que tomar um banho de mar renova a alma, e querendo ou não, ele está certo.


Nota: 2,5/5

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