Um exuberante visual retrofuturista não salva a série da mediocridade
Foto: Divulgação
Quando era mais novo, tinha uma enorme fascinação pela cultura estadunidense dos EUA nos anos 50. Talvez fosse o impacto de assistir na infância o concerto 9012Live do Yes — onde as performances da banda eram intercaladas com vídeos, fotos e montagens de adoráveis famílias suburbanas cinquentistas. Claro, hoje sabemos que não foi um período nada idílico (e sim repleto de sexismo, racismo e paranoia anticomunista, tal qual hoje em dia), mas é inegável a marca que nos foi deixada de ser uma época que representou com perfeição o american dream em sua plenitude.
No papel, Olá, Amanhã! parece querer satirizar esse “sonho americano”, adotando uma das vertentes mais icônicas da imagética cinquentista: a ficção científica produzida à época, onde víamos a colonização da Lua, foguetes cruzando os céus, robôs domésticos e muito mais. Essa abordagem retrofuturista se revela o grande diferencial e charme da série, que segue uma equipe de vendedores liderada pelo carismático Jack Billings (Billy Crudup) que convence as pessoas a comprarem lotes na Lua, mas que na verdade as enreda em um esquema criminoso.
Parece interessante, não? E é... mas só no papel mesmo.
Vamos começar pelo positivo: no que se refere aos quesitos técnicos, Olá, Amanhã! é um desbunde. O Apple TV+ não se faz rogado ao investir em suas séries, e aqui temos um mergulho imersivo nesse mundo retrofuturista tão convidativo. O design de produção da série é um show à parte, aliado aos figurinos, a trilha sonora “alienígena” e aos efeitos especiais que nos fazem sentir que essa realidade na qual passado e futuro se sobrepõe é perfeitamente possível.
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Mas, por mais impressionante que seja a forma, ela não consegue nos fazer ignorar o fato de que não há muita substância a ser encontrada aqui. A premissa aparentemente cínica e satírica a respeito do “sonho americano” é logo descartada em prol de tramas clichês e que não parecem ir a lugar nenhum. No começo da série até ousei compará-la com Mad Men pela forma como parecia retratar o espírito de épocas tão similares, mas ao final tal comparação soa quase blasfema. Olá, Amanhã! não chega aos pés de Mad Men e, por melhor ator que Billy Crudup, seu Jack Billings não chega aos pés de Don Draper. Nem todo o charme que ele confere ao personagem pode salvá-lo da trama desinteressante e morna que lhe é conferida: suas tentativas de se reconectar com o filho Joey (Nicholas Podany) a base de mentiras não são suficientes para nos cativar, tampouco os míseros vislumbres de seu passado que nunca soam suficientes para justificar seus atos, de modo que ao final você torce para que ele seja pego em seu esquema ilegal, ao invés de torcer por ele ou pelo menos compreendê-lo.
O restante dos personagens também não nos dá muito motivo para apreciá-los, em parte por causa de péssimas escolhas do roteiro, mas também porque as atuações nunca estão à altura dos seus intérpretes — mesmo com nomes como Hank Azaria, Alison Pill, Dagmara Domińczyk e Jacki Weaver no elenco —, sendo muitas vezes relegadas a performances caricatas; e nesse sentido, quem mais sofre com isso são Dewshane Williams e Susan Heyward como o insuportável casal Bert e Betty. Apenas Hanneefah Wood, no papel de Shirley, a braço direito de Jack, parece conferir algo mais à sua personagem, conferindo-lhe não apenas personalidade, mas também humanidade e complexidade.
Apesar de todo o seu deslumbre visual e técnico, Olá, Amanhã! é uma série que se esgota assustadoramente rápido, escolhendo um caminho tão convencional e ordinário para sua narrativa que em nada justifica a ambientação retrofuturista escolhida. Aliás, esse caminho de contar histórias ordinárias não seria exatamente um problema se o roteiro e o elenco conferissem alguma vida a essas tramas e seus personagens, de modo que nem o gancho final é atraente o suficiente para nos querer voltar para uma segunda temporada. Infelizmente, há casos em que a forma não dá conta da (ausência de) substância, e Olá, Amanhã! é um dos mais flagrantes casos disso que vi nos últimos tempos.
Nota: 2,5/5
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