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Crítica | The Things You Kill (Festival Sundance de Cinema 2025)

  • Foto do escritor: Ávila Oliveira
    Ávila Oliveira
  • 2 de fev.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de fev.

“Ninguém é ressentido por natureza”

Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação

Ali (Ekin Koç), um professor universitário de Literatura turco, fica confuso com as circunstâncias suspeitas da morte de sua mãe doente. Durante seu processo de luto, Ali revela seu ressentimento por seu pai distante (Ercan Kesal) e faz amizade com um jardineiro chamado Reza (Erkan Kolçak Köstendil), com quem cria um vínculo pessoal profundo.

O argumento deste filme turco é uma proposta de narrativa, rica, instigante e multifacetada que gerou um roteiro incisivo, espero e prático. Prático porque ele é cheio de frases de efeitos prontas, mas que são usadas com tanta precisão e perspicácia que não soam artificiais nem deslocadas. Frases que vão ser base para o enredo, como a que citei no subtítulo deste texto; frases de contexto social e frases de alfinetadas políticas (diretíssimas para os EUA). Dualidades e paradoxos humanos refletidos em laços familiares são o centro da história que se desdobra em incontáveis camadas sólidas de subtemas, todos bem conectados. E a frase destacada resume e definem a raiz de toda a estrutura enigmática do longa.

Fonte: Divulgação
Fonte: Divulgação

O cineasta iraniano Alireza Khatami entrega um filme complexo montado em cima de um suspense que ultrapassa os limites do real. Bem calculado e perfeitamente executado, tudo em cena é importante, o dito e o não dito, o visto e o não visto. Não é à toa que Ali leciona Literatura. Não é à toa que o longa abre com um relato de um sonho. É um filme inteligente, intrigante e com muito pano pra manga quanto aos assuntos que contempla.

Conhecemos Ali, sua personalidade, seu passado e seu presente, através dos vários personagens que o cercam. Sua esposa, sua mãe, seus alunos, sua médica, seu chefe, suas irmãs e seu pai. Eles definem quem Ali é como sua vida está: aos pedaços. Tudo funciona exatamente diferente do planejado. A impressora trava na sua vez de usar. O sítio não tem água. Sua disciplina será descontinuada. A mãe doente morre. Ele descobre que é infértil. E ainda assim ele se mantém numa calma nervosa. Há, no entanto, dois elementos que fazem com que Ali mude: a chegada do jardineiro misterioso e a descoberta de segredos sobre seu pai. Estes elementos estão intrinsecamente ligados como causa e consequência. Essas duas personas são responsáveis por todas as ações do início ao final.

Durante suas aulas de tradução, Ali explica aos alunos a importância do texto adaptado para outros cenários, locais e contextos, ele fala sobre linguagem fática, fala sobre sentido, sobre interpretação, sobre morte, sobre rumor. Tudo é importante, tudo é relevante para o quebra-cabeças daquele personagem, e para rechear as charadas mais evidentes do filme.

Para além disso, o elenco é um primor. Ekin Koç e Erkan Kolçak Köstendil funcionam bem de forma individual para ditar as mudanças no tom do filme, e operam ainda melhor quando dividem cena com uma dinâmica fluida e condizente com cada situação. É um filme para ser revisto com a atenção curiosa de uma revisão, e ainda assim não perderá o encanto e os efeitos surpresa.

Nota: 4,5/5

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