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Foto do escritorÁvila Oliveira

Entrevista | Guto Parente fala sobre as mudanças durante a produção de Estranho Caminho

O diretor e roteirista abordou também o atual momento do cinema cearense em

conversa exclusiva com o Oxente, Pipoca?

Foto: Divulgação


Depois da conversa com Lucas Limeira e Carlos Francisco, o OP teve a oportunidade de entrevistar o cineasta Guto Parente. Na ocasião, o diretor e roteirista de Estranho Caminho, que entra em cartaz no próximo dia 1 de agosto, falou sobre cinema experimental, o processo de criação do longa-metragem e o bom cenário de lançamentos do cinema cearense em 2024.


O novo filme do diretor de Inferninho (2018) e O Clube dos Canibais (2018) narra a história de um jovem cineasta que reside em Portugal e retorna a Fortaleza, sua terra natal, depois de anos, para lançar seu novo filme em um festival. O início da pandemia adia o festival e impede seu retorno para a Europa, fazendo com que ele se reaproxime de seu pai, com quem não tem contanto faz bastante tempo. O protagonista David vem ao Brasil lançar seu filme experimental, e Guto afirmou que o filme tem traços autobiográficos, além de ser dedicado ao seu pai. Relembrando o início de seu trabalho com filmes, ele falou sobre o cinema experimental como ferramenta de descobrimento da linguagem, e de como, hoje, se relaciona com esse tipo de produções.


“O cinema experimental é algo que me estimula muito, eu tento sempre buscar o que tem de novo rolando, quando vou a festivais eu gosto de assistir a filmes que fogem do modelo mais hegemônico de contação de histórias. Na minha trajetória existe um lugar onde o pensamento da imagem e da experiência cinematográfica vem como a possibilidade uma experimentação mais sensorial e transcendental do que narrativa. Foi por onde eu entrei no cinema e é algo que me sustenta até hoje”, afirma Guto.


“Olhando para o começo, especificamente meus seis primeiros longas, eles foram feitos sem nenhum financiamento de edital, todos partindo de uma ideia de realização cinematográfica muito fundada na colaboração, entre pessoas que tinham um desejo comum de cinema e que tinham que encontrar nossa própria forma de fazer cinema e transformar essas limitações em potência estética”, continuou o diretor.

Foto: Divulgação


Guto falou também sobre as mudanças da primeira versão do roteiro de Estranho Caminho para a versão final do filme. “Tiveram muitas mudanças. Em primeiro lugar quando escrevi o roteiro ainda não tinha o Lucas e o Carlos em mente, como é um roteiro muito baseado em questões pessoais, inicialmente eu via esses personagens como eu e meu pai com rostos diferentes. E quando ganhamos o edital da Lei Aldir Blanc entendemos que a partir dali teríamos um filme. Eu já tinha vontade de trabalhar com o Lucas um dia, eu trabalhei na montagem do Cabeça de Nego e fiquei encantado com ele. Ele estava mais novo no filme do Déo (Cardoso, diretor de Cabeça de Nego) e nesse momento pela idade o personagem (David) já vestia melhor nele. Foi então que liguei para ele, falei do projeto e depois convidei o Carlão. E a partir daí eu reescrevi o roteiro já visualizando eles dois”.


Guto também comenta que outras coisas foram sendo alteradas nas leituras e nos ensaios. Ele considera Estranho Caminho um filme bem ensaiado, onde a equipe sempre lia a cena, fazia como estava escrita e depois abria para um espaço de improvisação. Segundo ele, o trabalho com a atriz e dramaturga Noá Bonoba na pré-produção e na preparação de elenco acrescentou fortemente ao resultado final do filme, já que ela trouxe vários exercícios e técnicas para serem passados com os elencos. 


O diretor comentou ainda de uma grande modificação que foi feita após as filmagens. “O filme era estruturado numa lógica meio calendarizada, tinha os dias marcados, e o título do filme era ‘Abril Vazio’, porque seria em abril que ele ficaria sozinho no apartamento do pai, e esse título se relacionava com essa ausência. Na montagem chegou um momento em que a gente percebeu que essas datas estavam travando a história, e foi uma sugestão da Tici (Ticiana Augusto Lima, produtora) quando estava vendo a montagem com a Taís (Augusto Lima, irmã de Tici) de tirar essa contagem de dias, e parece que o filme deu uma respirada”, diz ele. 


Por fim, Guto também comentou sobre o atual momento do cinema cearense, em que 9 longas metragens foram ou serão lançados ao longo de 2024. “Acho que a gente tem longos anos de insistência, onde várias pessoas com vários grupos diferentes viam no cinema um viés muito experimental, afinal não existia cursos de formação na área. A gente pensava a construção da imagem a partir de uma perspectiva bem mais livre do que com a expectativa de um mercado de indústria, inclusive a gente nem entendia direito essa ideia de mercado, então parecia que tudo era possível.”

Foto: Divulgação


Guto considera que esse cenário, associado às políticas públicas, passou a gerar resultados. Ele afirma que se houvesse um mecanismo de política pública mais consolidado e regular como uma agenda, tal qual acontece em vários outros países, “ninguém mais segurava o cinema cearense”. 


“Porque mesmo dentro da dificuldade e da inconstância essas políticas têm conseguido fazer com que nossos filmes aconteçam. A Lei Aldir Blanc financiou esse filme e estamos distribuindo pela Lei Paulo Gustavo, então sem elas esse filme não existiria, e a gente nunca teria tido um filme cearense ganhando todos os prêmios que concorreu em Tribeca, coisa que nunca aconteceu antes na história do festival e circulando por todo o Brasil. Então é uma combinação de fatores, mas também de contexto”, declara Guto.


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