Lista | Os melhores filmes vistos na 49ª Mostra de SP
- Vinicius Oliveira

- 1 de nov.
- 5 min de leitura
Em meio a um sem-número de longas assistidos, quais se destacaram?

Foto: Reprodução
Depois de duas semanas intensas, a 49ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo enfim acabou. Foram 32 filmes vistos, quase este número em críticas, e a sensação de que um trabalho exaustivo, mas imensamente gratificante, foi feito. Diferentemente do meu ranking para o Olhar de Cinema (que você pode ver aqui), desta vez priorizei apenas um top 10 que abarca as melhores produções vistas nestes quinze dias de festival. Sem mais delongas, vamos aos filmes escolhidos:
10) “Jovens Mães” (Dir.: Jean-Pierre e Luc Dardenne)
“São nessas particularidades que a câmera dos Dardenne – sempre atrelada a uma estética mais “crua” e documental, com uso extenso da câmera de mão e planos-sequência – constroem as personagens como meros arquétipos que simbolizam diferentes facetas da maternidade na adolescência, mas sobretudo como figuras complexas e profundamente humanas. A câmera não os julga por suas ações contraditórias, por suas falhas, nem as isenta diante dos contextos em que viveram e foram criadas, mas as trazem em sua completude, evitando também a pieguice e a manipulação dos sentimentos. Entende-se que nossos sentimentos e reações advêm dessa realidade nua e crua exibida em tela; no entanto, tal realidade não se dá pelo choque. Essas meninas são o que são, mesmo que nem todas as abordagens sobre elas funcionem (o arco de Jessica com a mãe e seus rompantes infantis cansa rápido, ainda que chegue a um final satisfatório assim como os das demais).” (Crítica completa aqui)

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9) “Morte e Vida Madalena” (Dir.: Guto Parente)
“(...) Outra característica do seu cinema reside no afeto com o qual trabalha e dá visibilidade aos corpos LGBTQIAPN+, e aqui não é diferente. A escalação de Noá Bonoba como uma protagonista grávida é em si um gesto político, mas que não precisa ser verbalizado ou explicado didaticamente para que entendamos seu significado. Basta ver a segurança com a qual Bonoba vai assumindo o próprio filme a partir da jornada da sua própria personagem, permitindo que nos empatizemos com as lutas, dores e revelações da personagem (além do seu humor). Aliás, o elenco é todo um grande destaque, em especial Tavinho Teixeira neste papel como um ator veterano problemático e tresloucado.” (Crítica completa aqui)

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8) “Galinha” (Dir.: György Pálfi)
“Talvez o aspecto mais impressionante de Galinha é o quanto seu diretor György Pálfi consegue extrair uma... atuação... tão sólida da sua protagonista (vivida por oito galinhas diferentes). Este não é o clássico filme aventuresco da Sessão da Tarde onde ouvimos a voz e os pensamentos da galinha: tudo que temos são seus cacarejos, seus olhares intensos e uma boa dose de fisicalidade, com uma câmera que muitas vezes assume uma posição subjetiva, não precisando de muito para que nos identifiquemos e tenhamos empatia pela nossa brava protagonista.” (Crítica completa aqui)

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7) “A Natureza das Coisas Invisíveis” (Dir.: Rafaela Camelo)
“Estruturado nessas duas metades – a primeira no hospital e a segunda no sítio da bisavó de Sofia, no interior de Goiás – A Natureza das Coisas Invisíveis tanto as distingue quanto as complementa, à medida em que a câmera de Camelo, muito livre, aposta fortemente na subjetividade do olhar infantil das duas meninas, cada uma delas dominando uma das duas partes do filme. Os planos médios, o posicionamento da câmera sempre a partir da altura das meninas, os closes que conduzem o nosso olhar a partir do que elas veem, são alguns dos recursos pelos quais a diretora faz do universo e da compreensão delas o meio para tornar mais fácil a compreensão da morte como este ato natural da própria vida.” (Crítica completa aqui)

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6) “Cyclone” (Dir.: Flávia Castro)
“Cyclone é sobre uma mulher impossível de ser presa pelas correntes do seu tempo - seja em 1919 ou 2025 -, e os altos preços que ela paga por essa liberdade. A direção de Flávia Castro evita os lugares-comuns dos filmes de época, abraçando um anacronismo que serve bem a uma narrativa (infelizmente) atemporal, enquanto concentra seu maior esforço em planos fechados que valorizam sobretudo o trabalho de Luiza Mariani, numa das melhores atuações do cinema nacional deste ano.” (A crítica foi escrita quando da exibição do filme no Festival do Rio, e você pode conferir aqui)

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5) “Foi Apenas um Acidente” (Dir.: Jafar Panahi)
“O diretor é muito mais eficaz na construção de uma atmosfera crua e também um bocado imprevisível, saltando entre essa espécie de thriller “neorrealista” e uma comédia de erros, como quando os personagens acabam se vendo forçados a ajudar a esposa e filha do torturador. Os instantes de humor, mesmo que não tão frequentes dentro da obra, servem de respiro quando o clima se revela pesado demais, mas Panahi também não se acanha de nos acertar com socos no estômago quando necessário.” (Crítica completa aqui)

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4) “Ato Noturno” (Dir.: Marcio Reolon e Filipe Matzembacher)
“Ato Noturno é um thriller sobre o desejo que suprime todo "bom costume", sobre como a vida (especialmente a vide dos corpos queers) é antes de tudo performance, e sobre o quão longe iremos pelos sonhos e ambições. Abraçando referências do cinema maneirista de Brian DePalma, conjuga tensão e tesão enquanto leva seus protagonistas ao limite.” (A crítica foi escrita quando da exibição do filme no Festival do Rio, e você pode conferir aqui)

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3) “Mirrors Nº 3” (Dir.: Christian Petzold)
“Existe um mistério que permeia Mirrors Nº 3, mas Petzold não está interessado em prolongá-lo até o fim apenas pelo choque, nos dando aquilo que precisamos saber até que tenhamos enfim a resposta sobre os motivos pelos quais Betty decide cuidar de Laura. O filme é econômico em todos os sentidos: na duração, na sua montagem, nos diálogos, nos atos, gestos e interações entre os personagens. Mas nessa economia muito se diz, e é nessa capacidade de Petzold de encenar com o mínimo possível de forma a potencializar a dramaticidade da obra que o filme cresce.” (Crítica completa aqui)

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2) “O Agente Secreto” (Dir.: Kleber Mendonça Filho)
“Assim, essa Recife de 1977 é um caldeirão prestes a explodir, mesmo que vá sendo cozinhada em fogo lento. Kleber passeia pela cidade e o faz com um profundo senso de reverência e paixão que não esconde suas contradições. O trabalho de direção de arte de Thales Junqueira merece e muito ser aplaudido nesse aspecto, pois transforma a cidade numa personagem à parte, de maneira ainda mais intensa e imersiva do que nos filmes anteriores do diretor (que já eram excepcionais no trato ao espaço urbano). Cenas como aquela em que Marcelo olha pela janela do cinema São Luiz são para serem guardadas na memória, tamanha é a capacidade de nos transportarem para este período. Talvez seja outra das heranças de Retratos Fantasmas, já que aqui a arquitetura, os figurinos, os veículos nas ruas, a cacofonia, tudo se revela muito orgânico e bem pensado nessa reconstituição de época, numa articulação entre direção de arte, figurinos, fotografia e outros elementos através da direção de Kleber que fazem de O Agente Secreto seu longa mais primoroso em termos técnicos.” (Crítica completa aqui)

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“No Other Choice” (Park-Chan Wook)
“Ainda que em determinadas ocasiões as críticas ao capitalismo tardio possam soar óbvias ou engessadas, Chan-Wook encontra na forma a maneira de elevar a crítica e investir na sátira sem receio ou se apegando meramente ao cinismo. O uso das telas de smartphones, tablets, computadores e etc. (nenhum diretor atualmente sabe incorporar tão bem a tecnologia aos seus filmes como Chan-Wook; os travellings, fusões e transições de tela sempre mais imprevisíveis que o antecessor; a montagem frenética e caótica, com cortes fundamentais para ampliar este humor sombrio; a trilha sonora bombástica e tensa, ideal para as muitas mudanças de humor que a obra vai trazendo; e muito mais. Mesmo quando o filme ameaça se perder, é visível a retomada de controle por parte do seu diretor.” (Crítica completa aqui)

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