As consequências do postmortem
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Em dado momento de "Estados da lua de mel", Shiv pontua que tudo será “diferente, mas igual”, e depois do belíssimo episódio da semana passada, voltamos a velha fórmula da série, porém sem Logan Roy para ditar as regras. Era o caminho mais provável, que sem o patriarca, a união dos filhos seria quebrada pela ambição do poder. Succession não surpreende pelo que acontece, mas como acontece e aí está seu maior trunfo.
No início do episódio, vemos os irmãos Roy ainda abalados pelo acontecido, e no caso de Shiv ainda há outra notícia: ela está grávida! Os outros personagens ainda não sabem e isto deve reverberar mais no futuro, mas já é perceptível que algumas reações dela podem estar associadas a este fato, principalmente no que concerne a Tom. Já no apartamento de Logan, ela está reunida com Roman e Kendall, enquanto Gerri, Frank e Karl discutem o futuro da empresa. Se isto ainda não era a preocupação imediata dos irmãos, tudo muda com a descoberta de um papel assinado por Logan, onde ele diz que Kendall deverá sucedê-lo.
O relacionamento do trio começa a ser minado e lealdades são questionadas. O lado ambicioso de todos é despertado, mas a sede de poder de Kendall é maior, afinal é seu nome que está no papel e para ele não importa há quanto tempo. Shiv e Roman, obviamente, não concordam de imediato, mas depois entram em acordo quando Roman se junta a Kendall na votação do Conselho. Shiv, mais uma vez foi preterida pelos irmãos e não está nada satisfeita, e mesmo que eles digam que ela terá voz, sabemos que não será bem assim e ela também sabe. Era só questão de tempo até que os interesses pessoais se sobressaíssem e o tempo chegou.
Não era segredo pra ninguém que lá pelo começo da série, Logan realmente tinha uma predileção para que Kendall assumisse seu posto, mas com tantos altos e baixos no relacionamento dos dois, eu imagino que aquele nome foi riscado propositalmente. O roteiro dá material suficiente para que Jeremy Strong mostre o porquê de já ter seu Emmy. Seja nos momentos de sutileza em que sente a ausência do pai, ou quando está com sede de poder, agindo pelas costas do irmãos sem pestanejar. Ne mente complexa do personagem, ele está dando orgulho a Logan, fazendo o que ele faria, e isso é tudo que ele sempre quis.
"Estados da lua de mel" é mais um excelente episódio desta 4ª e última temporada que traz tudo que Succession tem de melhor. Além de toda a intriga, o tradicional humor ácido da série esteve em alta essa semana. Com o retorno da brilhante Hiam Abbass e sua Marcia, tivemos ótimas cenas em que a personagem troca educadas farpas com Willa, rapidamente vende a cobertura a Connor e humilha Kerry de toda forma que pode. Tom sendo humilhado e se humilhando atrás de alguém que o queira do lado, e Greg, que cada vez mais se mostra uma pessoa desprezível, como todos que o cercam. Quando Sandy Furness chega com o rosto imóvel com o sorriso é impossível segurar a risada. Aquele tombo de Shiv é mais uma derrota para a conta da moça, mas não deixa de ser engraçado.
É sabendo dosar o humor e o drama tão bem, com atuações irretocáveis que a série se prova como a melhor da atualidade. Expondo o quão mimados e irredutíveis os Roy podem ser, porém também mostrando suas vulnerabilidades, atestando a ambiguidade que os domina, como Roman sendo o único a ajudar Kerry ou Shiv tendo que afastar Tom para não cair em tentação. Jesse Armstrong tem controle total de seus personagens e os conhece como ninguém. Parece redundante falar isso, mas por mais drásticas que sejam suas atitudes, elas condizem com toda a construção que acompanhamos. A direção de Lorene Scafaria é quase invasiva, focando no rosto dos atores e em suas expressões, ditando o tom desafiador do episódio. É com esse combo de fatores que Succession vai terminando sua jornada, e com uma qualidade que poucos conseguem atingir.
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