Com visual impactante e narrativa confiante, a ficção científica alcança bem mais que sua curta duração
Foto: Divulgação
Dirigido, escrito, produzido, montado e finalizado por Yuri Célico, Iracema é um curta realizado por uma pequena equipe durante um final de semana no Rio Grande do Sul. Livremente inspirado na canção "Iracema", de Adoniran Barbosa, este filme conta a história de Patrícia, uma lésbica enlutada que perdeu todas as memórias de sua amada recém-falecida. De Iracema sobraram apenas as botas, nas quais Patrícia agora projeta um imenso luto capaz de dar a elas o peso e a massa necessários para transformá-las em uma singularidade cósmica que vai distorcer todo o tempo e o espaço ao redor.
É empolgante poder acompanhar um belo e fresco trabalho vir a público simultaneamente ao “despertar” de seu esperto e talentoso cineasta. Iracema é o primeiro curta-metragem de Yuri Célico, que já chega provando que não se contém a orçamento e limitações técnicas, por assim dizer, para explorar e exibir o tamanho do seu potencial criativo, visualmente e narrativamente.
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Adaptando a famosa canção homônima do sambista Adoniran Barbosa, o roteiro dá novas cores ao texto ao apresentar uma interpretação cheia de presença, e ainda assim não confronta quaisquer das linhas originais, para os mais puristas. E conseguir dar uma reviravolta inventiva numa canção tão popular sustentando sua ideia a cada novo elemento em cena é trabalho de gênio.
Iracema consegue com vivacidade, requinte plástico e muito sentimento criar um surrealismo que, ao mesmo tempo em que se assemelha a Bertrand Mandico, é repleto de uma personalidade moldada pelas cores, texturas, formas e através de uma câmera esperta que desenha com detalhe até os momentos mais simples da ficção científica.
Um sci-fi cheio de brasilidade, metafísico e romântico queer inspirado num samba e tudo isso bem amarrado não poderia resultar em nada além de um deslumbre.
Nota: 4/5
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