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Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

Um espetáculo sujo e político sobre arrogância, traição e poder

Foto: Divulgação


Jogos Vorazes iniciou sua jornada na terra em 2008, quando o primeiro livro da trilogia foi lançado, e em 2012 ganhou sua adaptação para as telas do cinema pelas mãos de Gary Ross. A partir do segundo filme, a obra passou para as mãos de Francis Lawrence, que fez de Em Chamas a maior das adaptações tanto em aclamação do público quanto em bilheteria. E continuando em suas mãos a saga encerrou em 2015 com A Esperança Parte Final. Então em 2020, Suzanne Collins surge com um prequel de sua criação: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, contando sobre a ascensão de Coriolanus Snow, um adolescente de uma família falida que dentre mentiras e fingimentos tomou o caminho para se tornar o já conhecido Presidente Snow.


Em sua décima edição, os jogos vinham “sofrendo” por não haver popularidade e atenção do público da Capital. Acontecendo em uma pequena arena e de maneira rápida, os organizadores precisavam com urgência remodelar aquilo para que atraísse audiência, e é aí que entra Snow. Sua turma estava se formando, e a organização do evento tomou a ação de fazer dos alunos os mentores dos tributos, e aquele que tivesse a melhor performance ganharia o prêmio Plinth, que deveria ser entregue ao aluno de melhores notas. Snow acaba ficando com Lucy Gray Baird, a jovem tributo do distrito 12, que fazia parte de um bando viajante de artistas. A Partir disso ele se vê obrigado a criar uma ligação com a garota do 12 para que consiga vencer a edição. Se tratando de Snow, é difícil não pensar nas ligações entre o fim e o início de sua jornada à frente dos jogos vorazes e em como o distrito 12 teve um papel importante nisso, e é interessante conhecê-lo quando ainda era um zé-ninguém. Por mais que a missão de interpretar um personagem que se tornou famoso na atuação de Donald Sutherland seja difícil, Tom Blyth faz o possível para entregar o que foi pedido naquela fase da vida de Coriolanus.


O foco da história está em mostrar como Snow tinha a pretensão de se tornar uma figura importante, e o longa nos apresenta quatro personagens que tiveram participação nisso, são eles; Sejanus Plinth (Josh Andres Rivera), Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), Dra. Volumnia Gaul (Viola Davis) e Casca Highbottom (Peter Dinklage). Sejanus, o então único amigo de Snow era filho de uma família que se tornou importante e rica na Capital, o relacionamento dos dois é um tanto complicado, pois, ao contrário do protagonista, Sejanus Plinth era inteiramente contra a existência dos jogos e das atitudes daquele governo. Isso cerca os dois durante todos os momentos de interação no filme, com Snow fazendo papel de menino bom e obediente sempre de olho nas rebeldias de seu companheiro. Rivera consegue passar a revolta de Sejanus Plinth e a fragilidade de seu medo e existência naquele meio.

Foto: Divulgação


Se tratando de Rachel Zegler temos um tópico sensível. Lucy Gray Baird era descrita como uma personagem carismática e astuta, e que conquistava as pessoas com facilidade, e sua escolha para o elenco trouxe certo descontentamento (incluindo este que escreve), mas, dando o braço a torcer, ela conseguiu se sair bem dentro do que foi pedido, apesar de em alguns momentos ser um tanto desconfortável de vê-la no papel, ela se destaca pelo canto e pela voz. Quanto à Dra Gaul, que tem uma interpretação despojada de Viola, é uma personagem um tanto caricata, mas provocante. Ela é a pessoa certa para estar à frente daquilo, pois ela vê os jogos como o espetáculo que deveria ser, e é de todos a mais importante na ascensão de Coriolanus. Casca Highbottom se torna relevante com o passar dos minutos, sendo ele o dono da ideia de criação dos Jogos Vorazes, demonstra ter bastante arrependimento embora não possa sair daquilo, e sendo o oposto de Gaul, ele tenta maneiras de conter Snow de se tornar algo. Toda a sua lamentação é passada em tela por Dinklage, que entrega uma interpretação contida, mas certeira. Apesar de não ter destaque, gostaria de mencionar Hunter Schafer e sua Tigris, que apesar de não ter um papel tão importante, é bastante confortante de se ver em cena.


O roteiro se esforça para repassar uma história de três atos em menos de três horas, e consegue ser satisfatório em quase todos, mas assim como no livro, parece haver um declínio maior na terceira parte, que dado o seu teor, deveria ser a parte mais instigante. A direção de Francis Lawrence se mantém dentro do esperado e daquilo que ele já entregou antes, sabe trabalhar bem as reações e emoções dos personagens e transita de forma coesa pelas cenas de ação e tensão. As duas coisas em conjunto dão o tom certo para como tudo aquilo deve ser visto; um jogo cruel e político que condena seu povo à subserviência aos desejos e delírios da Capital. Além disso, a trilha traz um complemento para a trama junto à direção de arte, e ambas nos levam para dentro daquele ambiente violento e hostil.


Como adaptação, é bastante fiel, o que diferente do caso de Em Chamas não penso que tenha sido uma boa decisão, havia margem para melhora sem que se alterasse a trama, o que agregaria mais qualidade ao universo. Ficar preso às páginas do livro e ao emocional da saga acabou por deixar algumas escolhas nada orgânicas, utilizando o termo chulo, um “fanservice”, contudo, continua sendo uma boa produção que vale a pena ser assistida. A saga tem uma história interessante de se abordar pelo seu inescrupuloso e como governos autoritários não se prendem a qualquer tipo de consciência para permanecer no poder, afinal, para que servem os jogos vorazes?


Nota: 3,5/5


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