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Crítica | O Melhor Amigo

Foto do escritor: Ávila OliveiraÁvila Oliveira

Musical tropical é um espetáculo energético e apaixonante que não tem vergonha de exagerar.

Divulgação


Na praia de Canoa Quebrada, o reencontro entre Lucas (Vinicius Teixeira) e Felipe (Gabriel Fuentes) faz acender antigos desejos. Envolto na atmosfera ensolarada e musical do paraíso cearense, Lucas, em busca de uma paixão ardente e incerta, se permite viver as noites coloridas da cidade, mas descobre que Felipe, embora fisicamente acessível, permanece emocionalmente inalcançável.


O musical é um gênero com um quantitativo de produções escasso em relação a todos os outros. Com exceção das efusivas superproduções indianas, até mesmo Hollywood, mercado que popularizou o filme musical e se sustentou no gênero por décadas, deixou de demonstrar interesse neste estilo. Aqui no Brasil são poucos os longas que usam da música como diálogo direto ou inserção de pensamento. Apenas por isso, O Melhor Amigo já começa marcando pontos neste escore avaliativo que você parou para ler.


A produção é uma adaptação do curta-metragem homônimo do cineasta Allan Deberton, que resolveu recontar a história em vez de apenas expandi-la. O diretor usou, para além das músicas que são inseridas com sagacidade para impulsionar o roteiro, de recursos e alegorias narrativas e visuais que permitiram a história crescer, se desdobrar e criar uma linguagem diferente. Ainda assim o texto foca no presente da relação dos personagens principais, introduzida por um breve prólogo, e carece em se aprofundar em suas causas e consequências, o que traria mais força e alicerce ao roteiro.


Vinicius Teixeira é um ator fantástico e guia o enredo com uma atuação cheia de personalidade nos tempos do humor, no canto, na dança e às vezes só no olhar em alguns momentos em que a câmera insiste em fechar o plano bem próximo aos atores. Gabriel Fuentes apresenta completa desenvoltura e se mostra tão à vontade no volátil personagem que não parece ser seu primeiro protagonista nem seu filme de estreia no cinema. A dinâmica dos atores é bem construída numa relação desencontrada de desejo e insegurança que ambos desempenham muito bem.


O Melhor Amigo é também uma celebração queer. É um romance gay, é uma comédia gay, é um musical gay. E esse é mais um acerto do longa, em nenhum momento ele tenta esconder seus personagens, seu contexto e sua verdade. A presença de talentos como Denis Lacerda e Deydianne Piaf, e Rodrigo Ferrera e Mulher Barbada enriquecem as cenas mais lúdicas onde o escuro ambiente em contraste com os holofotes do palco se tornam o lugar seguro para a plena vivência dos personagens.


Divulgação


Para além disso tudo, este é um filme bonito plasticamente. O tratamento de cores intensifica o calor, a tropicalidade, o tesão e a sensação de delírio febril constante durante toda a produção. Allan e sua equipe souberam imprimir uma estética que remete aos excessos estéticos dos anos 80 e início dos anos 90 com neons, metalizados e estampas. É um filme exagerado em tudo e não só no visual. É exagerado nos sentimentos, nas texturas, nas músicas, porém não é um exagero que foge do tom, é um transbordamento da força do resultado que explode quase para fora da tela.


É um filme que nasce como clássico cult também por ser cearense, nordestino e brasileiro, por referenciar outros grandes filmes e por usar músicas já conhecidas e ainda assim consolidar um rosto próprio, um cenário próprio, uma identidade própria e cheia de caráter. Para quem revisita com frequência filmes como A Gaiola das Loucas (1996), Priscilla, a Rainha do Deserto (1994) e Mamma Mia! (2008) agora pode adicionar um título bem brasileiro à lista.


3,5/5



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