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Foto do escritorMatheus Gomes

Crítica | Pânico VI

Apesar de tudo, ainda temos fôlego para mais uma apunhalada

Foto: Divulgação


Imortalizado na cultura pop enquanto clássico do terror que tem como grande sacada seu tom meta satírico do subgênero slasher, Pânico, franquia idealizada por Kevin Williamson e Wes Craven, chega a sua sexta sequência mais de duas décadas depois de sua criação. Seguindo os eventos de Pânico (2022), o novo volume traz os sobreviventes do requel a Nova York, local em que tentam recomeçar suas vidas após o massacre de Woodsboro que marcou a volta do Ghostface.


De cara, percebemos que a premissa é bastante similar a de Pânico 2 (1997), que aqui é referenciado como um antecessor espiritual em razão da ambientação universitária, mas as semelhanças param por aí. Na trama, as irmãs Carpenter buscam, cada uma à sua maneira, se recuperar dos eventos traumáticos causados por Amber e Richie no volume anterior. Enquanto Sam (Melissa Barrera) procura na terapia uma explicação para seus sentimentos conflitantes em relação à Billy Loomis, seu pai e primeiro Ghostface, Tara (Jenna Ortega) compartimenta seu trauma em uma tentativa desesperada de se mostrar independente em face de sua irmã mais velha.

Em termos de roteiro, o que temos é uma história que não alça grandes voos, mas se mantém fiel à alma da franquia, apesar de todas as mudanças. A história é simples em grande parte de sua execução e, muito embora algumas inconsistências brinquem de testar a inteligência do espectador, as sequências são cativantes e seguem um bom desenrolar de relações entre os personagens. O foco aqui está, mais uma vez, nas irmãs Carpenter, que aliás apresentam uma dinâmica mais interessante em relação ao longa anterior.


Com boas mortes e uma grande competência em termos de efeitos práticos, o longa também aposta em sequências de suspense para escalar a tensão em sua narrativa. Como exemplo, temos uma cena filmada no metrô completamente extasiante, que casa perfeitamente bem com as nova pegada que vem sendo aplicada pela filmografia da dupla Olpin-Gillett.

Foto: Divulgação


Ainda, sabemos que não dá pra falar de Pânico sem falar de referências e, na ausência de Sidney Prescott (Neve Campbell), a regra aqui é quebrar regras. Nessa nova sequência, temos um contexto quase teatral em referência aos filmes que vieram antes dele. Se, até então, a franquia já era conhecida pela sua perspicácia nostálgica e metalinguística materializada na referência aos filmes Stab, esse novo ano praticamente engarrafa nostalgia para vender a varejo. Personagens do passado, easter eggs aos montes e menção direta com direito a foto a todos os Ghostfaces dos filmes anteriores fazem de ‘Pânico VI’ a sequência mais autorreferencial até então.


É justamente nesse ponto que os novos rumos da franquia dão as caras: se o longa de 2022 dava pequenos passos em volta de uma pedância para com a obra de Craven e Williamson (descanse em paz, Dewey), o novo capítulo escancara de vez a veia pretensiosa de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett e dos roteiristas James Vanderbilt e Guy Busick, que tem como objetivo dar uma repaginada na casa. É no brincar com as regras do próprio universo da franquia que a vemos se moldar ao tempo presente, utilizando-se de velhas cartas apenas para manter o combustível nostalgia queimando.


Não que isso seja algo ruim — longe disso. Pânico tem um questio que o deixa à frente de outras franquias slasher justamente por saber explorar o imaginário de seu espectador, e isso não poderia ser descartado logo agora. A sátira ácida e a rotatividade do assassino a cada novo capítulo propõem uma dinâmica que tem tudo para dar certo, exceto quando se exagera na dose.


Ora, essa vontade de revolucionar também pode revelar uma faca de dois gumes: aqui, um dos maiores problemas, sem dúvida, está na revelação do assassino — uma das piores de toda franquia. Se antes esse era o momento mais envolvente e esperado por quem assistiu os filmes anteriores (exceto, é claro, o infame terceiro filme), aqui o que temos é uma sequência insossa que beira o ridículo.


Com isso, apesar de tropeçar em alguns erros, Pânico VI se mostra bastante satisfatório no que se propõe. Com boas mortes e um ímpeto louvável de manter a franquia operante, o longa é um bom exemplo de que velhos costumes podem se transformar em novos hábitos sem perder a identidade, ainda que seja difícil admitir.


Nota: 3,5/5

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