Série ganha ares mais melodramáticos e consegue melhorar o que já era excelente
Foto: Divulgação/ Apple TV+
Baseada em um best-seller homônimo, a narrativa segue as esperanças e sonhos de uma família de imigrantes coreanos, ao longo de quatro gerações, ao deixar sua terra natal em uma busca para sobreviver e prosperar no Japão. Na temporada atual, a série conseguiu evoluir ainda mais sua carga dramática abordando as consequências da Segunda Guerra Mundial e com foco, claro, na família de Sunja (Minha Kim/Youn Yuh-jung) e as difíceis decisões que ela teve que tomar para garantir a criação dos seus filhos Noa (Kang Tae-joo) e Mozasu (Sohee Park). Enquanto isso, em 1989, Solomon (Jin Ha), neto de Sunja, lida com o mundo empresarial do qual havia tentado sair e passa a se envolver romanticamente com Naomi (Anna Sawai). Neste período, Sunja parece ganhar uma nova chance para o amor.
Dada estra breve sinopse da temporada, de longe, o melhor núcleo é o do passado e é onde Pachinko mostra sua verdadeira força. Toda a atmosfera pesada da Guerra é qual palpável aqui, quando as repercussões dela não param de afetar a família de Sunja, seja direta ou indiretamente. Minha Kim impressiona com uma sutileza avassaladora, que deixa impossível não se emocionar com ela. Sua personagem é colocada em diversos pontos onde precisa fazer escolhas complicadas, sendo a principal delas aceitar a ajuda de Hansu (Lee Min-ho), mas com uma condição: ele não pode revelar a Noa que é seu verdadeiro pai. É brilhante como o roteiro consegue trabalhar a relação dos dois sem julgamentos. Desde a 1ª temporada, o que era um bonito romance se tornou um pesadelo, mas há aqui uma reaproximação que soa completamente natural diante dos acontecimentos. É complexo encarar tantos sentimentos conflitantes, porém o desenvolvimento de ambos é muito bem construído, e não pensem que eu estou falando apenas no sentido amoroso, porque não há uma romantização propriamente dita.
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Noa está na fase da adolescência, então sua relação com Sunja é um tanto mais intricada por questionamentos. Eles se dão bem na maioria das vezes, no entanto, o peso do segredo que ela esconde dele, faz com que ela ceda em algumas situações, e depois tenha que mostrar mais pulso, o que evolui ambos os personagens. Mozasu é a criança mais fofa da televisão atual e o talento e carisma de Sohee Park garantem isso. Na criação dos filhos, Sunja é auxiliada por Kyunghee (Jung Eun-chae), sua cunhada, enquanto os maridos de ambas lutam na Guerra. A moça ganha mais destaque nesta temporada quando começa a se cativar pelo Sr. Kim (Sungkyu Kim), que também trabalha nas terras de Hansu junto dela e de Sunja. O amor proibido não é uma novidade na série, mas não há problema quando a concepção é tão bonita como acontece com os dois. Não só pelo contexto da época e por serem casados com outras pessoas, eles tentam como podem não se entregar e é impensável que a gente não torça pelo casal diante de tanta química. Esta trama é mais um dos pontos de destaque da temporada.
Pachinko perde um pouco de sua força quando nos transporta para 1989 e o arco de Solomon, mesmo que divida a tela com a sempre maravilhosa Anna Sawai. Não é que seja ruim, mas os conflitos empresariais não me parecem tão instigantes quanto testemunharmos a luta de uma jovem mãe diante dos horrores de uma guerra. Aqui, são as típicas traições que já vimos em tantas outras produções, ainda que tenham graves consequências. O melhor é ver a relação de Solomon com uma Sunja já cheia de vivência e é sempre um deleite ver a vencedora do Oscar Youn Yuh-jung atuar. Sunja possui uma vulnerabilidade e uma força em qualquer fase da vida e suas intérpretes transparecem isso, que é o fator principal da série. Se o passado é pesado, é bom contrastar com a leveza de um possível novo amor e ainda mais em uma idade avançada depois de tanta luta e sofrimento. É um equilíbrio necessário, mas onde sequelas do passado ainda interferem porque, infelizmente, a vida é assim.
A série continua visualmente deslumbrante seja mostrando os belíssimos campos de flores em uma cena de primeiro beijo ou mostrando a área cinza cercada pelas tragédias de uma guerra. O roteiro encabeçado pela criadora e showrunner Soo Hugh consegue impactar com delicadeza e prova disso é o segundo episódio da temporada, que é um dos melhores do ano e um dos mais tristes que eu assisti na vida. E acredite, eu já assisti muitos. A direção elegante acompanha a sutileza, sejam em cenas com grandes brigas ou até nas mais silenciosas que se tornam poderosas. Pachinko aumenta o melodrama com segredos, amores proibidos, traições, filhos pródigos etc., mas não perde sua essência e jamais cai na banalidade do choque gratuito. É um drama único e eu espero que o Apple TV+ renove logo para 3ª temporada. A televisão precisa de mais Pachinko e nós também.
Nota: 4,5/5
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