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Crítica | Pai Mãe Irmã Irmão (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 7 dias
  • 2 min de leitura

Jim Jarmusch explora as distâncias emocionais nas relações familiares

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Foto: Reprodução


Em certo momento de Pai Mãe Irmã Irmão, ao final da primeira das três histórias que compõem o filme, Jeff (Adam Driver) diz a sua irmã (Mayim Bialik): “podemos escolher nossos amigos, mas não nossa família”. Ele afirma estar se referindo ao pai de ambos (Tom Waits), com o qual dificilmente possuem algum vínculo emocional, mas a frase também se aplica aos dois, que não conseguem esconder o quão parecem estranhos um para o outro.


Por pelo menos dois terços da sua duração, Pai Mãe Irmã Irmão enfoca famílias cujos membros se veem emocionalmente distantes uns dos outros, ainda que estejam fisicamente perto (ou às vezes nem isso). O diretor Jim Jarmusch, um dos nomes mais proeminentes do cinema independente estadunidense, promove reuniões marcadas pela frieza, palavras vazias e vagas, desconfortos tão palpáveis que certamente ecoarão em quem vem de ambientes familiares assim constituídos. Sejam estes filhos com seu pai na primeira história, ou as filhas (Cate Blanchett e Vicky Krieps) lidando com a falta de afeto da mãe autoritária (Charlotte Rampling) na segunda, os laços que unem esses personagens são mais nominais do que efetivamente reais.


O diretor constrói algumas rimas temáticas e visuais (as cores em comum nas roupas, as presenças dos skatistas, os trajetos dentro de carro, os planos zenitais) que ajudam a “costurar” as três histórias independentemente de onde se passam – EUA, Irlanda ou França. No entanto, por mais que aposte nesse elemento de desconforto (com uma certa dose de humor), o filme não sai muito além desse lugar, nos fazendo perguntar exatamente o que há para além dessas relações familiares disfuncionais, ao ponto das rimas tornarem essas duas histórias iniciais um tanto parecidas entre si. 

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Foto: Reprodução


Talvez por isso minha história favorita seja a terceira, que se distingue das outras duas ao apostar no laço amoroso entre os irmãos gêmeos Skye (Indya Moore) e Billy (Luka Sabbat) enquanto lidam com o luto pela perda dos pais. Curioso que num filme em que temos atrizes e atores do porte de Blanchett, Driver, Rampling e Krieps, talvez seja Moore quem se destaque ao fazer essa figura enlutada pelos pais, mas ainda assim se permitindo viver enquanto acessa belas e dolorosas memórias ao lado do irmão. É um passo além que Jarmusch dá, assegurando também que o que vejamos neste último ato não seja uma mera repetição do que foi visto nos outros núcleos.


Pai Mãe Irmã Irmão oferece esse simpático retrato do que é ser família, sem romantizá-la ou também vilanizá-la. Nada muito excepcional, mas feito com a competência habitual de um veterano e também ancorado num elenco muito seguro e entrosado (ainda que a ideia, pelo menos nas duas histórias iniciais, seja justamente a falta de entrosamento). Quer amemos ou não a nossa família, há algo para se identificar aqui, e talvez nisso o filme se dê por satisfeito.


Nota: 3/5


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