Série continua impressionando ao elevar sua já altíssima qualidade
Foto: Divulgação/ Apple Tv+
Quando estreou quietinha lá em 2022, a única coisa que eu sabia era que Gary Oldman seria o protagonista e a trama envolvia espionagem, mas me apaixonei à primeira vista e o que já começou ótimo, conseguiu evoluir e se superar focando nas missões de uma equipe disfuncional e subestimada do MI5. Neste 4º ano, já começamos com o pé na porta, com o enredo girando em torno de River (Jack Lowden) e seu avô David (Jonathan Pryce) e da explosão de uma bomba em um shopping center. Com o passar dos episódios, vamos entendendo as conexões através de uma construção narrativa que jamais subestima o telespectador, atingindo todas as notas a que se propõe – e olha que não são nada fáceis –, então se há coisas previsíveis, é porque havia a intenção de contar bem uma história sem a necessidade de um choque banal.
Em seis episódios, como de costume, não dá para perder tempo com devaneios, mas não se pode deixar o desenvolvimento dos personagens de lado. Este é um dos maiores trunfos de Slow Horses, que consegue envolver todos os agentes na trama, e ainda introduzir novos, como é o caso de Emma Flyte (Ruth Bradley) e Claude Wheelan (James Callis) de uma maneira orgânica e funcional. Há muita informação em jogo, mas a história jamais soa afobada, mesmo com poucos episódios. De início, podemos até ficar um pouco confusos – seria uma metáfora para a mente de David? –, porém pouco depois a série já no ambienta bem e mostra o que quer, sem balela de guardar para depois. Há uma evolução constante até chegar no clímax, sem que o vilão ou suas motivações sejam reveladas a princípio. Eu digo “vilão”, mas é um maniqueísmo muito bem utilizado.
Foto: Divulgação/ Apple TV+
Como eu disse, a relação de David e River é um dos focos aqui e é trabalhada de uma forma tão delicada, tão honesta, não só pelo texto, mas graças às performances irretocáveis de Lowden e Pryce, porque mesmo que os personagens fiquem parte do tempo separados, o elo formado já é uma constante. Abordagem da demência de um ex-agente é feita com maestria e em equilíbrio com os diversos gêneros presentes, como sempre. É claro que Lamb, o protagonista de Gary Oldman não fica de lado, e junto com Louisa (Rosalid Eleazar), Catherine (Saskia Reeves), Shirley (Aimee-Ffion Edwards), Roddy (Christopher Chung) e Marcus (Kadiff Kirwan) ainda têm muito pelo que lutar na temporada, principalmente por suas vidas, já que a série elimina constantemente seus personagens. É triste com certeza, mas nunca é de forma gratuita, porque é um trabalho perigoso, então este senso de urgência é essencial onde há tanto em jogo. E devo dizer, claro, que todo o elenco é um espetáculo, passeando com elegância do drama ao cômico. Há muita qualidade envolvida e nomes como Oldman, Pryce e Kristin Scott Thomas não se meteriam em qualquer coisa já com suas carreiras consagradas. É fantástico vermos atores veteranos em personagens tão bons.
O humor é um dos pontos mais altos, graças ao texto brilhante de Will Smith e sua equipe de roteiristas, que consegue aliviar momentos dramáticos ou de extrema tensão sem jamais parecerem deslocados. Definitivamente não foi à toa que levou a estatueta de Melhor Roteiro no Emmy deste ano pelo 3º episódio da temporada passada. É tudo muito bem amarrado, com reviravoltas pontuais, sem esquecer de desenvolver os personagens e através de diálogos espetaculares. É uma delícia acompanhar os pangarés, mesmo quando há uma atmosfera mais pesada. A tensão criada é quase palpável, com a direção segura de Adam Randall que esteve por trás dos seis episódios, com cenas mais brandas ou que exigissem mais fisicalidade, com lutas corpo a corpo bem ensaiadas ou sequências de perseguições e tiroteios dignas dos melhores filmes de ação. Ou seja, não subestime o poder da televisão. O final da temporada, intitulado “Hello, Goodbye”, é um dos melhores episódios de qualquer série este ano e é o resultado de uma construção feita desde a estreia, lá em 2022. E já que é uma série que respeita a audiência, teremos mais Slow Horses em 2025. Como eles vão conseguir melhorar o que é perfeito, eu não sei, mas se conseguir manter o nível, já vai ser melhor do que 95% da enxurrada de produções atuais.
Nota: 5/5
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