Crítica | Superman
- Ávila Oliveira
- há 7 dias
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Inofensiva, nova adaptação é leve, bem-humorada, mas repete a fórmula sem somar nem subtrair.

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Acho interessante como o James Gunn se tornou algo próximo a um “autor” para algumas pessoas no tocante a filmes de heróis. Indubitavelmente ele mostra, desde os Guardiões da Galáxia (2014), ainda na concorrente, um domínio da linguagem narrativa dos quadrinhos filmada no melhor dos moldes comerciais de Hollywood, unindo humor e ação com personalidade. No entanto, ele gradativamente foi mostrando que suas qualidades também o limitam, pelo menos dentro do cinema (assisti ao seriado Pacificador recentemente e percebi que a estrutura de episódios dá um ritmo mais fluido para seus textos). De lá para cá ele se repetiu muito e não trouxe tantas variações e inovações na forma.
Seu trunfo mais uma vez é no texto. Este é, até aqui, o Super-Homem mais humanizado em longas-metragens. O personagem sempre apresentou este conflito de identidade entre o homem e o ser de outro planeta, mas Gunn consegue expressar essas questões através de palavras e ações que não soam robóticas ou encapsuladas como em filmes anteriores. E o humor tem um papel fundamental nessa naturalização do questionador Kal-El. O roteiro apresenta uma proposta de introdução de um dos personagens principais num universo de heróis DC Comics previamente estabelecido, uma reapresentação, e isso traz boas oportunidades como a possibilidade de inserir novos personagens em novos contextos, mas por vezes parece lutar contra o próprio espaço diegético, buscando soluções tolas demais até mesmo para o tom da comédia. Ele tenta abordar elementos demais em pouco tempo que ao fim parece estamos vendo uma conclusão de algo que não vimos começar direito. Por fim, venhamos e convenhamos, é uma bobice que já foi repetida incontáveis vezes no cinema – e não só com este personagem – e que também se repete no longa mesmo buscando se justificar sempre que possível.

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Gunn também foi esperto o suficiente em trazer um filme neutro mas que serve para o contexto que o espectador quiser inseri-lo dentro das suas convenções geopolíticas subjetivas. O roteiro parece se preocupar demais com imigração, guerras entre nações, brigas por territórios, ricões malvados, ataques em massa nas redes sociais, mas nunca encontra a abordagem correta de cutucar sem querer fazer piada, é uma sátira que não sai do papel, ou que até sai mas de maneira torta.
O elenco é dedicado e ajuda bastante na construção do carisma e do bom-humor. David Corenswet parece confuso no personagem-título, e, de uma forma ou de outra, isso tornou seu trabalho excelente para vestir as roupas do herói no contexto deste filme.
No mais, fiquei constrangido com várias escolhas que saíram diretamente dos quadrinhos, mas que filmadas parecem perder a força que o imaginário da figura estática evocava no leitor. O cachorro Krypto, a execução do universo compacto e o Baby Joey são alguns dos pontos que parecem deslocados e que me atrapalharam mais do que ajudaram a comprar a ideia do todo. É feito para os fãs e para quem não pensa demais em tudo que o cinema de heróis já passou até aqui. O Ávila de décadas atrás iria vibrar, hoje não me afeta mais, pelo menos positivamente.
Nota: 3/5