Uma jornada sobre cicatrizes, memórias, luto e amadurecimento
Foto: Divulgação
Makoto Shinkai é hoje um dos grandes nomes quando o assunto é anime, e isso deve-se, principalmente, ao grande sucesso que alcançou com Your Name, filme que estourou a bolha e atingiu diversos públicos que comumente não consomem animes. Quando fiquei sabendo que esse diretor estava trabalhando em um novo projeto logo a curiosidade tomou conta e meu olhar se aguçou para o que poderia ser mais uma obra bastante relevante e que abordaria temas importantes, algo bem característico de Shinkai. Felizmente minhas expectativas não foram frustadas já que em Suzume acompanharemos uma aventura épica, repleta de elementos sobrenaturais, mas que se desenvolve como uma linda jornada de amadurecimento mergulhada em memórias, histórias e lembranças.
No longa, conhecemos Suzume, uma garota de 17 anos, estudante do ensino médio, que leva normalmente sua simples vida na pacata cidade de Kyushu no Japão, quando certo dia um desconhecido e belo garoto chamado Sota atravessa seu caminho à procura de ruínas que existam na cidade e supostas portas abandonadas. Fascinada pela beleza do rapaz, Suzume resolve segui-lo até as antigas estruturas, quando inesperadamente se depara com a única coisa ainda de pé, uma porta que parece levar a lugar algum. Ao se aproximar da porta ela se dá conta de que aquilo nada mais é que um portal para uma terra desconhecida, completamente diferente de sua cidade. Sem conseguir atravessar o portal, Suzume explora o local e acaba retirando uma estátua ali próxima que acaba se transformando em um gato, o que gera a aparição de uma sombra misteriosa juntamente com um terremoto que pode destruir a vida de todos da cidade.
Graficamente não há o que falar da obra, a não ser o fato de tudo ser muito lindo, bem feito e com uma beleza que encanta; o que não é surpresa para ninguém, visto que isso é uma marca registrada do diretor, mas aqui ele consegue se superar. O modo como o Japão e suas paisagens, tanto rurais quanto urbanas, são retratadas é de se admirar, e até mesmo as batalhas fazem os olhos brilharem para o que é visto na tela. Vale destacar também a maravilhosa trilha sonora, que sabe a hora de usar o instrumental para ressaltar um clima de tranquilidade e paz, bem como o uso do mesmo na hora de aumentar a tensão por meio de diferentes formas, ritmos, e amplitudes.
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Mais uma vez, como em outros trabalhos de Shinkai, os fenômenos naturais tomam conta e interferem de forma sobrenatural e direta na vida de seus personagens. Em um road movie que se pauta na busca por novas portas, os protagonistas viajam e percorrem diversas províncias com locais em ruínas que foram inspirados pelos desastrosos resultados do terremoto que aconteceu no Leste do Japão em 2011 e resultou em mais de 19.700 mortes e inúmeros desaparecidos. A força e o poder em relembrar cicatrizes que ficaram marcadas tanto no terreno quanto na memória daquele povo é grandiosa. Afinal, são histórias e lembranças de milhares de famílias despedaçadas e afetadas que existem em cada pequeno lugar solitário e viverão para sempre na memória de cada um.
Construir e fortificar relações é um ponto forte do diretor. É incrível como ele consegue construir algo sincero, natural e gradativo que vai acontecendo não só entre os protagonistas, como também entre todos os personagens que aparecerão durante a jornada. A sensibilidade para tratar de temas cotidianos e simples lições de vida de forma mirabolante faz com que seus projetos se destaquem em meio a tantos outros. Ao mesmo tempo que fala de coisas simples, consegue em muitos momentos gerar um senso de urgência que cresce devido à presença de uma ameaça grandiosa, o que resulta em ótimos momentos de tensão que te deixará vidrado.
Acredito que Makoto Shinkai ainda não recebeu o reconhecimento que merece dada a grandeza e maestria de seus trabalhos. Confesso que Your Name ainda é meu favorito, mas Suzume não fica muito atrás em qualidade quando comparado ao longa mais famoso do diretor. A duração do longa é o único ponto negativo que tenho a destacar, visto que em determinada parte a história diminui o ritmo e se estende um pouco mais do que deveria, mas nada que tirasse minha imersão. Finalizo dizendo que mesmo em uma aventura grandiosa e mágica o que irá atingir o telespectador e fazê-lo pensar no filme por bastante tempo serão os acontecimentos mais simples e o modo como os personagens lidam com eles.
Nota: 4/5
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