Crítica | Amores Materialistas
- Aianne Amado
- 4 de ago.
- 3 min de leitura
Uma romcom sem romance e sem comédia.

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Acabei de chegar do cinema após assistir Amores Materialistas. No único horário possível para mim, a sessão disponível era na sala prime — aquela que cobra 100% a mais por um serviço apenas 5% melhor. “Vai valer a pena”, pensei, ao lembrar que estava prestes a ver: (1) uma comédia romântica clássica, daquelas que entraram em extinção desde o início dos anos 2000, como sugeria o trailer; (2) estrelada por Pedro Pascal, um dos atores mais versáteis e com mais potencial de movie star da atualidade; e (3) escrita e dirigida por Celine Song, que também escreve e dirige o belíssimo Vidas Passadas (2023). Agora, sentada diante do computador, percebo que o que me sai não é exatamente uma crítica — é um desabafo de quem acaba de viver um catfish* cinematográfico.
Sempre que ouço histórias de golpes virtuais, me pergunto: quão ingênua foi a vítima para acreditar? Hoje, me pergunto se a ingênua fui eu. Mesmo com anos de consumo e estudo da indústria hollywoodiana, ainda acreditei nos trailers, nas entrevistas, na promessa do elenco e da direção. Mas se me venderam um gênero, um co-protagonista e uma visão autoral, o que mais eu poderia esperar?
A verdade é que Amores Materialistas não é cômico e é bem pouco romântico. Embora tente homenagear as grandes romcoms, leva-se sério demais para refletir qualquer humor genuíno. O resultado é um grande pastel de vento: visualmente fiel ao gênero — com cenários nova-iorquinos bem iluminados, figurinos atemporais e trilha pop animada —, mas internamente oco. A narrativa até ensaia uma mensagem (o amor verdadeiro não é uma lista de exigências), mas a repete tanto e com tamanha artificialidade que acabamos duvidando se o próprio roteiro acredita nela.
Numa das cenas mais anti climáticas já protagonizadas por duas pessoas tão bonitas, Lucy (Dakota Johnson) descobre que o personagem de Pascal comprou 15 cm de altura e, com isso, conclui que não o ama mais. Juro. Essa cena, que acontece em cerca de dois terços do filme, põe fim a um morno e breve triângulo amoroso entre Pascal, Johnson e Chris Evans, e se despede do melhor ator do trio, com seu potencial criminosamente subaproveitado. Aliás, ambos os coadjuvantes masculinos mal chegam a ter uma dimensão: são definidos apenas por seu status civil e sua posição na pirâmide social. A única motivação que os move é ficar com Lucy — mas o filme nunca nos convence do porquê, já que a coisa mais interessante sobre ela, sua profissão de casamenteira de elite, é rapidamente descartada e mal explorada.
Não ajuda o fato de Johnson ser uma atriz tão mediana, incapaz de carregar o protagonismo que lhe foi dado, mesmo num filme centrado em conflitos tão superficiais. Lucy é uma mulher de classe média batalhadora, determinada a mudar seu futuro e vencer financeiramente – ou ao menos é isso que o roteiro diz. Na prática, sua postura refinada e elegante denuncia a nepo baby por trás. Nunca acreditamos que aquela mulher pertence ao universo da classe trabalhadora, que está deslocada em ambientes luxuosos e será feliz e realizada andando num carro velho. Um erro crasso de escalação que mina a verossimilhança desde a primeira cena.

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Celine Song parece ter tentado aplicar a sensibilidade de Vidas Passadas a um gênero que carece justamente de leveza e frescor. O resultado é uma tentativa de comédia romântica que não diverte, um drama romântico que não emociona, e uma crítica aos relacionamentos modernos que não se sustenta. E de nada adianta tentar fugir de tantos clichês se no final sua mensagem é talvez o clichê mais batido de todos: que o amor é a maior ambição.
Ao escrever essa crítica, me pego questionando: será que, sem expectativas, eu teria gostado do filme? Acho dificil. Talvez desgostasse um pouco menos. Mas essa hipótese pouco importa. Em 2025, nenhum filme começa ou termina na sala de cinema — o entorno faz parte da experiência. E o entorno de Amores Materialistas me vendeu gato por lebre.
Nota: 2,5
* Termo em inglês para quando alguém finge se passar por outra pessoa em redes sociais.