Crítica | That Summer in Paris | 2025 SFFILM Festival
- Ávila Oliveira

- 30 de abr.
- 2 min de leitura
Protagonista simpática carrega o filme com leveza e bom humor espontâneo.

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Paris, Jogos Olímpicos de 2024. Blandine (Blandine Bolbec), 30 anos, viaja da Normandia para assistir às competições de natação. Atormentada pelo caos da cidade e por uma onda de infortúnios, ela percorre as ruas movimentadas da capital francesa e inesperadamente retoma os laços com sua meia-irmã e sobrinha, de quem estava distante.
No início deste ano assisti ao gracioso curta-metragem Susane (2025), de Gerardo Coello Escalante e Amandine Thomas, no Festival de Sundance. Ele conta a história de uma turista estadunidense de meia idade que viajou sozinha ao México e se esforça para aproveitar ao máximo suas férias mesmo sem companhia e com bastante vontade de socializar. That Summer in Paris parte de uma premissa semelhante, só que dessa vez conta a história de uma mulher “perdida” e sozinha em seu próprio país, mesmo inserida num acontecimento de porte mundial como os Jogos Olímpicos. Inclusive, excelente a sacada de rodar um filme durante o evento de 2024, aproveitando toda a estrutura e movimento de pessoas, em vez de tentarem reproduzir aquele zeitgeist que nunca chega a se concretizar da mesma forma por mais que a equipe de direção de arte se esforce, afinal, vai além da cenografia e da imagem, é uma “atmosfera” no sentido mais saturado da palavra.
A protagonista Blandine Bolbec dá um banho de carisma e simpatia. A encantadora atriz consegue, com poucas palavras, equilibrar sinceridade, medo, dúvida e simpatia num papel que exige autocontrole para não fugir das delimitações da personalidade. A cena em que a irmã da protagonista Blandine entrega a ela uma pulseira com uma pedra granada e diz que a rocha tem tudo a ver com Blandine porque é transparente e opaca ao mesmo tempo, resume bem a persona que Bolbec desenvolveu com primor. O pouco que sabemos da personagem é através das poucas interações que ela tem com os poucos coadjuvantes.

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As Olimpíadas servem como catalisador das motivações dos personagens, tanto de Blandine como dos personagens secundários. É por causa de “Paris 2024” que Blandine resolve ir à capital francesa na tentativa de se reconectar com a família, que a meia-irmã resolve conhecer pessoas novas, e que o ex-marido da meia irmã protesta contra as estruturas sociais. É a chance que todos têm de quebrar a rotina e colocar para fora realizações pessoais e anseios e reprimidos. O pequeno arco do ex-marido da meia-irmã, diga-se de passagem, serve para cutucar o contraste entre as Olimpíadas idílicas e turísticas em oposição à realidade política e social que se tenta esconder para a realização dos Jogos.
É um filme engraçado de forma orgânica, sem precisar desenhar situações absurdas e confusões generalizadas. Mas é também um drama maduro que aborda a solidão de forma consciente e bem pensada, bem refletida, como uma escolha lúcida de encarar a vida com seus altos e seus baixos. E isso é filmado com cores vibrantes do verão francês nas roupas e nos objetos, em pontos focais da cenografia. É um longa sobre desencontros de jornadas, que sabe valorizar os encontros e que mostra que a volta é parte importante de uma viagem.
Nota: 3,5/5





