A melhor volta às aulas da TV
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Não foi por sorte que Abbott Elementary levou três dos sete prêmios aos quais foi indicada no Emmy de 2022. A sua primeira temporada mistura o frescor de uma comédia única e inédita com a nostalgia trazida por elementos emprestados de clássicos como The Office, Modern Family e Parks and Recreation; a leveza de uma narrativa sobre uma escola infantil, em que 90% dos figurantes são crianças, com a importante denúncia sobre as precariedades do sistema de ensino público; a simplicidade de personagens bem delimitados com a complexidade de relações profundas entre eles. E, mais importante de tudo, é engraçada.
Para a segunda temporada, a sala de roteiristas se viu de frente ao desafio de manter essa tão bem recebida fórmula, mas sem se tornar repetitiva. Existia uma dose bem específica de inovação a ser feita para manter o patamar mas continuar surpreendendo. E eles conseguiram.
Nova temporada, novo ano letivo e a velha dinâmica de romance sigiloso entre Janine (Quinta Brunson) e Gregory (Tyler James William) está ameaçada. O desenrolar desse casal, que vive um clássico “will they, won’t they?” cenário construído com perfeição (sendo comparável a ninguém menos que Pam e Jim) sustenta o suspense que nos deixa ansiosos para o próximo episódio.
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Mas Abbott Elementary não é uma obra de romance. É sobre o dia a dia entre colegas de trabalho e, ao meu ver, é com os coadjuvantes que a série brilha ainda mais. Esse é um dos raríssimos casos em que o roteiro entende seus personagens desde o episódio um, não precisando de grandes modificações em suas personalidades para torná-los engraçados ou simpáticos. Adoramos cada um deles desde a cena 1 e, a cada detalhe que sabemos mais sobre cada um, nos apaixonamos cada vez mais. Certamente, o fato de serem interpretados por atores com timing cômico perfeito também ajuda nessa afeição.
Entendendo isso, a segunda temporada nos dá um gostinho a mais das vidas pessoais de cada professor, a bagagem familiar, financeira e emocional que os levou a ser esses personagens. Assim, os conflitos escolares/profissionais, que nunca deixam de existir, ganham uma profundidade maior.
Merece ênfase também a sensibilidade da série. Em um mundo em que ainda se debate se piada de cunho preconceituoso é considerado humor, Abbott Elementary se une a Superstore e Brooklyn Nine-Nine para provar que é mais que possível fazer rir com o absurdo rotineiro. Numa série sobre ensino infantil, seria muito fácil usar as próprias crianças como objeto da piada. Mas não seria moralmente correto ou, sejamos francos, de qualquer bom gosto. Então, a série não ri dos alunos, ao contrário, muitas vezes usa a criança como quem entrega a piada, sempre destinada a um adulto.
Se a primeira temporada colocou os holofotes na série, a segunda temporada traz um significativo amadurecimento, se estabelecendo como mais importante sitcom da TV aberta americana da modernidade. Vida longa!
Nota: 4/5
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