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Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | Bizarros Peixes das Fossas Abissais

Uma aventura bizarra, envolvente e instigante

Foto: Divulgação


Tenho a mania de tentar evitar o máximo de informações possíveis quando vou assistir algo, aprendi a ignorar trailers, a não ler sinopses e deixar toda a experiência para a hora que paro para dar play. É arriscado? Talvez, já caí em muitas armadilhas, mas é, para mim, a melhor forma de apreciar um filme, seja ele bom ou ruim, vai ser sempre uma surpresa. No caso de Bizarros Peixes das Fossas Abissais, um filme animado com um título nada convencional, já fiquei com a curiosidade atiçada logo de cara. A melhor parte é que ele não decepcionou.


Escrito e dirigido por Marão, e com as vozes de Natália Lage, Rodrigo Santoro e Guilherme Briggs, a animação nos apresenta a uma heroína um tanto peculiar. Ela consegue metamorfosear partes do corpo em animais e assim enfrentar seus inimigos. Acompanhada de uma nuvem que sofre de incontinência urinária e uma tartaruga com transtorno obsessivo-compulsivo, ela se aventura em busca de uma cura para o seu avô, que tem problema de memória.


Nos minutos iniciais o filme já causa a sensação de que você está assistindo a um gibi ganhando vida diante dos olhos. Os traços familiares de uma revista em quadrinhos trazem um certo aconchego enquanto a história vai se passando. Algo bastante maleável e flexível que tem um infinito de possibilidades, e Marão explora isso com bastante cadência de uma mente e criatividade ilimitadas.

Foto: Divulgação


O roteiro rápido faz com que o longa flua com suavidade ao ir apresentando os personagens e a trama ao público, ele permite que haja uma imersão através do visual e torna a história fácil de se apegar. Há uma liberdade muito perceptível em relação a como tudo se desenvolve, os caminhos que toma, as possibilidades que são trazidas para as telas. Uma vibe espacial, inimigos atravessando a atmosfera, a profundeza de um oceano, e, ao mesmo tempo, a normalidade de uma rua comum, uma venda de esquina, trânsito, semáforo. Há um paralelo constante entre o infinito universo fantasioso e o cotidiano pacato, o que torna ele ainda mais gostoso de assistir.


A direção de Marão possibilita que seus próprios pensamentos ganhem o tom correto para aquilo que foi imaginado, poder dar vida ao que se criou da maneira como quis, faz a experiência se tornar mais cativante. Ainda há também o trabalho de Lage, Santoro e Briggs, que conseguem dar a vida necessária a animação. Além de uma trilha que consegue acompanhar todas as bizarrices postas em tela.


O conceito de utilizar as cores para transmitir a essência dos personagens ao ir contando a história é um dos pontos positivos que trazer mais personalidade ao filme. A ausência de cor quando é o avô da heroína em perspectiva é o que dá um tom tocante ao filme por dar uma proximidade com algo bastante comum do nosso cotidiano.


Para encerrar, a bizarrice de Marão nos faz perceber o quanto temos uma infinidade de possibilidades em animação para o cinema nacional. Além do desejo de ver mais produções, ter mais opções, e poder apreciar mais trabalhos onde o artista possa ter a liberdade de transmitir e contar tudo que lhe cabe na mente. Fica o desejo para um futuro mais repleto desse gênero em nossas telas.


Nota: 4/5

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