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Foto do escritorAna Bia Andrade

Crítica | Entre Estranhos (Minissérie)

Nova série do Apple TV+ tem boas intenções, mas subestima o seu próprio telespectador

Foto: Divulgação


Para construir um bom mistério, é necessário alguns critérios importantes – ambientação detalhada, personagens cativantes, um enredo que trafegue bem entre o enigmático e o satisfatório e, obviamente, uma reviravolta eficaz. Porém, preencher esses requisitos não é sinônimo de dever cumprido, visto que o pote de ouro está na maneira em que a história é contada. E é justamente neste último ponto que a nova série do Apple TV+, Entre Estranhos, erra de forma brusca, desperdiçando um bom elenco e, pior, uma boa ideia.


Entre Estranhos conta a história de Danny Sullivan (Tom Holland), um jovem misterioso que acaba sendo preso após iniciar um tiroteio em plena luz do dia, no Rockefeller Center, em uma Nova York da década de 70. A razão por trás do crime parece ser uma incógnita para os policiais do caso, que logo buscam o auxílio da professora Rya Goodwin (Amanda Seyfried), especialista em transtornos da mente humana.


Durante suas sessões, Rya tenta encontrar fagulhas do passado de Danny que possam vir a justificar os seus últimos atos violentos e os achados peculiares em sua residência. Essa dinâmica traz constantes retrospectivas temporais, conforme o diálogo dos dois personagens vai progredindo e tornando-se mais denso. Ariana (Sasha Lane), Yitzak (Lior Raz) e Jonny (Levon Hawke) também são alguns personagens que fazem parte dos sucessivos eventos que levaram Danny até o fatídico tiroteio.


É importante frisar também que Entre Estranhos foi baseada no livro As Mentes de Billy Milligan, escrito por Daniel Keys. A obra conta a história real do próprio Billy Milligan, um homem atormentado por vinte e quatro personalidades diferentes e acusado de crimes como estupro, sequestro e roubo. Por mais que a série tenha sido construída a partir do julgamento de Milligan, a trama, e o próprio Danny, seguem linhas distintas do caso criminal legítimo. Em seus dez episódios, a série busca criar uma atmosfera de suspense, ao passo que também traz uma carga dramática intensa para a narrativa. Daí, somos apresentados à adolescência de Danny, aos conflitos entre sua mãe e seu padrasto e, mais à frente, aos seus traumas de infância.

Foto: Divulgação


Dito isso, por mais que Entre Estranhos possua uma premissa interessante e sedutora, sua montagem, edição e duração não fazem nada para tornar a experiência do telespectador agradável. Tudo soa prolongado demais e pedante demais, o que até acaba prejudicando a exemplar atuação de Tom Holland. O seu personagem paga pela forma cansada em que sequências são montadas e conjugadas entre si – é sempre o mesmo movimento de retornar ao passado e trazer um Danny mais confuso no presente.


Quando a série opta por fugir da sua estratégia de salto temporal ao passado, a história torna-se mais dinâmica e atraente. Um exemplo disso é o episódio 6, intitulado Rya, que tem o seu foco mirado na personagem de Seyfried e em seus desafios pessoais e profissionais acerca do caso.


Para fazer justiça à totalidade de Entre Estranhos, percebe-se que há um cuidado diante da conversação sobre saúde mental e como certos abusos podem afetar a mente humana de formas inimagináveis. Nesse âmbito, o roteiro de Akiva Goldsman (Uma Mente Brilhante) consegue refletir sobre a importância que o eixo temático merece, especialmente porque estamos falando de uma série baseada em acontecimentos reais, numa época de pouca compreensão sobre o adoecimento psicológico.


Entretanto, Entre Estranhos resolve tomar uma das piores decisões criativas para o desenrolar de um suspense – esconder informações nas quais o público já conseguiu entender de cara. O resultado dessa escolha é um grand finale enfezado. É muito difícil manter o telespectador atento quando o material acaba ficando para trás, sugerindo pistas para um plot óbvio e escancarado. Talvez se o roteiro fosse mais honesto em suas decisões, a produção poderia debruçar de uma maneira ainda mais incisiva e menos clichê sobre as circunstâncias em que Danny se encontra.


Para um bom entendedor, meia palavra basta, e infelizmente a série Entre Estranhos não consegue entender que o seu público é um observador astuto. Em sentido amplo, a série parece ignorar notas singelas que são essenciais para tornar um enredo interessante. Muitas coisas poderiam ter sido diferentes se ao menos a obra usasse os seus longos episódios para dissecar seus personagens sem pudor, e sem antecipar a chegada de uma grande revelação que já foi decifrada.


Nota: 2,5/5

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