Afinal, os monstros nascem ou são criados?
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Uma mãe solteira que vive com seu único filho começa a perceber mudanças negativas em seu comportamento sempre que ele chega da escola. Após conversar com a criança a mãe resolve ir ao colégio questionar a diretora e o professor do aluno e descobre que os problemas envolvem camadas profundas e mais personagens do que ela pensou, e culminam com o desaparecimento do jovem.
O diretor Hirokazu Kore-eda tem uma abordagem ímpar para filmar dramas. Por mais que ele esteja abordando temas deprimentes, pessimistas e que condenam a natureza humana – o que ele faz com frequência – , sempre existe um afago na direção que suaviza e romantiza (as vezes até demais) esses reveses. E aqui isso se intensifica com a última (e melosa) trilha sonora do grande Ryuichi Sakamoto pesando no drama a ponto de ficar mais açucarado do que o necessário.
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O texto de Yuji Sakamoto é o grande trunfo e o alicerce de uma detalhada e minuciosa construção. O foco da narrativa é o personagem Minato Mugino (Soya Kurokawa), mas todos os arcos que giram em torno dele são ao mesmo tempo paralelos e transversais à história central. E isso permite um efeito Rashomon com tempo de sobra para os coadjuvantes desenvolverem suas motivações, causas e consequências sem prejudicar nem desperdiçar seus tempos em cena. E, por mais que o termo “monstro” esteja ligado diretamente a uma brincadeira que o Minato joga com um de seus colegas, ele perpassa todas essas pessoas e situações fazendo uma inteligente dança das cadeiras sobre culpa, traumas e libertação.
Confesso que quando a produção chega ao início de seu ato final fiquei receoso se o encerramento iria estar à altura do imbróglio criado, tanto no argumento como no visual porque Kore-eda consegue trabalhar muito bem o suspense também no uso da iluminação e das cores. Mas ele encerra com uma cena bonita, simbólica e resoluta, fechando assim mais um de seus dramas sobre os resultados da crueldade humana, mas carregado de lirismo.
Nota: 4/5
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