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Foto do escritorDavid Shelter

Crítica | Mundo Estranho

Um universo incrível escondido sob a covardia de um estúdio

Divulgação: Disney Animation


Quando a Disney Animation lança algum filme animado novo, a saturação é quase um dos requisitos obrigatórios que vem junto, você vê anúncios e propagandas para qualquer lado que se virar, em outdoors, em vídeos, em qualquer rede social, na TV, em rádios, etc. Foi assim quando, apesar de não falarmos do Bruno, ele se fez presente mesmo sem ser convidado durante as exibições de 'Encanto' e até muito tempo após o filme sair dos cinemas. Let It Go também está ainda bastante viva mesmo após 10 anos (sim, 'Frozen' completa uma década em 2023, how old you feel?). No entanto, por razões que não são obscuras para olhares atentos, 'Mundo Estranho' estreou nos cinemas silenciosamente. Não se via divulgação em qualquer meio, e a única maneira de descobrir sobre o filme era chegando no cinema e vendo de surpresa que havia exibições dele.


Qual a razão disso, afinal? Bom, apesar de ser especulativo, é também bastante óbvio após assisti-lo e conhecer o histórico do estúdio onde ele nasceu. Ambientando em um mundo muito diferente do que conhecemos, ele nos mostra os Clade, uma família lendária liderada por Searcher Clade, um explorador aventureiro de primeira mão. Dado alguns eventos, Searcher acaba sumindo de cena e vemos o tempo passar, enquanto seu filho Jaeger constitui uma família junto a Meridian, e é então que conhecemos Ethan Clade, um jovem negro e abertamente gay, que toma conta do protagonismo do filme. Com essa última informação já fica mais fácil de conjecturar os motivos para o auto-boicote, certo? Contudo, o estúdio consegue errar ainda mais.


Como dito no parágrafo anterior, somos apresentados a um mundo diferente, e dentro dele há outro, o que dá origem ao título. A Disney sempre foi conhecida por suas fantasias, mas, por alguma razão, ela parece não ter um interesse real em aprofundar seus universos animados de ficção científica. Este é o primeiro depois de algum tempo, mas já tivemos ‘Atlantis’, ‘Planeta do Tesouro’, o mais recente, se não me falha a memória, foi ‘A Família do Futuro’, de 2007. Colocando em comparativo, nenhum desses teve comercialização como outros clássicos, mas, creio eu, que nenhum deles sofreu a falta de amor do estúdio como ‘Mundo Estranho’. Não somente em relação a “vender seu peixe”, mas o filme é fraco de maneira geral.

Divulgação: Disney Animation


Ele tem visuais muito bonitos e a animação 3D de costume, e é aqui que vemos a primeira grande covardia de seus produtores. Em sua introdução ele utiliza traços cartunescos e que combinariam perfeitamente com a história proposta, mas passado esse momento, voltamos para o traço comum que já impera nos filmes animados da empresa do rato há anos. Essa decisão, além de não dar o charme necessário a este filme em questão, também deixa evidente a preguiça em se ter um trabalho mais elaborado, em diversos personagens vemos semelhanças muito fortes com nomes de outros filmes, seja no formato do desenho ou em características como roupas, ou cabelo.


Em relação à trama, ela tem a profundidade de um pires, e sabemos que se o estúdio quisesse, ele entregaria animações que seriam merecedoras de toda atenção. Apesar do carisma de Ethan, não temos um desenvolvimento mais aprofundado dele ou de sua família, o que nos é entregue é uma desavença familiar e um “conflito” entre pai e filho que se resolvem tão facilmente que chega a entediar. Além disso, temos o defeito da própria história, que não traz nenhum problema sério e quando surge algum é resolvido de maneira tão boba que gera desinteresse. A ausência de vilões em obras da Disney já está se mostrando um real problema a algum tempo, pois, nem mesmo um antagonismo foi elaborado com firmeza nesse longa. O máximo de tempo que dura o momento de tensão talvez não chegue a cinco minutos.


É genuinamente triste que o maior estúdio de animações do mundo seja tão covarde e pobre em suas criações, e o mais injusto é que, tivemos outros filmes animados de estúdios menores nos últimos anos que mereciam o alcance que a Disney tem, e isso reflete até em grandes premiações, como vimos em 2022 e aquele Oscar injusto que a família Madrigal recebeu. ‘Mundo Estranho’ até tenta ser original, mas é ofuscado pela falta de coragem e ousadia de seus produtores, seria interessantíssimo esse mundo mais bem trabalhado e amplificado, principalmente em razão do seu protagonista que daria conta do recado. O filme sofre por decisões artísticas mal tomadas e que não estavam ao seu alcance de resolução.


Nota: 2,5/5

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