Longa aborda início da estratificação social símia com muito dinamismo
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Planeta dos Macacos: O Reinado inicia com um salto no tempo após retomar exatamente onde se encerrou Planeta dos Macacos: A Guerra (2017). Muitas sociedades de símios cresceram desde quando César levou seu povo a um oásis, enquanto os humanos foram reduzidos a sobreviver e se esconder nas sombras. Apesar de ter sido o responsável pela segurança da nova geração de primatas evoluídos, muitos não conhecem os feitos de César. E é neste novo cenário que um líder macaco começa a escravizar outros grupos para encontrar tecnologia humana, enquanto um jovem primata que viu seu clã ser capturado, embarca em uma viagem para encontrar a liberdade, sendo uma jovem humana a chave para todos.
A brilhante trilogia mais recente da franquia iniciada em 2011 por Rupert Wyatt e finalizada em 2017 por Matt Reeves mostrou como o planeta humano aos poucos foi sendo dominado pelos macacos. Aqueles filmes tinham suas próprias questões e motivações dentro de um universo completamente diferente do que se conhecia pelo planeta dos macacos em questão. E apenas ao final do terceiro capítulo o espectador tem um vislumbre do que pode começar a parecer o clássico filme dos anos 60.
Não é à toa que O Planeta dos Macacos de 1968 se tornou uma das ficções científicas mais cultuadas do cinema. Além de adaptar com esperteza o romance francês, inserindo ainda mais analogias sociais no subtexto, ele abriu um universo todo novo a ser explorado e desdobrado em incontáveis sequências, o que Hollywood ama. E a influente produção do grandioso Franklin J. Schaffner é o gabarito para a estrutura narrativa do novo filme.
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A produção faz questão de deixar claro que é o início de uma nova saga, ainda que una passado e futuro (tanto para a nossa linha do tempo quanto para a linha do tempo da história, grandezas inversamente proporcionais), e com isso ele bem de várias referências diretas ao original. O início de três personagens desbravando, a perseguição e captura de humanos em meio a um campo de vegetação alta e a ambientação do terceiro ato são apenas os destaques mais claros do que roteiro e direção queriam pinçar do longa estrelado por Charlton Heston. De qualquer forma, dentro do razoável, o filme opera bem de forma independente para quem está chegando agora.
O foco do texto aqui é o como o personagem César se tornou uma figura messiânica para os símios. E como todo profeta que se preze tem suas palavras de harmonia e compaixão distorcidas para virar motivos para matar. Já se tem uma estrutura social bem mais complexa do que se havia visto, e esse novo status quo interfere diretamente na dinâmica de como o filme se apresenta. O diretor Wes Ball procura nunca evidenciar de forma banal essa hierarquia, ele deixa que o espectador descubra devagar, quase que como explorando, as causas e as consequências de cada camada e de cada personagem.
Quanto aos quesitos técnicos visuais é realmente surpreendente como conseguiu-se avançar ainda mais na renderização, na textura e nos aspectos digitais que são o alicerce da produção. É até bem reconfortante haja visto que nos últimos anos os blockbusters tenham entregados resultados cada vez mais cansados e sem personalidade. A fotografia também contribui com o excelente desempenho plástico e consegue desenhar com nitidez e saturação equilibrada até os momentos mais escuros. Destaque também para os jogos de câmera que se divertem usando e testando movimentos e ângulos que parecem nunca ter sido utilizados nos filmes anteriores.
Toda a saga dos Planetas dos Macacos evoca a dialética da conflituosa relação humana com a natureza e como as pessoas lidam com as consequências desse embate, e esse não é diferente. E honestamente enquanto a mensagem for necessária e o meio souber como tratar o assunto – sem se repetir e respeitando o tempo de amadurecimento de uma produção carregada de traços digitais – que venham mais analogias sociais através dos primatas.
Nota: 4/5
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