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  • Foto do escritorGabriella Ferreira

Crítica | Sem Coração

Coming of age que é o retrato do Brasil

Foto: Divulgação


1996, litoral do interior de Alagoas. É dentro desse cenário visual quase paradisíaco e praiano que mergulhamos no longa Sem Coração, lançado no dia 18 de abril em alguns cinemas do Brasil. Destaque no Festival de Veneza, o filme nos apresenta a Tamara, uma jovem que está aproveitando suas últimas semanas na vila pesqueira onde mora, antes de partir para estudar em Brasília. Um dia, ela ouve falar de uma adolescente apelidada de "Sem Coração" por causa de uma cicatriz que tem no peito e, ao longo do verão, Tamara sente uma atração crescente por essa menina misteriosa.


Compartilhando seus dias com um grupo grande de amigos, se dividindo entre longos banhos de mar, festas na casa de sua família e visitas às casas vazias e locais abandonados da região, acompanhamos a descoberta e o desabrochar de jovens com vidas, caminhos e perspectivas muitos diferentes. Enquanto uma está prestes a se mudar para Brasília para focar nos estudos, outra precisa trabalhar para ajudar no sustento da família com a pesca, já outro acaba de sair de um centro de detenção para menores e lida com a rejeição e a violência dos seus parentes mais próximos.


Dirigido por Nara Normande e Tião, Sem Coração se ambienta bem na década de 1990, misturando um sentimento de nostalgia e amargura que a época passa, fundamental para o desenvolvimento da história. A partir de uma premissa emotiva do coming of age que permeia a trama, há também uma fotografia que se complementa com a narrativa contada, seja por meio da utilização dos mais diversos tons de azul e verde, seja também na inserção de elementos cinematográficos mais fantasiosos que a obra insere nesse universo de tranquilidade praiano, abraçando o realismo e o misturando com a fantasia de modo magistral com um roteiro riquíssimo a tiracolo.

Foto: Divulgação


Se a quebra dessa tranquilidade, de certo modo, acontece quando uma baleia encalha na praia (quase) deserta, ela também acontece quando Tamara e Sem Coração começam a interagir e de quando a inocência da adolescência começa a ser perdida de diversos modos. Mérito de um elenco adulto forte e de um elenco jovem muito consciente do que está colocando em cena. As atrizes protagonistas Maya de Vicq e Eduarda Samara exalam juntas uma química que potencializa todos os momentos de interação da dupla, especialmente através da simplicidade dos olhares e do toque. Kaique Brito e Alaylson Emanuel se destacam nas cenas mais dramáticas e densas do filme, em atuações contidas mas que muito dizem sobre suas histórias e sobre os temas que o longa aborda sem precisar escancarar na cara do telespectador.


Ao mesmo tempo em que parece fácil descrever Sem Coração, parece difícil na mesma medida. Acho que o filme funcionou pra mim como uma brisa onde os cheiros nos trazem memórias de uma época que ficou para trás, mas, que também te recordam de momentos como sentir o primeiro amor e a primeira perda na adolescência. É uma troca de experiências, de dores, de alegrias, de descobertas e também de ser ver e de se entender em tela. Com apenas 1h31 de projeção, quando os créditos sobem, você sente aquele aperto no coração que não sabe se é algo bom ou ruim ou talvez os dois ao mesmo tempo. O título pode enganar, mas, é um dos filmes com mais coração (perdoe-me pelo trocadilho) que eu já vi. O coração é imenso, pulsa e nos abraça com todos os sentimentos que a juventude pode ter.

"- e tu vai viver com medo?"

"- ja vivo."


Nota: 5/5

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