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Foto do escritorHosanna Almeida

Crítica | Renfield: Dando Sangue Pelo Chefe

Nesta comédia explosiva, Nicolas Cage é destaque com Drácula satírico e megalomaníaco

Divulgação: Universal Pictures Brasil


Quantas vezes na vida já te empurraram para dentro de um melodrama satírico com um vampiro megalomaníaco, encapsulado por cenas de ação em câmera lenta, explosões sangrentas de troncos e membros humanos e tudo isto como subtexto para abordar co-dependência e relacionamentos tóxicos? Comigo foi a primeira vez.


O primeiro destaque é o Drácula de Nicolas Cage. A dinâmica visual presta tributo aos filmes que constituíram nossa memória sobre os filmes de vampiro ao longo da história. O lendário Drácula de Bela Lugosi está lá, com direito à capa, dentes afiados quase tubaronescos que sugam sangue, caixões como camas confortáveis, e privação à luz do sol (nada de brilho na pele, esqueça Crepúsculo), este Drácula Cageano se insere no panteão mitológico dos vampiros, talvez de modo menos icônico (ou isto quem possa dizer de fato seja o tempo) mas sem deixar de ser marcante. A comicidade do personagem é o que nos atrai à loucura deste antiquado Vampiro que deseja dominar o mundo, como todo bom vilão. Além da caracterização, maquiagem, unhas, capas, transformação em morcego, e toda a indumentária que já é de costume, Nicolas Cage insere seu toque memesco — sim, lembra daqueles memes? — auto conscientemente, eu diria. À essa altura, o ator sabe do seu potencial viralizante, e é sim um bom ator, apesar de alguns pesares que possui em sua carreira. Renfield parece ser um sinal de que ele está confortável em fazer o que deseja e quando deseja, e, que, quando deseja, parece se sair melhor e mais confortavelmente. O equilíbrio necessário entre a soberba e a suposta fragilidade, que logo é desmascarada e vista em sua real forma novamente, os ataques de ira e demonstrações de soberania e poder diante dos meros mortais, insetos, alimentos, ou seja lá o nome que o Drácula nos dê no momento, são assinaturas da versatilidade de Cage. A química com Nicholas Hoult, também.


Nicholas Hoult, que encarna o pobre coitado subalterno do Conde Vampiresco, Robert Montague Renfield (e ele te lembrará disso a todo momento) transformado e condenado à função de faz-tudo há séculos, parece ter sido reservado para os papéis esquisitos e que evocam algum tipo de afeição em Hollywood. Neste, especificamente, ele lembra o querido R, de Meu Namorado é um Zumbi, e a contação do filme também segue o mesmo esquema de voice-off. A diferença é que neste filme ele brilha mais e melhor. Renfield é carismático e em grande parte é pelo acerto no casting do ator. O humor britânico e o sotaque caem bem à rigidez e inadequação do personagem ao tempo atual. A dinâmica em tela com a personagem Rebecca Quincy, de Awkwafina, é fofa e desajeitada, causando bons diálogos e reações no público. Rebecca traz também um plano de fundo dramático que envolve família e vínculos, ponto que aproxima ela e Renfield, mas sem desenvolvimento romântico forçado. Há uma intenção no ar, é notável e previsto, mas este não é o ponto que a trama quer desenvolver. Outras cenas divertidas são com o núcleo dos Dependentes Emocionais Anônimos, lugar onde Renfield descobre que sua ligação com o Conde Drácula é desbalanceada e que o Morcego Sugador de Sangue não passa de um grande narcisista manipulador emocional. Um marcador mental: lembre-se de prestar atenção no líder da reunião, Brandon Scott Jones (Megarromântico, The Good Place) é sempre um ótimo sidekick. Ainda há também um subtema da gangue dos Lobos que se envolve no tema principal: o desejo do Drácula de subjugar o mundo. Renfield é uma trip explosiva que celebra os símbolos atemporais da mitologia e do cinema, garante boas gargalhadas e com certeza fará o público sair com todo o tipo de frase de efeito kitsch sobre amor próprio e autoestima na ponta da língua.


Nota: 3/5


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