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Crítica | A Melhor Mãe do Mundo

  • Foto do escritor: Ávila Oliveira
    Ávila Oliveira
  • 29 de jul.
  • 2 min de leitura

Abordagem romantizada de temas sensíveis faz o drama se equilibrar numa corda bamba de tons.

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Divulgação


A catadora de recicláveis Gal (Shirley Cruz) decide fugir dos abusos do marido Leandro (Seu Jorge) após tentar denunciá-lo e ser ignorada pela polícia. Focada em proteger seus filhos, a mulher abandona a casa e para garantir a inocência deles, Gal os faz acreditar que estão vivendo uma grande aventura.


Existe muita coragem no texto da cineasta Anna Muyleart, escrito em colaboração com Grace Passô e Mariana Jaspe, em dar vida e camadas a assuntos tão sensíveis da forma que é feito em A Melhor Mãe do Mundo. O drama não foge de mostrar problemas estruturais de uma sociedade negra e periférica, mas ao tentar suavizar algumas dessas questões tal qual Gal age em relação aos filhos, o filme balança para encontrar o tom perfeito e perde parte de sua estabilidade. O trabalho quase que documental ganha mais brilho ao inserir atores não profissionais e ambientações reais à sua trama, adicionando um viés orgânico bem construído e bem resolvido em cena. 


É um longa concedido com confiança nas mãos do seu elenco e que usa de poucos outros recursos alegóricos para contar sua história. Shirley Cruz é arrebatadora. Mesmo nos momentos em que a trama passeia entre o romantismo piegas e o melodrama sofrido, a atuação da protagonista serve de âncora para o foco não ser perder. É impossível desviar o olhar da força, da bravura, da verdade e da qualidade do desempenho da atriz.

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Outro ponto que deve se destacar é o brilho com que o elenco infantil soma ao resultado. As crianças do filme entregam atuações espontâneas, cheias de naturalidade, que evitam qualquer artificialismo ou apelo exagerado. Com carisma e desenvoltura, conseguem carregar nuances emocionais densas com uma leveza comovente, o que torna ainda mais palpável a tentativa da mãe de preservar a infância em meio ao caos.


Esse contraste entre a dor que se esconde e a esperança que se encena batalha nem sempre harmonicamente até a conclusão. A resolução do enredo, apesar de apontar para uma saída, não é propriamente um final feliz, mas um final possível, menos infeliz. Essa escolha dá mais uma camada ao filme: a de uma fábula real. Há um encantamento frágil, uma mistura de doçura e desamparo, como uma fantasia construída com pedaços de “realidade”, que ajuda a imprimir um olhar infantil sobre o mundo sem jamais apagar a gravidade do que está por trás, embora que limite a intensidade do drama, pro bem e pro mal.


Nota: 3/5


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