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Crítica | O Brilho do Diamante Secreto

  • Foto do escritor: Caio Augusto
    Caio Augusto
  • 10 de jul.
  • 3 min de leitura

O fetiche pela forma: quando a homenagem ao gênero sufoca a narrativa.

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Divulgação


Existe uma grande questão no cinema contemporâneo de querer emular alguns gêneros ou de até mesmo fazer uma desconstrução de gênero, o que não é uma grande novidade e também não quer dizer que tal exercício seja um demérito. O problema é quando esse exercício se transforma apenas em um excesso de ideias que são postas em suas referências visuais, e O Brilho do Diamante Secreto entra nessa seara ao abraçar o gênero policial mas se perdendo dos excessos do cinema de fetiche visual.


Em seus minutos iniciais, acompanhamos o personagem John D., interpretado por Fábio Testi, um homem que desfruta seus dias na sofisticada Riviera Francesa, hospedado em um hotel à beira-mar. Entre charutos e martínis, observa despreocupadamente o cenário ao redor, até que uma mulher nua, bronzeando-se ao sol, chama sua atenção. O brilho de um diamante em seu seio acende em sua memória um passado esquecido. Subitamente, ele é transportado de volta à juventude: um tempo de missões secretas, perseguições elegantes, mulheres perigosas e vilões enigmáticos.


O filme da dupla belga Hélène Cattet e Bruno Forzani foi exibido na competição da Berlinale 2025 e estreia nos cinemas brasileiros no dia 17 de julho, distribuído pela Pandora Filmes. Eu confesso que não conhecia o trabalho da dupla, portanto é meu primeiro contato com uma obra deles, e é inegável que no filme em questão eles escrevem uma verdadeira carta de amor ao gênero Eurospy, gênero cinematográfico que surgiu e teve seu auge nos anos 1960, inspirado diretamente pelo sucesso estrondoso dos filmes de James Bond. E o filme brinca justamente com as características que marcou esse gênero, como os vilões excêntricos, mulheres sedutoras, e um estilo visual frenético.


Só que como falei no início, o exercício de gênero por si só não se justifica, pois o filme se apresenta como uma experiência essencialmente visual, sem qualquer tensão dramática, conduzido por uma sequência acelerada e ritmada de cenas que prestam homenagem aos clássicos de espionagem das décadas de 1960 e 1970 e aos seus códigos estilísticos. A narrativa fragmentada, que alterna entre realidade e fantasia, presente e passado, acompanha um ritmo implacável e encontra justificativa no próprio tema: a reconstrução das memórias de um espião aposentado e desorientado, cuja glória ficou no passado, mas cujas lembranças ainda o alcançam.


O filme se arrasta tediosamente de uma cena trivial para outra, cada uma copiada de filmes muito melhores. Embora sua maior força esteja claramente em seus close-ups, mesmo esses são tão usados que perdem todo o impacto. Cada foto é tão estilizada que qualquer senso de espaço ou propósito é completamente perdido. Nós nos afogamos completamente nessa cascata interminável de efeitos estilísticos e nesse poço sem fundo de metadelírio, sem cabeça nem cauda.

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De todo modo, ao tentar revisitar o gênero, o filme faz um apontamento interessante ao questionar, mesmo que um pouco implicitamente, o olhar masculino desse subgênero e seu lado potencialmente misógino, que se dá de uma forma interessante ao utilizar da ironia em algumas sequências do filme. Mas são tão raros esses momentos que me fazem desconfiar que há uma timidez misturada com respeito ao gênero, que faz os autores serem um pouco cautelosos e não estarem de fato dispostos a colocar o gênero às avessas, pois talvez nem seja a proposta da obra. E isso fica claro ao percebermos que em nenhum momento o filme busca dialogar com outras abordagens dentro do universo do gênero, limita-se a reproduzi-los em diferentes sequências visuais que não nos leva a lugar algum.


Por sua vez, o enredo é um emaranhado de ideias inacabadas e meta-comentários que tropeça em sua própria ambição, deixando os temas dispersos e desgastados. Há, sem dúvida, uma ousadia admirável no projeto, e momentos pontuais de brilho indicam que uma obra mais consistente poderia ter emergido com uma narrativa mais coesa e um direcionamento mais claro. Em vez disso, o resultado é uma jornada caótica e exaustiva, que impressiona visualmente, mas raramente estabelece uma conexão real com o espectador. No fim, estamos mais perto de ter a resposta se é possível reviver uma estética com uma homenagem que é tão destilada em seus elementos quanto separada do mundo mais amplo que a produziu.


Nota: 2/5


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