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Crítica | Verde-Oliva (Olhar de Cinema 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

Wellington Sari trabalha a farsa e o maneirismo em cima do maneirista-mor, Brian DePalma, para tratar do absurdo político do Brasil dos nossos tempos.

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

Dentre as muitas questões que assombram o cinema, uma das principais é: como se filmar aquilo que já foi filmado milhares de vezes? Uma das possibilidades de resposta se encontra no maneirismo, um estilo cinematográfico que busca o exagero, a distorção e a farsa como forma de reencenar histórias e narrativas já vistas antes. Talvez nenhum diretor encarne tão bem o maneirismo como Brian DePalma, que se reapropriou do cinema de Alfred Hitchcock com filmes hoje tidos como clássicos ou cults, como Irmãs Diabólicas, Trágica Obsessão, Vestida para Matar, Dublê de Corpo e Síndrome de Cain.


Em Verde-Oliva, longa de encerramento do Olhar de Cinema, Wellington Sari transforma Curitiba em palco de uma narrativa maneirista que se apropria da própria linguagem maneirista de Brian DePalma. Tendo como influência mais direta Um Tiro na Noite (bem como A Conversação, de Coppola), o longa segue o diretor e cinegrafista João (Jean Guilherme), o qual é contratado por uma dupla misteriosa, Golbery (Gilda Nomacce) e Ernesto (Felipe Torres), para vigiar e filmar um caso adúltero. Porém, quando ele passa a desconfiar de que um crime foi cometido, se vê em uma espiral de paranoia e absurdos diretamente ligados ao clima político polarizador do Brasil atual.


Admito que quando passaram as primeiras imagens de João trabalhando em filmagens do 8 de janeiro de 2023 para seu filme fictício, tive medo de que Verde-Oliva ia se preocupar em ser mais um filme-denúncia repleto de analogias óbvias e nada sutis sobre a situação política contemporânea, especialmente em uma cidade como Curitiba que se tornou um dos principais palcos da polarização ideológica dos últimos anos. No entanto, ainda que sutileza de fato não seja um ponto do filme, isso não é demérito, pois sua verdadeira força – e que para alguns, menos familiarizados com o maneirismo, tomarão como fraqueza – está em pegar o absurdo do mundo real para casá-lo à sua forma, tomando vários elementos do cinema de DePalma (a obsessão destrutiva dos personagens, a profundidade de campo, a tela dividida, as revelações e atuações tão exageradas que beiram o caricatural e farsesco) para construir sua trama.

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

Pode se argumentar que o filme não tem força para ir além das referências e das homenagens a DePalma, mas vejo ali uma vontade de cinema (de gênero, principalmente) que consegue ir para além da cópia para se configurar como um projeto repleto de paixão e curiosidade. Além do mais, nossa própria realidade parece tão ridícula que não há outra possibilidade de se aproximar dela por meio do absurdo e da farsa. A própria revelação climática, repleta de diálogos exagerados e atuações histriônicas, é tão hilária que, se para alguns pode ser onde o filme se perde – já que ele progressivamente se torna mais amalucado e caricatural – é onde ele mais me ganha. Pena que a sua montagem final penda para um lado mais dramático que força uma revelação que já havíamos constatado, num problema de montagem que está presente em outros momentos (a sequência em slow motion na galeria, por exemplo) e dilui um tanto do impacto visual que Sari constrói no filme, algo também presente no fato de que algumas atuações – a começar pela de Jean Guilherme – parecem destoantes da proposta absurda da obra.


Para quem não está acostumado aos filmes de Brian DePalma, Verde-Oliva pode parecer um filme exagerado e desbalanceado, tão desconectado da realidade que é difícil ou quase impossível se conectar a ele. Mas depois de ter ouvido de um colega catarinense que o filme retrata bem o que é ser uma pessoa de esquerda no Sul brasileiro – a sensação de que você está sim louco em meio a todo o absurdo do meio em que vive –, fica claro que, ao seu próprio modo maneirista, exagerado e imperfeito, Sari construiu uma das obras nacionais mais distintas dos últimos tempos para se falar do Brasil atual.


Nota: 3.5/5


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