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Crítica | Whitetail (TIFF 2025)

  • Foto do escritor: Aianne Amado
    Aianne Amado
  • 11 de set.
  • 3 min de leitura

Beleza visual em uma trama que se perde na própria floresta.

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Divulgação


Dirigido e roteirizado pela cineasta holandesa Nanouk Leopold, Whitetail estreou neste fim de semana no Toronto International Film Festival. Segundo a própria campanha de divulgação, o longa nasceu do desejo da diretora de passar mais tempo em contato com a natureza — o que explica a escolha da bela e enigmática floresta do sul irlandês como cenário central da obra.


A narrativa acompanha Jen (Natasha O’Keeffe, conhecida por Peaky Blinders e Sherlock), uma guarda florestal dedicada à preservação de uma reserva natural. Essa dedicação, porém, parece menos motivada pela causa ambiental em si do que pelas raízes afetivas criadas naquele espaço. Logo na cena de abertura – a melhor mais impactante do filme – acompanhamos as versões adolescentes de Jen e de seu namorado Oscar (Aaron McCusker, de Dexter) explorando a floresta em um passeio romântico e despretensioso, até que um acontecimento traumático marca suas vidas. Um salto abrupto no tempo nos leva à Jen adulta, e, embora esse corte inicial desoriente de primeira, a narrativa se realinha quando descobrimos que Oscar voltou à cidade, forçando a protagonista a encarar memórias mal resolvidas ao mesmo tempo em que tenta investigar uma nova onda de caçadas na reserva.


Leopold adota um ritmo contemplativo, sustentado por longos planos que poderiam facilmente soar enfadonhos, mas aqui se mostram certeiros, dialogando tanto com a melancolia dos personagens quanto com a serenidade da natureza. Certamente alguns fatores ajudam a sustentar esse equilíbrio: a entrega de O’Keeffe ao papel, a mixagem de som que captura com precisão a ambiência da floresta e, sobretudo, a fotografia magistral de Frank van den Eeden (Close), que transforma o cenário em personagem.


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Divulgação


A direção de fotografia, aliás, é o ponto alto de Whitetail. Filmar um drama contemplativo em meio a uma floresta de tamanha imponência poderia facilmente resvalar no imaginário fantástico dos contos de fadas. Para evitar isso, Leopold e Van den Eeden recorrem à dessaturação e ao baixo contraste — não naquele estilo lavado, já quase um clichê de Hollywood, mas sim de forma inventiva, revelando beleza no cotidiano e na aspereza.


No entanto, se visualmente o filme se sustenta, o mesmo não se pode dizer de seus diálogos. É evidente que o roteiro se baseia na máxima “show don’t tell” (reiteradamente escutada por todo estudante de cinema sobre a importância de, no cinema,  mostrar, e não simplesmente contar), mas a escolha acaba levada ao extremo: as conversas soam artificiais, quase tolas, e não conseguem carregar a densidade emocional que todo o resto do filme – plot, atuação, trilha, fotografia, montagem – clamam. A amargura de Jen se perde em inconsistências, tornando a personagem menos complexa do que deveria e enfraquecendo qualquer empatia no espectador, necessária para motivá-lo ao menos a chegar ao final do filme.


A maior falha, contudo, está na tentativa de forçar um thriller dentro de uma trama essencialmente dramática. O mistério das caçadas ilegais na floresta nunca encontra espaço real diante do peso do passado de Jen, resultando em um arco subexplorado e em um desfecho abrupto — tão destoante do ritmo contemplativo do restante do longa que causa a sensação de corte prematuro. Precisei me certificar que, de fato, o filme tinha acabado e não havia um erro na minha exibição.


Whitetail não chega a encantar nem a decepcionar por completo. Ou, talvez, faça as duas coisas ao mesmo tempo, equilibrando a balança e resultando no que há de mais frustrante em um filme: a promessa de um grande potencial que nunca se cumpre. Não me arrependo da experiência, apenas esperava (e sei que o filme poderia me dar) mais.


Nota: 3/5


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