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  • Foto do escritorFilipe Chaves

Crítica | Xógum: A Gloriosa Saga do Japão (Minissérie)

Ciente de sua própria grandiosidade, a produção entra para a história da televisão

Foto: Divulgação


Adaptada do romance de James Clavell, a minissérie é ambientada no Japão de 1600, em meio a uma guerra civil, onde o Senhor Toranaga (Hiroyuki Sanada) luta por sua vida enquanto seus inimigos no Conselho dos Regentes arquitetam contra ele. Quando um navio europeu é encontrado próximo ao vilarejo, seu piloto, o inglês John Blackthorne (Cosmo Jarvis) pode se transformar em uma poderosa arma para Toranaga, mas o rapaz tem sua própria agenda contra o avanço dos jesuítas portugueses no país e não sabe qualquer palavra em japonês. Para isto, Toda Mariko (Anna Sawai), uma nobre católica, é solicitada como tradutora e ajudará nos diálogos com Toranaga, e inevitavelmente criará uma conexão com Blackthorne que pode colocar tudo em risco.


O primeiro episódio já deixa evidente a grandiosidade da minissérie. Enormes cenários, vários figurantes, um espetáculo visual, mas parece que é história demais para um episódio dar conta. O segundo, que foi disponibilizado junto e não à toa, centraliza mais a trama e as peças do jogo, deixando o primeiro ainda melhor. Um fato louvável é que os japoneses falam japonês, o que não é tão comum ainda em produções estadunidenses. Porém, os portugueses falam inglês, enquanto afirmam que estão falando português. Esta foi a questão que mais me incomodou nestes episódios iniciais, porque depois eles só falam inglês mesmo sem mencionar a língua portuguesa. É a maior falha da série, devo dizer.


No entanto, conforme a narrativa se desenvolve e se torna cada vez mais envolvente, eu relevei este ponto. Me lembrou muito os tempos áureos de Game of Thrones, onde intrigas e jogos de poder dominavam a tela. Há batalhas e há violência, muito bem filmadas, principalmente nas lutas corpo a corpo com espadas, brilhantemente coreografadas, hipnotizantes de se assistir. Mas, é nos bastidores dos castelos que o verdadeiro poder de Xógum: A Gloriosa Saga do Japão está. Nas discussões políticas e religiosas, onde tudo se orquestra para um plano maior e mais surpreendente, à medida que os personagens vão sendo extremamente bem desenvolvidos.

Foto: Divulgação


O cuidado que o roteiro tem com seus protagonistas é um dos maiores trunfos da série. A primeira adaptação, uma minissérie de 1980 produzida pelo canal NBC, é muito lembrada pela questão do “white savior”, onde Blackthorne é o protagonista absoluto. Nesta versão do FX, o foco é divido entre três pessoas em mais uma decisão acertada de Rachel Kondo e Justin Marks, os showrunners. Hiroyuki Sanada tem uma imponência enorme como Toranaga sua presença é sentida mesmo quando não está em tela. É uma performance elegante, que exala a segurança de um ator veterano, que sabe o que a cena exige dele, porque é na mentalidade que Toranaga se sobressai, mesmo sendo um exímio guerreiro. Anna Sawai é o maior destaque. Sua atuação contida é quase um grito silencioso e suas expressões faciais carregam toda a dor e a força de Mariko, seja nos seus conflitos com sua fé ou no casamento. Cosmo Jarvis é o elo mais fraco do trio. O ator peca pelo excesso e cai na canastrice, principalmente no começo. Com o passar dos episódios, conforme o personagem se adapta, melhora um pouco e eu me acostumei com o lado bobalhão, meio perdido. O que ajuda ainda mais, é a química de Jarvis e Sawai. O romance proibido, a tensão sexual, tudo contribui para para uma épica história de amor que enriquece ainda mais a trama.


Os coadjuvantes também chamam atenção, como Yabushige, interpretado por Tadanobu Asano, que parece estar adorando cada segundo do personagem. Ele funciona como alívio cômico e é aquele homem que ninguém sabe se deve confiar, é uma ambiguidade divertidíssima, até certo ponto. A jovem Fuji, que sofreu perdas inimagináveis, é dona de um carisma enorme e a performance de Moeka Hoshi faz ser quase impossível não torcer por ela. Outra que deixa qualquer um vidrado quando aparece é Fumi Nikaido com sua Ochiba No Kata, a mãe do herdeiro, que é uma peça chave do enredo e a frieza na sua interpretação chega a assustar. Aliás, é admirável o cuidado que o roteiro tem com as mulheres aqui, em um período restritivo em que elas mal tinham voz, elas florescem na trama.


Em dez episódios, a minissérie é um mergulho na cultura japonesa, o senso de honra e dever faz tudo ser mais crível e funciona dramaticamente dada sua devida importância. É esperado que muitos chamem o final de anticlimático, eu chamarei de ousado e corajoso. Dizem que é fiel ao livro, que eu não li, então não julgo por ai, mas como adaptação se basta. Brinca com nossas expectativas assim como Toranaga joga com as dos seus inimigos e respeita acima de tudo o personagem e sua inteligência, sua visão de enxergar além do básico, do que é esperado, mostra que dever, honra e sacrifício não são apenas palavras. Aqui, elas realmente significam algo e comprovam que a grandiosidade de uma boa produção televisiva vai além do espetáculo visual.


Nota: 5/5

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