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  • Foto do escritorÁvila Oliveira

Crítica | Bebê Rena (Minissérie)

Richard Gadd se desnuda em confissão assustadora e franca sobre perseguição e autoconhecimento

Foto: Divulgação


Baseado em uma impressionante história verídica, Bebê Rena segue o relacionamento distorcido do comediante Donny Dunn (Richard Gadd) com uma perseguidora e o impacto que isso tem sobre ele quando ele é finalmente forçado a enfrentar um profundo trauma enterrado na escuridão.


Richard Gadd é criador, produtor, roteirista e protagonista da minissérie que se inspira em fatos que ocorreram na sua vida e que anteriormente haviam sido adaptados para um monólogo de teatro homônimo. Escolhi começar saudando e exaltando a mente por trás da produção porque não existem muitos trabalhos por aí que tratem com tanta honestidade e crueza tantos assuntos sensíveis e comuns a contemporaneidade. Gadd quer mostrar com as dissecações da sua mente e seu corpo que os desdobramentos da perseguição que sofreu e sua condescendência são resultados intrínsecos à suas condições psicológicas e físicas. E isso é apresentado com detalhes, com minúcia e com uma verdade que chega a ser constrangedora, afinal, vivemos condicionados, para o bem e para o mal, a nunca nos expormos assim sem reservas.


O roteiro nunca tenta posicionar a personagem da stalker, Martha (Jessica Gunning), como vilã ou como mocinha apesar das desastrosas consequências que suas atitudes trazem. Gadd se preocupa em querer que o espectador conheça como ele quis conhecer os motivos dela agir daquela forma e, antes de qualquer outro sentimento, ele se compadece dela quando começa a medir com sua régua moral.

Foto: Divulgação


E esse ensaio da psiquê é onde o programa se desdobra e engole qualquer expectativa do espectador. Ao contar uma história que - alerta de gatilhos ao assistir - passa por abuso sexual, abuso psicológico, abuso de drogas, preconceito e aceitação, a importunação de Martha não chega a perder seu impacto, mas conseguimos entender a falta de, digamos, uma reação imediata pelo protagonista. E a aceitação citada tem vários caminhos que passam pela aceitação (e descoberta) sexual e aceitação (e reconhecimento) profissional, mas que convergem na busca pela validação da própria existência. Desde Bojack Horseman que não assistia a uma série que compacta tantos conteúdos de tratamento complicado com tamanha espontaneidade.


Gadd é indubitavelmente a estrela de sua série, mas é difícil pensar em como seria o resultado sem a força, sem a delicadeza e sem a imponência de Jessica Gunning. A atriz vai se revelando aos poucos e com cuidado vai construindo uma personagem complexa e intrigante. Destaque também para a atuação bastante alinhada e bem-posta da mexicana Nava Mau.


As cineastas Weronika Tofilska e Josephine Bornebusch trabalham em uníssono e se dividem na direção dos 7 episódios que funcionam de forma homogênea e se resolvem bem tanto no panorama geral quanto de forma individual. Elas exploram os mais variados recursos da linguagem para se moldar a cada grande momento, sem perder a unidade.


O final cíclico encerra muito bem a intensa saga dos personagens. É uma série que é contra o preto no branco, contra a dicotomia de problemas pessoais, contra o reducionismo preguiçoso. Gadd tinha um monte de coisa para falar e fala sem pressa, com paciência e de forma genuína.


Nota: 5/5

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