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Entrevista | "Quando um mito se prolonga, ele deixa de ser mito”: Wolney Oliveira fala sobre "Lampião, o Governador do Sertão" e o impacto do cangaço no cinema brasileiro

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • 4 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de jun.

Documentário do diretor cearense estreia nesta quinta (5) e foi tema da entrevista dele com o Oxente Pipoca.

Divulgação


O cangaço é um tema que exerce fascínio há décadas, estando firmemente enraizado no imaginário popular brasileiro. Representações do movimento e dos seus principais expoentes são encontradas nos mais diversos âmbitos culturais, inclusive o cinema, como visto em algumas das obras seminais do audiovisual nacional, como O Cangaceiro (1953) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). Ainda hoje se encontram produções que abordam o tema, como as séries Cangaço Novo (2023) e Maria e o Cangaço (2025), além da vindoura novela Guerreiros do Sol (2025).


O que torna o cangaço tão atraente? O que faz com que Lampião, seu principal nome e figura mais emblemática, atinga uma aura quase mítica não só no Nordeste, mas no país e até mesmo no exterior? São algumas das perguntas que o diretor cearense Wolney Oliveira busca responder em Lampião, o Governador do Sertão. Gestado ao longo de quase 20 anos, o documentário entrevista diversas vozes distintas, desde pesquisadores do cangaço, sobreviventes do movimento, intelectuais como Ariano Suassuna e até os descendentes de Lampião e Maria Bonita, para entender o status lendário que o cangaceiro e seu bando atingiram já em seu tempo e se perpetua até os dias atuais. O filme, que teve sua estreia na 29ª edição do festival É Tudo Verdade, em 2024, chega agora aos cinemas a partir desta quinta (5).


De imediato, o aspecto que mais chama a atenção em Lampião, o Governador do Sertão é a pluralidade das vozes dos personagens entrevistados. A figura de Lampião construída no filme a partir dos relatos e entrevistas é cercada de dubiedades: ora ele é visto como herói, ora como vilão; ora um messias, ora um aproveitador; ou às vezes apenas um homem, com suas virtudes e contradições. Para Wolney, o interesse em trazer essa pluralidade partiu do seu interesse em entregar não respostas concretas, mas da sua atração pelas polêmicas que cercam Lampião e o cangaço há décadas.


Descrevendo-se como um apaixonado pela figura do cangaceiro, ele começou a elaborar o documentário ainda em 2005, mas no ano seguinte conheceu o casal Durvinha e Moreno, últimos sobreviventes do bando de Lampião, e a partir daí passou a acompanhá-los e conhecer suas histórias de vida durante um período de três anos. Porém, isso levou a um problema, segundo ele: "Quando a gente começou a editar, ou contava a história de Lampião ou a deles. Então decidi fazer o filme sobre quem estava vivo, que foi Os Últimos Cangaceiros, que foi o primeiro documentário sobre o cangaço. Você tem mais de 60 filmes de ficção sobre o cangaço, e apenas dois documentários, que são os meus."

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Segundo Wolney, a demora para o lançamento do filme se deu por conta de questões de financiamento, tanto por parte da ANCINE quanto do governo do Ceará. Porém, o longo tempo de gestação e produção do documentário permitiu ao diretor acumular personagens preciosos para as entrevistas, como é o caso do intelectual paraibano Ariano Suassuna. Mesmo falecido há mais de 10 anos, Ariano emerge como uma das figuras mais importantes da obra, especialmente pelo fato de seu pai ter sido governador da Paraíba e combatido o bando de Lampião.


As entrevistas de Wolney o levaram até mesmo a Paris, onde ele pôde entrevistar a crítica francesa Sylvie Pierre, autora da frase que talvez melhor sintetize o impacto da figura de Lampião em nossa cultura: "quando um mito se prolonga, ele deixa de ser mito". Ele pontua que muito do fascíno pela figura do cangaceiro vem das polêmicas em torno dele, conforme apontado pelas visões tão discrepantes apresentadas ao longo do filme. Porém, mais que modernizar o movimento do cangaço ou definir qual a linguagem adotada para se falar sobre ele, Wolney considera que o mais importante ao se falar do movimento "é você contar uma história, emocionar as pessoas, fazer com que elas se ‘arrupiem’. Se não for para causar isso então nem valeu a pena sair de casa."


Por fim, quando questionado sobre quais obras nacionais sobre o cangaço indicaria para o público, Wolney faz diversas recomendações: "Eu gosto muito de Baile Perfumado, do Paulo Caldas e Lírio Ferreiro, um filme modernoso, e O Cangaceiro [dir.: Lima Barreto], um clássico. Gosto, é claro, do meu, Os Últimos Cangaceiros e também Sertânia [dir.: Geraldo Sarno], além de Corisco e Dadá, do Rosemberg Cariry."

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