Com belas cenas de corrida, o filme começa devagar, mas quando engata, não para mais
Foto: divulgação
Faz um bom tempo que não jogo Gran Turismo, mas fiquei curioso pelo filme logo de início porque não sabia o que esperar dele. Então, manter as expectativas baixas foi a chave para me surpreender positivamente com o longa. Eu diria que, pelo menos, a primeira meia hora dele é um tanto arrastada porque na construção da base temos uma sucessão de clichês que não empolgam em nada. É tudo tão previsível que foi impossível não revirar o olho em determinadas cenas. No entanto, depois de um dado momento, o longa toma forma e consegue justificar sua existência. Nem de longe é uma revolução pro gênero, mas consegue ter alma e personalidade.
Baseado na história real de Jann Mardenborough, aqui interpretado por Archie Madekwe, a trama mostra como ele era um hábil jogador de Gran Turismo e conseguiu se tornar um corredor profissional através de uma competição idealizada por Danny Moore (Orlando Bloom), executivo de marketing da Nissan. Moore contrata o engenheiro e ex-corredor Jack Salter (David Harbour) para dar forma ao projeto e treinar os jogadores. Salter e Jann têm uma relação conturbada a princípio, mas pasmem, ele torna-se seu mentor depois.
Madekwe foi uma escalação certeira do elenco, porque ele tem a jovialidade e a ingenuidade que o personagem pede. Aquele fascínio genuíno pelas vitórias é o que faz também a gente torcer por ele. Harbour segue a linha do “treinador durão de bom coração” e mostra que sabe ir além do clichê, dando um grau de complexidade maior ao seu Jack Salter e nos faz pensar que tem um ser humano ali. Assim como Djimon Hounsou, que faz o pai de Jann, e mesmo com uma participação não tão grande, consegue se destacar e emocionar, e Geri Halliwell, aqui como a mãe do protagonista, também não fica atrás. No entanto, quem está uns dois tons acima do que deveria é Orlando Bloom, em uma performance extremamente caricata.
Produzido pela própria PlayStation, é óbvio que é quase uma carta de amor à empresa, mas com a direção do sul-africano Neill Blomkamp (Distrito 9), o longa consegue ir um pouco além. Gosto muito de como usa a tecnologia a seu favor, mesmo que seja um tanto redundante, em cenas como as que Jann ainda está jogando no seu quarto, onde o seu controle em forma de volante, vai se transformando em um carro, por exemplo. Porém, o destaque maior fica para como Blomkamp dirige as impressionantes sequências de corrida, com uma visualização rápida e aérea que desperta sensações intensas com a câmera sempre em movimento. Mas não mais intensa como a fantástica cena do acidente de Jann, que é realmente incrível de se assistir.
Fonte: divulgação
Mesmo que demore um pouco a engatar, quando coloca o pé no acelerador, não para mais. Há filmes que têm como foco a corrida, que são, de fato, melhores, como Rush de Ron Howard ou Ford vs. Ferrari de James Mangold, que possuem narrativas mais complexas, mas como entretenimento “pipocão”, Gran Turismo não fica tão atrás deles. A jornada de superação do herói, que se consagra na famosa corrida de 24 horas de Le Mans é a cereja do bolo, e a cada ultrapassagem, eu vibrava um pouco na cadeira do cinema, confesso. Propositalmente não procurei saber da história real de Mardenborough para que prevalecesse o fator surpresa, então não sei se o filme se atém aos fatos. Não importaria se eu soubesse, porque segue uma linha bem previsível, mas isso não tira seu mérito e de como é possível aproveitar o longa, principalmente para fãs do gênero esportivo, como este que vos fala.
Nota: 3/5
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