Vamos conversar sobre a lista de inscritos brasileiros para o Oscar 2026 de Melhor Filme Internacional?
- Rafael Carvalho

- 25 de ago.
- 9 min de leitura
Atualizado: 27 de ago.
Respondendo diversas dúvidas dos nossos seguidores e dando um panorama da temporada atual

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Todo ano, a Academia Brasileira de Cinema organiza uma comissão responsável por avaliar os filmes inscritos e escolher apenas um título para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional. Essa decisão é estratégica e leva em conta tanto a força artística da obra quanto seu potencial de aceitação junto ao público e à crítica internacional. Neste ano, 16 filmes ficaram aptos a disputar essa vaga.
O cronograma da seleção já está traçado: no dia 8 de setembro será revelada a pré-lista com seis filmes, e, uma semana depois, em 15 de setembro, a comissão anunciará oficialmente o longa que carregará a responsabilidade de representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional.
Uma vez escolhido, o representante entra na corrida ao lado de produções de mais de 80 países, passando a integrar oficialmente o radar da Academia de Hollywood e da temporada de premiações mundial. No entanto, nem todos avançam com o mesmo destaque: primeiro, alguns títulos são pré-selecionados pelos votantes do Oscar, em uma espécie de “Fase 1” que reduz a longa lista de inscritos. Em seguida, a “Fase 2” determina os indicados oficiais do ano, afunilando até os cinco finalistas que disputarão a tão cobiçada estatueta dourada.

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Panorama da lista de inscritos
• O Agente Secreto (Kleber Mendonça Filho)
Marcelo é um especialista em tecnologia que foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz. Ele logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio que procura.
• O Último Azul (Gabriel Mascaro)
Em um Brasil quase distópico, onde o governo transfere idosos compulsoriamente para uma colônia habitacional para “desfrutar” seus últimos anos de vida, Tereza embarca em uma jornada para realizar seu último desejo.
• Homem com H (Esmir Filho)
Desde uma infância reprimida até sua revolução artística, Ney Matogrosso transforma os palcos, e a si próprio, por meio da música, da criatividade e do seu entusiasmo.
• Oeste Outra Vez (Erico Rassi)
Totó e Durval são abandonados pela mesma mulher. Motivados pela dor do abandono, eles iniciam uma intensa guerra entre si.
• Malu (Pedro Freire)
Uma mulher com um passado glorioso se vê presa. A complexa relação com sua mãe conservadora e com sua filha adulta torna a crise ainda mais aguda, em meio a momentos de carinho e alegria entre as três.
• Manas (Marianna Brennand)
Marcielle, uma garota de 13 anos, vive com os pais e três irmãos em uma casa às margens do rio. Ela luta para proteger a si mesma e a irmã mais nova do abuso sexual do pai e da exploração nas balsas.
• Baby (Marcelo Caetano)
Logo após ser liberado de um Centro de Detenção, Wellington se vê à deriva nas ruas. Durante uma visita a um cinema, ele conhece Ronaldo, que lhe ensina novas formas de sobreviver.
• A Praia do Fim do Mundo (Petrus Cariry)
Estrelado por Marcelia Cartaxo, o aclamado filme cearense segue uma jovem que mora em uma casa prestes a ser invadida pelo mar e tenta convencer sua mãe adoentada a se mudar.
• Os Enforcados (Fernando Coimbra)
O casal Regina e Valério se vê envolvido em dívidas e traições herdadas da família de Valério. Uma noite, eles encontram o plano perfeito. Mas são sugados por uma espiral de violência que parece não ter fim.
• Milton Bituca Nascimento (Flávia Moraes)
A turnê de despedida de Milton, uma das maiores lendas vivas da música brasileira. Os últimos shows de Bituca, como é carinhosamente conhecido, e captura a profunda conexão entre o artista e seus fãs.
• A Melhor Mãe Do Mundo (Anna Muylaert)
Para escapar de um relacionamento abusivo, Gal coloca seus dois filhos no carrinho que usa para coletar lixo nas ruas da cidade e foge, convencendo-os de que estão em uma aventura.
• Retrato de Um Certo Oriente (Marcelo Gomes)
Baseado no livro “Relato de um Certo Oriente”, o filme se passa em 1949 e conta a história de Emilie e Emir, dois irmãos católicos que fogem de uma guerra iminente no Líbano.
• O Filho de Mil Homens (Daniel Rezende)
Conta a história um pescador solitário que sente o vazio da ausência de um filho e sonha em ser pai. Em sua busca por relacionamentos verdadeiros e profundos, ele encontra Camilo, um menino órfão, e decide criá-lo, construindo uma família atípica e singular.
• Vitória (Andrucha Waddington e Breno Silveira)
Narra a história real de uma aposentada que desmontou uma quadrilha de traficantes e policiais a partir de filmagens feitas da janela do seu apartamento.
• Kasa Branca (Luciano Vidigal)
Na trama, Dé é um adolescente da periferia da Chatuba, que recebe a notícia de que sua avó está na fase terminal da doença de Alzheimer.
• Um Lobo Entre os Cisnes (Marcos Schechtman e Helena Varvaki)
O filme conta a história de Thiago Soares, um garoto do subúrbio carioca que deixa para trás o hip hop e embarca no mundo do balé clássico.

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Em termos de qualidade, pode-se dizer que esta é uma das listas mais fortes, senão a mais forte, da história dos inscritos brasileiros ao Oscar, com uma grande diversidade de gêneros e formatos. Dito isso, é importante lembrar: qualidade não garante representação. No Oscar, presença e visibilidade em festivais e outras premiações costumam pesar muito mais do que o mérito artístico isolado.
Entre os destaques, temos títulos como Oeste Outra Vez e Os Enforcados, que certamente vão entrar nas listas de melhores do ano de muita gente. Há também Homem com H, um verdadeiro fenômeno de bilheteria e streaming, que conseguiu furar a bolha e alcançar um público imenso. Mas, sem dúvidas, os dois nomes mais fortes da disputa este ano são…

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O caso de O Último Azul
Vencedor de três prêmios na 75ª edição do Festival de Berlim, incluindo o Urso de Prata de Grande Prêmio do Júri, ‘O Último Azul’ já foi selecionado para mais de 40 festivais ao redor do mundo e tem distribuição garantida em 65 países. Estrelado por Denise Weinberg, Rodrigo Santoro, Adanilo, Miriam Socarrás e Rosa Malagueta, o longa foi o grande destaque brasileiro deste início de ano, coroando uma jornada de destaque em festivais até chegar aos cinemas nacionais em 28 de agosto.
Com direção do pernambucano Gabriel Mascaro, ‘O Último Azul’ reúne muitos elementos que poderiam credenciá-lo como o representante brasileiro: uma narrativa envolvente premiada internacionalmente, a presença de Rodrigo Santoro - nome reconhecido mundialmente - e o prestígio de um prêmio de peso como o de Berlim. Em outros anos, isso talvez fosse suficiente para garantir a escolha. Porém, a ausência de distribuição nos Estados Unidos e a confirmação, até agora, de apenas um grande festival de outono (TIFF, na mostra Centrepiece, voltada a cineastas contemporâneos já consolidados) acabam reduzindo suas chances na corrida.

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O caso de O Agente Secreto
Marcando o retorno de Kleber Mendonça Filho à direção de um longa-metragem ficcional, ‘O Agente Secreto’ já pode ser considerado um dos maiores filmes brasileiros desta década. Em termos de relevância e força internacional, a produção se destaca de forma impressionante. Para ser ainda mais direto: em diversos parâmetros, trata-se do segundo maior filme brasileiro recente - ficando atrás apenas do nosso vencedor do Oscar, ‘Ainda Estou Aqui’.
A estreia aconteceu na prestigiada competição oficial do Festival de Cannes, que há anos se consolidou como um dos principais termômetros para o Oscar de Filme Internacional. Lá, ‘O Agente Secreto’ foi o título mais premiado da edição, conquistando quatro troféus: Melhor Direção (Kleber Mendonça Filho), Melhor Ator (Wagner Moura), o Prêmio FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema) e o “Art et Essai”, concedido pela AFCAE (Associação Francesa de Cinema d'Art et d'Essai). Durante o festival, o longa foi adquirido pela distribuidora NEON, reconhecida pelo histórico vencedor de prêmios, garantindo estreia em novembro nos Estados Unidos com uma boa presença em salas - um passo decisivo para aumentar sua visibilidade entre os votantes. Antes disso, o filme ainda circulará por festivais fundamentais na temporada de premiações, incluindo o 50º Festival de Toronto, o Festival de Telluride e o 63º Festival de Cinema de Nova York.
Acredito que todos esses fatores reforçam ‘O Agente Secreto’ como o candidato mais competitivo do Brasil neste ano. A combinação entre prestígio, reconhecimento internacional, estratégia de distribuição e presença em festivais-chave o coloca em uma posição praticamente incontestável. Só um grande choque poderia impedir sua escolha - algo que, vale lembrar, já aconteceu com Kleber Mendonça Filho no passado, quando 'Aquarius' acabou preterido, apesar de sua forte presença internacional e aclamação crítica.

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Respondendo às dúvidas dos seguidores
Quando postamos a lista anunciada pela ABC, alguns seguidores levantaram alguns questionamentos e acredito que aqui é o melhor momento… Com isso, vamos lá:
PERGUNTA: O Brasil pode enviar mais de um filme na categoria de Melhor Filme Internacional? E nas outras categorias?
RESPOSTA: Na categoria de Melhor Filme Internacional, cada país pode inscrever apenas um filme (obrigatoriamente em língua não inglesa) para concorrer. Já nas demais categorias não existe esse processo de inscrição por país: qualquer filme pode ser considerado, desde que cumpra os critérios da Academia. Porém, a disputa costuma ser muito mais difícil, já que a maioria das vagas é dominada por produções norte-americanas.
Ainda assim, há exceções. Um exemplo recente é Anatomia de uma Queda: mesmo não tendo sido o escolhido da França para a categoria de Filme Internacional, o longa teve uma campanha forte em outras frentes e acabou indicado - e vencedor - em categorias principais. Casos assim são possíveis, mas são mais difíceis.
PERGUNTA: Fernanda Montenegro (Vitória) e Denise Weinberg (O Último Azul) só poderiam concorrer ao Oscar de Melhor Atriz se os filmes delas fossem inscritos pelo Brasil em Filme Internacional, ou existe a chance de serem indicadas mesmo que o escolhido seja, por exemplo, ‘Agente Secreto’?
RESPOSTA: Não precisa ser o filme selecionado em Melhor Filme Internacional. Elas poderiam sim ser indicadas, mas é algo quase impossível sem a força de uma campanha específica. Normalmente, os estúdios não investem em atores de filmes estrangeiros que os filmes não estejam na categoria internacional. Casos assim são muito raros - como aconteceu com Anatomia de uma Queda, em que Sandra Hüller foi indicada mesmo sem o longa ter sido o escolhido da França, graças ao forte investimento da distribuidora NEON.
PERGUNTA: Vocês acham que a Globo poderia investir junto com a Sony em uma campanha para a Fernanda Montenegro (por Vitória)? Tenho a impressão de que, apesar dos elogios, esse papel não teria força suficiente sozinho para levá-la ao Oscar.
RESPOSTA: Acho que não. É um caso muito específico, com chances quase nulas. Além disso, a Fernanda dificilmente conseguiria fazer uma campanha agressiva, viajando por meses para divulgar o filme - o que torna tudo ainda mais improvável, infelizmente.
PERGUNTA: E ‘Apocalipse nos Trópicos’?
RESPOSTA: O foco deve ser na categoria de Melhor Documentário - e, nesse caso, não precisa ser o filme inscrito pelo Brasil em Internacional para concorrer. Inclusive, vários sites apostam numa possível indicação. Vamos ficar de olho.
PERGUNTA: Vocês acham que Jesuíta Barbosa (Homem com H) tem chance?
RESPOSTA: Assim como a Fernandona, infelizmente não. Se fosse a atuação de um ator dos Estados Unidos, em uma biopic convencional, provavelmente já estrearia como um dos grandes favoritos. Mas, sendo brasileiro, sem distribuição nos EUA e sem a visibilidade internacional necessária, as chances dele acabam sendo nulas.
PERGUNTA: Documentários podem ser escolhidos? Vi que ‘Milton Bituca Nascimento’ ta na lista.
RESPOSTA: Pode sim! Documentários também podem concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional. Em 2021, o Brasil escolheu ‘Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou’ para representar o país, mas, infelizmente, ele não avançou para a pré-lista de indicados.

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O cenário internacional
Este ano promete ser novamente dominado por filmes que saíram do Festival de Cannes. Só entre os premiados em diferentes mostras do evento francês, já despontam como possíveis inscritos: It Was Just an Accident, Sentimental Value, Sirât, No Other Choice, A Useful Ghost, Left-Handed Girl, Nouvelle Vague, Sound of Falling e, claro, O Agente Secreto. Mais uma vez, a categoria de Filme Internacional no Oscar se mostra a mais interessante da premiação, com uma liberdade narrativa e de gênero muito mais legal que a própria categoria principal.
Vale destacar também a força da NEON neste ano. Só entre os títulos citados acima, cinco deles são distribuídos pela empresa nos Estados Unidos, incluindo o brasileiro. A grande questão é: será que a empresa que venceu o Oscar do ano passado com ‘Anora’ conseguirá dar uma campanha robusta para todos eles? A tarefa parece difícil, mas a expectativa é que o longa protagonizado por Wagner Moura esteja, ao menos, entre os três principais da distribuidora. Esse favoritismo inicial se sustenta nas movimentações estratégicas: presença confirmada em praticamente todos os grandes festivais e, principalmente, o prêmio que Moura receberá no Festival de Zurique, que pode ser apenas o primeiro de uma série de reconhecimentos durante a temporada.

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Minha aposta atual para a categoria de Melhor Filme Internacional é…
Sentimental Value (Noruega)
O Agente Secreto (Brasil)
No Other Choice (Coréia do Sul)
Nouvelle Vague (França) ou Left-Handed Girl (Taiwan) - quem for a prioridade da Netflix
Sound of Falling (Alemanha)
Sim, tenho comentários. Podem perceber que não estou apostando em ‘It Was Just an Accident’. Isso porque não acredito que algum país inscreva o filme - embora eu torça para estar errado, já que quanto mais competição, mais interessante fica a disputa. O longa de Jafar Panahi tem três possibilidades: Irã (quase impossível), França (que não deve optar por ele) e Luxemburgo (a chance mais concreta). É uma situação muito parecida com a de ‘Tudo Que Imaginamos Como Luz’, que mesmo sendo o filme internacional mais aclamado do ano passado, com forte carreira em festivais e prêmios da crítica, acabou não sendo escolhido por nenhum país - inclusive dois desses que também poderiam selecionar o filme de Panahi. Enfim, só o tempo nos dirá. Talvez no meu próximo texto aborde isso novamente.

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Enfim, esse é apenas o primeiro de diversos textos que pretendo elaborar durante essa temporada. A cada nova movimentação, festival ou anúncio de campanha, volto aqui para atualizar o cenário e compartilhar impressões sobre as chances brasileiras e o panorama internacional. O jogo está só começando.
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