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Foto do escritorVinicius Oliveira

Crítica | A Roda do Tempo (2ª temporada)

Atualizado: 13 de out. de 2023

A Roda gira e certos problemas continuam no mesmo lugar

Foto: Divulgação


Lançada em 2021, a série A Roda do Tempo precisou lidar com as expectativas dos fãs da saga em que se baseia (que conta com nada menos do que 14 livros) e daqueles órfãos de obras de fantasia após o fim de Game of Thrones, além das comparações com O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, também produzida pela Amazon Prime Video. Apesar dos tropeços, a temporada inaugural foi um grande sucesso para o streaming, que não apenas a renovou para uma segunda temporada, mas também para uma terceira.


Em seu segundo ano, a série continua a destacar as maquinações e disputas na luta contra as forças das trevas. Mesmo agora sabendo que é o Dragão Renascido, o herói reencarnado que pode salvar ou destruir o mundo, Rand Al’Thor (Josha Stradowski) se nega a assumir esse papel, preferindo ocultar sua verdadeira identidade enquanto vive um caso com a sedutora Selene (Natasha O’Keefe). Enquanto isso, Moiraine Sedai (Rosamund Pike) amarga a perda de seus poderes, o que afeta sua relação com seu guardião al’Lan Mandragoran (Daniel Henney). Já Egwene (Madeleine Madden) e Nynaeve (Zoe Robbins) treinam na Torre Branca para serem futuras Aes Sedai, Mat (Dònal Finn) se vê como um prisioneiro e Perrin (Marcus Rutherford) segue numa busca pela lendária Trombeta de Valere, roubada pelos servos do vilanesco Ishamael (Fares Fares), que o coloca em rota de colisão com a nação estrangeira dos Seanchan, que pretende colonizar o continente.


Como o parágrafo anterior demonstra, há diversas subtramas nessa segunda temporada, e aqui reside o grande problema dela. Se no ano anterior tínhamos os personagens em sua maioria seguindo suas jornadas juntas, aqui estão praticamente todos separados. Isso não é incomum para a fantasia — basta lembrar de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres — mas como é o caso de obras que trazem abundância de subtramas, algumas se destacam mais do que outras e há um esforço hercúleo para costurá-las num todo coeso, o que nem sempre funciona.

Foto: Divulgação


Devo confessar que um dos motivos que me fez ser bastante crítico da primeira temporada foi a atuação do elenco jovem — mais especificamente Stradowski, Madden, Rutherford e Barney Harris, que interpretou Mat na primeira temporada. Nesta nova temporada, é nítida uma evolução para quase todos eles, em especial Madden, que tem talvez o melhor arco individual a partir da reta final dos episódios, culminando numa cena que só posso descrever como catártica para sua personagem. Já Dònal Finn tem a árdua tarefa de cair de paraquedas num elenco já estabelecido, mas ele não apenas supera Harris, como consegue entregar um Mat mais próximo da visão dos livros em suas complexidades, mesmo quando o roteiro da série parece não saber o que fazer com ele.


Infelizmente, não consigo ver ainda Stradowski como à altura do peso que seu Rand traz, ainda que, justiça seja feita, o personagem nunca foi o mais interessante da saga, talvez justamente por não fugir muito ao estereótipo do herói de fantasia. Já Zoe Robbins sempre esteve um pouco acima dos colegas, mas sua Nynaeve é disparada uma das personagens mais maltratadas da temporada, que não sabe o que quer com ela até o final, mesmo com o terceiro episódio lhe proporcionando um arco significativo.


O que fica evidente, mais uma vez, é que o elenco adulto continua a se sobressair, em especial Rosamund Pike e Daniel Henney, cuja dinâmica é abalada nessa temporada, mas continua única. Diria, porém, que os grandes destaques da temporada são: Sophie Okonedo como Siuan Sanche, líder das Aes Sedai e que incorpora toda a autoridade e nuances da personagem mesmo em pouco tempo de tela; Kate Fleetwood como Liandrin Sedai, uma personagem misteriosa e repleta de complexidades em suas intenções; e Natasha O’Keefe, cuja Selene é mais do que aparenta e nos cativa a cada instante que aparece com um misto de carisma, charme e perigo.


É notável também que a temporada consegue corrigir alguns problemas nítidos do primeiro ano, especialmente na parte técnica. Ainda precisamos sofrer com o padrão terrível de algumas sequências de ação noturnas onde é impossível discernir algo (alô GOT, temos visitas), mas é perceptível que os efeitos visuais melhoraram e muito, quando anteriormente foram até motivo de piada pela qualidade risível.


Infelizmente, essas melhorias não mudam o fato de que a temporada tem problemas flagrantes de ritmo, devido a uma montagem que não consegue balancear as múltiplas subtramas. O ritmo arrastado da primeira metade, mesmo com algumas sequências de ação pontuais (como o primeiro ataque dos Seanchan), é quase um convite aos que não puseram muitas esperanças na temporada anterior para largar a série de vez; vemos os personagens remoendo suas dores de maneira tão excessiva que parece que a temporada está andando em círculos.


A partir do quinto episódio, porém, a série dá uma guinada extrema que revela um problema diametralmente oposto: há tanta coisa acontecendo que quase nenhuma delas recebe o desenvolvimento suficiente. É como ver um carro andando a 20 km/h durante tempo demais, até que ele resolve ir para 150 km/h do nada, e por muito pouco não temos um grave acidente. Apesar das convergências pouco orgânicas de todas essas subtramas no último episódio, este consegue se firmar como o melhor da série até o momento, deixando-nos ao menos curiosos para onde ela irá a partir de agora, e se consegue manter o nível desse episódio em questão ou se vai voltar à sua zona de conforto e a um padrão mediano.


Ao fim do seu segundo ano, A Roda do Tempo efetivamente conseguiu se libertar do peso dos livros que adapta para poder contar sua própria história, e não resta dúvidas de que é uma boa diversão para os fãs de fantasia. No entanto, não foi dessa vez que a série conseguiu superar todos os seus problemas e atingir a grandeza do gênero, mesmo que seja possível ver nela a possibilidade de ser algo mais.


Nota: 3/5

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