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Análise | The Last of Us 2x01 (“Future Days”): A normalidade que jamais será normal

  • Foto do escritor: Filipe Chaves
    Filipe Chaves
  • 14 de abr.
  • 4 min de leitura

O primeiro episódio anuncia a tempestade, enquanto acompanhamos a calmaria de uma vida pacata.

Divulgação


(CONTÉM SPOILERS DO EPISÓDIO)


Finalmente estamos de volta depois de dois anos e começamos exatamente de onde paramos na temporada anterior: Joel e Ellie chegando em Jackson, enquanto ele mente para ela sobre o que ocorreu no hospital e ela finge que acredita – ou prefere acreditar, já que ele é a única pessoa que ela tem. A sequência corta diretamente para Salt Lake City, com um grupo de sobreviventes dos Vagalumes em um cemitério onde estão enterrados os corpos da chacina feita por Joel. São cinco pessoas, mas uma moça chamada Abby se destaca. Com um olhar furioso e marejado, ela jura que encontrará Joel e o matará lentamente. Kaitlyn Dever está fantástica na pele de Abby e o ódio pulsa através dela. Cold opening sensacional que já nos coloca no que imagino que serão os temas da temporada: vingança e consequências. 


A série avança cinco anos e agora estamos em Jackson, onde a vida parece absolutamente normal, exceto por uma coisa: a convivência de Ellie e Joel está bastante estremecida e nós só podemos imaginar o porquê – ela teve a confirmação que nem ela queria ter. A relação dos dois é núcleo principal da produção e o episódio investe nisso enquanto somos introduzidos a vida em Jackson – extraordinário trabalho com os cenários, aliás –, como a cidade funciona, aos novos personagens e as dinâmicas entre eles. Isabela Merced é Dina, uma moça absolutamente carismática que é a namorada “vai-e-volta” de Jesse, feito por Young Mazino. Os dois são amigos de Ellie, que por sua vez é secretamente – não tão secretamente assim, vai – apaixonada por Dina. As duas funcionam muito bem juntas e têm uma química quase palpável. Há uma leveza genuína de duas adolescentes de 19 anos que muito me agrada e durante a patrulha isso permanece. Elas já estão habituadas aquilo e quando acham um infectado para matar, parece que ganharam na loteria. Até que surge uma nova variante em uma das melhores sequências do episódio e que manteve a tensão no alto. Ellie não sabe ainda como lidar com esta nova espécie – ainda que haja uma confiança a mais nela por ser imune –, que se esconde e planeja o momento ideal para o ataque. São os chamados espreitadores, que são mais espertos, mas morrem com mais facilidades que os estaladores, por exemplo.


Enquanto isso, Joel tenta entender através de terapia o porquê do distanciamento de Ellie. É uma ótima cena em que Pedro Pascal brilha ao lado de Catherine O’Hara, a psicoterapeuta alcóolatra Gail. Os dois parecem estar em uma disputa de quem atua mais e eu digo que deu empate. Absolutamente irretocáveis. Os diálogos querem expor os conflitos internos de Joel e o peso das suas escolhas, mas ele ainda se nega – obviamente – a falar a verdade completa. Diz apenas que salvou Ellie, só esquece de mencionar que condenou o resto do mundo de novo enquanto fazia isso. Não havia certeza de que o sacrifício de Ellie seria eficaz, mas era a única esperança e ela não teve escolha alguma nisso, até porque sabíamos o que ela faria. Joel foi egoísta sim, mas quem não seria diante daquela situação? Ao mesmo tempo que é compreensível que Ellie fique tão chateada com isso e é esta complexidade que me comove. Bella Ramsey comprova mais uma vez que é a escolha certa para a personagem e tira de letra a dualidade do peso de uma mágoa e a leveza que ela tem com Dina ou até Tommy.

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O que nos leva à cena da festa, onde Dina e Ellie dançam e acabam se beijando. Quando um homem é homofóbico com as duas, Joel intervém empurrando o sujeito. Ellie se sente envergonhada em ter mais uma proteção que ela não pediu e o constrange de volta, gritando que não precisa que ele faça aquilo. É duro ver uma relação que foi construída de uma forma tão bonita na 1ª temporada estar assim, mas são consequências dos atos de Joel e sabemos que a raiva de Ellie é muito mais do que uma simples birra de adolescente. O episódio não deixa claro se já houve um confronto sobre o assunto entre os dois, mas a verdade Ellie já sabe. Gosto muito como Craig Mazin escreve e dirige o episódio com intimidade, com sensibilidade para o que é humano e nossas emoções, sejam elas mais primitivas como no caso de Joel ou Abby, ou instintivas como no caso de Ellie. Ele conhece a fundo aqueles personagens e trabalhar essas nuances é essencial para que The Last of Us seja muito mais um drama do que somente mais uma “história de zumbi”. 


É claro que eles existem e estão à espreita – com o perdão do trocadilho –, mas é importante que o drama leve à ação e não somente o contrário. Quando há um bom desenvolvimento, o impacto é muito maior e sabemos que há uma horda a caminho graças às gavinhas que se comunicam com os infectados e está os atraindo para Jackson. E como se desgraça pouca fosse bobagem, o episódio termina com o grupo de Abby achando a comunidade depois de cinco anos. A normalidade que eles viviam de ir à terapia, ir a festas e se divertir em patrulhas acaba aqui. É um episódio que nos introduz a uma forma de vida e já vai nos tirar dela, porque nenhuma das ameaças vindouras tem boas intenções e os dias futuros não parecem nem um pouco ensolarados. Continua sendo uma bela adaptação – sim, também sou fã dos jogos – feita por quem ama e entende aquele universo.


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