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Crítica | The White Lotus (3ª temporada)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • 7 de abr.
  • 4 min de leitura

Mesmo em sua temporada mais fraca, a sátira antológica da HBO segue como uma das melhores produções televisivas da atualidade.

Divulgação


Desde que sua primeira temporada estreou em 2021, The White Lotus galgou sua caminhada rumo ao panteão de séries mais notáveis da televisão contemporânea – um feito notável, considerando a vasta oferta de séries advindas dos streamings e a falta de tempo e ânimo para se ver todas. Longe de ser “só” mais uma sátira contra os ultra ricos, a série criada e dirigida por Mike White conseguiu cativar o público e as premiações com sua mistura inteligente de comédia, drama, suspense e crítica social ácida, levando-nos pelo mundo conforme deixou de ser uma minissérie para se tornar uma antologia nas mãos da HBO.


Dessa vez somos levados à Tailândia, onde um grupo de novos e velhos personagens nos aguarda. Dentre os recém-chegados estão a família Ratcliff – formada pelo patriarca Timothy (Jason Isaacs), sua esposa Victoria (Parker Posey) e os filhos Saxon (Patrick Schwarzenegger), Piper (Sarah Catherine Hook) e Lochlan (Sam Nivola); o trio de amigas Jaclyn (Michelle Monaghan), Kate (Leslie Bibb) e Laurie (Carrie Coon); o casal formado pelo misterioso Rick (Walton Goggins) e a jovem Chelsea (Aimee Lou Wood); e o segurança Gaitok (Tayme Thapthimthong) e seu interesse amoroso, Mook (Lalisa Manobal), representando o lado dos funcionários do hotel. Das outras temporadas retornam Belinda (Natasha Rotwell) e Greg/Gary (Jon Gries), que se convergem em decorrência da morte de Tanya (Jennifer Coolidge) na temporada anterior.


Só pelo parágrafo anterior é possível perceber não só o quão ainda mais estelar é esse elenco em relação às temporadas anteriores, mas que há muito mais núcleos a serem trabalhados nesse novo ano. O número maior de episódios (oito) é um atestado disso, embora transcorram durante uma semana tal qual na primeira e segunda temporada. Com isso, pode se sentir uma ligeira sensação de fadiga por conta do ritmo lento destes episódios, embora para quem acompanhe a série desde o início, tal ritmo não seja nenhuma novidade. The White Lotus sempre foi uma série de queima lenta, interessada em analisar a psique dos personagens; se no primeiro ano isso era feito através do conflito de classes e no segundo através do sexo, aqui é feito por intermédio da religião, conforme vemos personagens como Piper ou Frank (Sam Rockwell), amigo de Rick, usando e abusando do seu privilégio branco para se apropriar dos conceitos basilares do budismo. Tudo isso é feito através de simbolismos inteligentíssimos por parte de White, que abrem espaço para diferentes interpretações a respeito das motivações e destinos destes personagens.


No entanto, é notório que com um maior número de núcleos em tela, nem todos recebem o mesmo tratamento e refinamento, gerando assim uma temporada nitidamente mais desequilibrada que as anteriores. De longe, o arco mais completo e bem-resolvido é o das três amigas, com Monaghan, Bibb e (sobretudo) Coon transmitindo com exatidão as nuances e tensões que podem haver na amizade de três mulheres adultas que se conhecem bem demais. A dinâmica de Rick e Chelsea, se no início parece tóxica devida à diferença de idade dos dois, logo se mostra a mais genuína, mesmo quando os dois passam quase metade da temporada afastados devido às motivações de vingança de Rick que o levam até Bangkok.

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Por outro lado, os Ratcliff talvez sejam a epítome das irregularidades que acometem a temporada: de um lado a Victoria de Parker Posey já se converteu numa das personagens mais icônicas da série e o Saxon de Patrick Schwarzenegger é uma das figuras mais interessantes e nuançadas, mesmo quando ele está em seu estado mais desprezível de “macho alfa”. Por outro, é decepcionante ver um ator do porte como Jason Isaacs ser subutilizado, com suas cenas sendo tão semelhantes entre si (ele preocupado; ele com a arma; ele cogitando matar a família por causa de suas perdas financeiras) que em determinado momento pensei ver a mesma cena de ângulos diferentes.


E, se nas temporadas passadas os núcleos de funcionários sempre nos engajavam, o mesmo não pode ser dito aqui: Tayme Thapthimthong tem em mãos um personagem apático e desinteressante – embora tenha um final poético e cínico condizente com o tom da série –, e Lalisa, bom... parece que a única justificativa razoável para sua escalação é sua fama como integrante do grupo de k-pop Blackpink, pois sua personagem é de longe a mais inútil da série inteira. Quanto ao núcleo de Belinda e Greg, embora funcionem em grande parte separados, há aqui uma ideia cíclica que, se não é exatamente bem desenvolvida no decorrer da temporada, ganha um desfecho surpreendente e mordaz, que ilustra a crítica da série ao capitalismo no seu modo mais ganancioso.


A despeito das fragilidades que possui, a terceira temporada de The White Lotus não tira o mérito conquistado pela série até aqui, mantendo seu alto nível. Ainda é capaz de nos arrancar boas risadas (não vamos esquecer o monólogo de Frank no quinto episódio ou o sotaque da Carolina do Norte de Victoria tão cedo) e também de nos emocionar e angustiar à medida que o cerco se fecha com as inevitáveis mortes que devem acontecer a cada temporada. Contanto que aprenda a não pecar pelo excesso e não caia num ciclo vicioso quanto ao que pretende satirizar, espero ver muitas temporadas de ricos desmiolados e suas mortes trágicas nesses resorts paradisíacos ao redor do mundo.


Nota: 4/5

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