Como ‘O Agente Secreto’ marca um retorno pessoal de Wagner Moura ao cinema brasileiro
- Vinicius Oliveira
- 12 de mai.
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Quarto longa de ficção de Kleber Mendonça Filho concorre à Palma de Ouro em Cannes e marca a primeira colaboração do diretor com o ator baiano.

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Já se passaram mais de 10 anos desde a última vez em que Wagner Moura estreou um filme nacional: Praia do Futuro, do cearense Karim Ainouz, figurinha carimbada no Festival de Cannes. Parece apropriado, portanto, que Wagner retorne ao cinema brasileiro com o filme de outro diretor nordestino que está sempre presente no festival. Dirigido por Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto concorrerá à Palma de Ouro, a premiação máxima do festival, e acompanha Marcelo (Moura), um acadêmico escondido em Recife em meio à ditadura militar, em 1977, e que se vê involuntariamente em fuga enquanto embarca em um projeto pessoal para recuperar registros enterrados. O longa marca a primeira colaboração entre o diretor pernambucano e o ator baiano.
Para Moura, seu retorno ao cinema de seu país se revela profundamente pessoal, após anos de extrema-direita no poder enquanto sua trajetória se consolidava no exterior, estrelando séries como Narcos e Shining Girls e filmes como Guerra Civil. Em entrevista à Vanity Fair, o ator destaca como é bom poder voltar para casa após anos se preocupando se ainda haveria espaço para ele no audiovisual nacional. “Eu estava começando a me preocupar com essa diferença geracional: eu conheço os jovens cineastas brasileiros que estão fazendo essas coisas? Eles estão interessados em trabalhar comigo? Eu passei por tudo isso”, disse ele.
O ator afirma ser impossível descrever a importância de se reconectar com a língua portuguesa em um filme que considera ser tão brasileiro: “Javier Bardem disse algo uma vez que eu realmente adoro: Ele trabalha em inglês como se houvesse um grande escritório em seu cérebro, cheio de coisas acontecendo, e quando ele trabalha em espanhol, o escritório está vazio. É uma ótima metáfora. Eu não falava inglês quando era criança; tive que aprender isso. Mesmo quando trabalho em espanhol, é diferente, sabe? Português é minha língua materna. É a cultura também. Este filme, especificamente, foi tudo ao mesmo tempo. Fiquei muito feliz”.
Moura também discute a ambientação de O Agente Secreto, que, como Ainda Estou Aqui, tem na ditadura militar brasileira um ponto focal da sua trama. Segundo ele, o filme é sobre como os valores de um governo podem moldar a mente das pessoas em geral, e sobre como aqueles que não estão em conformidade com essa ideia realmente pagam um preço. O ator enxerga nisso um reflexo do próprio Kleber Mendonça Filho, cujos longas de ficção anteriores, Aquarius e Bacurau, foram preteridos pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil no Oscar apesar da aclamação crítica, devido aos protestos do diretor e seu elenco contra os governos Temer e Bolsonaro.

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Por fim, em relação ao processo criativo com Mendonça Filho, o ator afirma que quando o diretor escreveu seu personagem pensando especificamente nele, pensou em algo que ainda não tinha visto Moura fazer. “O desafio para mim foi entender o que o Kleber queria fazer com ele, entender o que ele pensou quando me escalou — que isso também era um reflexo de quem ele é. Ele tem uma compreensão muito precisa do que quer, do tipo de atuação que deseja. Kleber faz você mergulhar no universo que ele está criando, faz você entender o que ele está fazendo, o que ele quer, e então você simplesmente faz. (...) Todos nós ficamos imersos no universo dele”, diz.
A estreia oficial de O Agente Secreto ocorre neste domingo (18) em Cannes.