Crítica | A Longa Marcha: Caminhe ou Morra
- Ávila Oliveira

- 17 de set.
- 2 min de leitura
A caminhada pela estrada da vida tem boas reflexões, mas carece de ação para segurar o ritmo.

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A Longa Marcha: Caminhe ou Morra se passa num futuro distópico em que os Estados Unidos vive sob um regime autoritário, e em que uma competição mortal recruta todo ano um grupo de cinquenta jovens meninos para o que eles chamam de A Longa Marcha. Um dos escolhidos deste ano é o adolescente Ray Garraty (Cooper Hoffman) e a regra é clara: se mantenha caminhando, sem parar para não ser baleado enquanto essa prova brutal de resistência é transmitida para milhares de espectadores ao redor do país. É preciso andar e andar até o último sobrevivente permanecer de pé. O prêmio é ser concedido um único desejo pelo resto da vida, mas será preciso lutar para sobreviver aos obstáculos e à exaustão.
Baseado num romance de Stephen King, o longa-metragem já inicia com a difícil missão de dar vida a uma narrativa que, embora sempre em constante movimento físico, tem uma proposta evolutiva, em parte, estática, afinal, é literalmente jovens caminhando, conversando e morrendo o filme todo. E, piadocas à parte, é por isso que inevitavelmente ele acaba cansando.
O texto se sustenta em cima dos diálogos dos personagens, pelos quais conhecemos suas personalidades e um pouco do contexto em que aquele universo se passa. Inclusive o roteiro não se preocupa em dar muitos detalhes sobre as causas e as consequências dessa maratona mortal, o que, numa camada mais superficial, não interfere no entendimento da história, mas num âmbito mais aprofundado levanta várias questões sobre a lógica e também a logística do evento. De toda forma, as falas e o trabalho do elenco ajudam a tocar o enterro pra frente, mas não são o suficiente para segurar o ritmo e a frequência de momentos. De forma literal, algumas explicações ajudariam a dar mais embasamento à credibilidade da marcha, de forma metafórica é fácil compreender que a peregrinação funciona como rito de amadurecimento ou como resumo compacto de um monimito de resistência.

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Deixando de lado os excessos gráficos de violência e o tom mais agressivo, o longa em muito se assemelha às produções aventurescas hollywoodianas das décadas de 70 e 80, onde jovens passavam por perrengues motivados pelas mais inimagináveis aleatoriedades e ao final descobriam uma preciosa lição de vida e amizade. Esteticamente falando também, o filme parece se inserir num período entre essas duas décadas, o figurino, a ambientação e o design de objetos na direção de arte ajudam a criar essa atmosfera delimitante de tempo e espaço e servem para desenhar um pouco das circunstâncias. O elenco de rapazes conduzidos com vivacidade por Cooper Hoffman e David Jonsson funciona muito bem dentro da estrutura do enredo e consegue se apresentar com precisão sem disputar espaço de tela.
O resultado, no entanto, carece de ação propriamente dita, de pontos de inflexão que marquem a diegese como pausas de respiro mesmo, afinal a exaustão dos personagens não precisava estar impressa na cadência do filme como aventura.
Nota: 3/5





