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Crítica | Andor (2ª temporada)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura

O magistral (e precoce) encerramento da melhor obra audiovisual já feita no universo de Star Wars.

Divulgação


Quando Rogue One foi lançado em 2016, havia uma desconfiança em torno do filme, visto ser o primeiro fora da narrativa da saga principal de Star Wars. Essas desconfianças foram rapidamente vencidas, de modo que (sem muito esforço) ele se firmou como o melhor longa da franquia desde que essa passou para as mãos da Disney. Mesmo assim, era natural que uma certa incredulidade envolvesse seu spin-off, Andor, mas em sua primeira temporada Tony Gilroy mostrou que sua visão única para este universo estava muito bem fundamentada, distinguindo-se de praticamente tudo que tínhamos visto até então na franquia, sem deixar de ser inegavelmente Star Wars. Saíam os jedis, siths, a Força e batalhas épicas para se focar nas maquinações políticas, nas nuances e na engenharia da máquina fascista do Império e sobretudo no desenvolvimento de seus personagens.


Na segunda e derradeira temporada de Andor, esse foco continua presente, talvez ainda mais intensificado. Cobrindo os quatro anos que separavam a primeira temporada dos eventos de Rogue One e Uma Nova Esperança, essa temporada tinha uma missão árdua, visto que o plano original de Gilroy era que esses quatro anos fossem cobertos em quatro temporadas. Ao desistir de fazer essas temporadas restantes, adotando uma estrutura de três episódios para cobrir cada ano, os riscos da série se perder em sua densidade e num ritmo mais atropelado eram grandes. Que bom ver, portanto, que mais uma vez essas desconfianças foram vencidas.


A julgar pelos três primeiros episódios, nem parece que a proposta da temporada é tão ambiciosa assim. Somos levados a um ano depois dos eventos finais da temporada passada, com Cassian Andor (Diego Luna) mais estabelecido dentro da Rebelião e dos planos do misterioso Luthen Rael (Stellan Skarsgard). O ritmo é lento, as costuras entre as tramas não são tão evidentes e o espectador precisa de um tempo para se acostumar àquilo que vemos (e não vemos) em tela. Eventos e ações offscreen se tornam uma norma da temporada conforme saltamos de ano em ano, arco em arco, até chegarmos nos instantes que precedem imediatamente aquilo que assistimos em Rogue One.


É bem verdade que, ao comprimir um plano de quatro temporadas em uma, algumas coisas acabam recebendo menos desenvolvimento do que inicialmente se planejou, como é o caso de Yavin IV, que é sugerida no segundo episódio e então volta plenamente estabelecida no sétimo. Mas é um ponto a favor de Gilroy e sua equipe que eles não subestimam a inteligência do público: apesar do nosso desejo por mais, a série confia em nossa capacidade de preencher as lacunas deixadas entre cada arco, mantendo-se fiel à sua proposta, ritmo e atmosfera. Nada de diálogos expositivos para tapar os buracos decorrentes dos saltos temporais, ou de um ritmo frenético que dê conta de um começo mais lento. Seria fácil demais.

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Ajuda muito que Gilroy construa um arco que perpassa boa parte dos episódios e se configura como o mais perto que temos de uma narrativa central da temporada. O showrunner pega a ocupação no planeta Ghorman para usar a estrutura deste segundo ano ao seu favor, de modo que, a cada salto temporal, vemos a intensificação dessa ocupação e das maquinações imperiais. De um plano proposto pelo Imperador Palpatine e executado principalmente pela principal antagonista da série, Deedra Meelo (Denise Gough), vemos a manipulação feita sobre os rebeldes locais – cuja linguagem, vestuário e ações remetem à Resistência Francesa e aos países do leste europeu na II Guerra – até culminar na dominação e opressão completa no oitavo episódio.


Esse oitavo episódio, aliás, merece um parágrafo à parte, porque não é só o melhor de toda a Andor, como de qualquer série já feita no universo de Star Wars. Que Gilroy tenha conseguido fazê-lo sob o controle da Disney é um feito e tanto, porque é impossível assistir esse episódio e não pensar no genocídio perpetrado em Gaza pelas mãos de Israel; ainda que tenhamos esse terrível evento atual correspondendo à ficção, é fácil pensar em diversos outros exemplos que ilustram o modus operandi característico do fascismo. Junto ao discurso pungente de Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) no episódio seguinte, tem-se dois dos mais nítidos exemplos que ilustram a capacidade de assombrosa da série de ler a política do nosso mundo e aplicá-la ao universo ficcional mais famoso de todos, sem parecer proselitista ou raso.


Há muito mais pelo que se elogiar Andor, como o elenco extremamente talentoso da série, com o destaque a nomes como Kyle Soller, Elisabeth Dulau, Adria Arjona e mesmo coadjuvantes como Kathryn Hunter, Robert Emms, Bem Mendehlson e Alan Tudyk (estes dois últimos voltando de Rogue One), além dos nomes já citados acima. Ou a sensibilidade e riqueza com a qual a série constrói culturas tão distintas e autênticas nessa galáxia tão, tão distante (muitas das quais nunca vimos e provavelmente nunca veremos novamente). Ou os seus valores de produção que excedem e muito os padrões que a Disney trouxe para as outras séries do universo, indicando um orçamento que realmente é visto em tela, e não como uma mera lavagem de dinheiro.


Mas o que importa, no fim das contas, é que Andor vai deixar saudade. Poderia ver muito mais temporadas de uma história tão bem pensada e executada, única em tantas maneiras que dificilmente se verá algo nesse nível dentro da franquia. Mas nessas duas temporadas a série sempre apresentou uma maturidade notável, que jamais foi encontrada em nenhuma outra obra de Star Wars. Longe de cair em uma ideia de “realismo” para se validar, mas apostando em elementos reconhecíveis nesse universo e na sua mitologia como bases para criar algo verdadeiramente distinto e notável, Andor conseguiu se elevar para muito além da visão que George Lucas, a Disney ou qualquer outro já teve para se configurar – e digo isso sem medo de estar exagerando – como a melhor obra audiovisual já produzida na história da saga.


Nota: 5/5

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