Animação é simpática, mas bagunçada e sem foco
Foto: Divulgação
Vini (Rodrigo Santoro) e Tom (Marcelo Adnet) são dois ratos boémios inspirados em Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Depois de, acidentalmente, testemunharem o momento em que Deus confia a Noé a tarefa de acolher apenas um casal de macho e fêmea de cada espécie para a sua arca, os dois amigos encontram uma maneira de embarcar juntos nesta aventura.
Acho que a primeira questão a ser levada em conta é como o filme dos diretores Sérgio Machado e Alois Di Leo consegue se dissociar da categoria “filme crente” sem evitar a narrativa bíblica e consegue usar das composições de Vinicius de Moraes sem aparentar serem emprestadas ao filme. Essa articulação consegue criar um espaço comum para que o roteiro aconteça sem precisar diretamente das duas vertentes, mas usando delas sempre que possível para referências, piadas e trocadilhos, alguns engraçados e espertos e outros já bem datados.
O grande problema de Arca de Noé é o excesso, tanto no enredo quanto na plástica. O caos de incontáveis animais de espécies diferentes confinados num mesmo ambiente é justificável desde antes de Cristo, mas a maneira com que o filme escolhe inserir personagens secundários em excesso cheios de falas causando todo tipo de confusão deixa a fluidez do filme desgastada logo cedo – pelo menos para este senhor de 31 anos. É muito barulho, muita voz, muita cor, muita textura a ponto de, por vezes, parecer que afeta até mesmo a destreza no traço dos desenhos.
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A qualidade técnica do desenho dos personagens e da renderização não deixa em nada a desejar em relação ao crescente e diverso mercado internacional de animação, mas faltou ao longa uma coerência visual nas ambientações. Mesmo se passando quase toda na arca, os cenários carecem de uma rápida identificação e de um padrão mesmo com mais abstrações, menos detalhes. Uma utilização mais purista da gestalt talvez harmonizasse com o excesso de personagens e objetos que por si já gera bastante informação visual.
E esse excesso de personagens é também um obstáculo para o arco central do filme que em alguns momentos parece ser esquecido em detrimento de outras situações que em nada acrescentam ao cenário geral.
É uma animação simpática e cheia de mensagens positivas e progressistas, algumas camufladas num texto mais sagaz e outras bem escancaradas em metáforas simplistas do reino animal. Os trabalhos de dublagem de todo o elenco são bem afiados, inclusive esse é um dos benefícios do caos: sacar algumas piadas que aqui e acolá saem, num tom mais baixo, da voz de um coadjuvante. E mesmo que não seja a animação perfeita, o resultado consegue ser acima da média e pode agradar mais a geração infantil atual moldada por hiper estímulos.
Nota: 3/5
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